Interessante como as aparências, às vezes, podiam ser piores e
causar mais danos que o conteúdo, pensa o velho, observando à fumaça
acinzentada de seu palheiro. Esse era o dilema que atingia seu país e seu povo
no recente novo episódio do mensalão. A esse ancião de pouco estudo, era fácil
acreditar que a ilustre corte de magistrados tenha as razões técnicas para
decidir como decidiu. Era o certo aos olhos da lei. Aos olhos do povo, no entanto,
parecia mais um achaque aos anseios da nação pela punição de políticos corruptos.
Seu povo, que há poucos meses mostrou claramente seu
descrédito com os poderes Executivo e Legislativo, sente-se agora,
perigosamente traído pelo Judiciário também. A passionalidade do povo é leiga,
reflete o velho, pode não ter razão técnica em sua revolta, mas tem motivos
suficientes para enxergar o que vê. E o que o leigo vê, parece mais uma
conivência de um dos poderes com a imoralidade e a impunidade, como uma
infringência ardilosa contra a decência e a moralidade do país. Pior que
qualquer golpe de Estado é o golpe sutil e continuado na credibilidade de suas
instituições. Temerário golpe, suspira o idoso. Uma nação órfã de
representatividade é um terreno fértil à anarquia e ao autoritarismo. Tomara,
não tenhamos de passar por isso novamente nesse país, pensa o velho preocupado.
Tomara a politicamente renovada corte de ilustres magistrados do STF não desfira,
nos próximos capítulos desse controverso enredo, mais um duro golpe na
confiança de seu povo na Justiça. De golpe em golpe, desmorona lentamente a tão
sonhada democracia. Quem sabe, reflete o ancião, o que parece talvez não o
seja, e tudo não passe de reminiscências de um idoso senil. Quem sabe? Os digníssimos Ministros do STF,
com suas consciências e convicções técnicas, com certeza o sabem. Nos resta
confiar e acreditar em quem o sabe, conclui o idoso apagando seu palheiro.
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