sábado, 28 de julho de 2012

As conjecturas reais


Poliana se deleitava com as trapalhadas de Oposição. Corria a boca pequena dos fiéis seguidores reais que Oposição se digladiava para fugir do jogo. Ninguém queria enfrentar a dinâmica e destemida rainha. Poliana, com certa modéstia, entendia a situação lastimável do time adversário. Afinal, era público e notório que o reino adquirira outra cara com a magnânima Poliana. Ninguém, ficha limpa ou não, seria páreo para a invejada rainha. Poliana não entendia bem a preocupação de alguns com essas picuinhas éticas. No final das contas quem entra no jogo é para se sujar. Até nisso sua majestade era imbatível. Conseguira ao longo dos anos chafurdar em escândalos sem perder a pose e altivez própria da realeza. Oposição prometia levar alguns desses desvios de conduta em sua bagagem rumo a Horário Eleitoral. Oposição não tinha mesmo a menor classe. Para cada mala abarrotada de escândalos, Poliana tinha em mãos uma nécessaire cheia da melhor e mais vistosa perfumaria. Seu povo alegre e carnavalesco sempre preferiu fantasias coloridas a uma realidade sem glamour. Até os membros mais ortodoxos e bitolados de seu clã já haviam assimilado essa verdade. Oposição nem começara a engatinhar no mundo da pirotecnia de Horário Eleitoral. Chegariam com a bagagem cheia de ridículos conceitos morais e voltariam com as mãos abanando. “Esses próximos dias prometiam ser mesmo entediantes”. – pensa a rainha. “Nada de novo se vislumbra. A menos que Oposição resolva trocar mais alguém de seu time.” – ironiza Poliana, satisfeita. Era hora de começar a pensar em coisas mais importantes e práticas. Precisava escolher o traje que usaria na conquista do troféu.
Enquanto sua alteza ocupava-se, como sempre, com futilidades e adereços, alguns de seus bobos perdiam noites de sono, imersos em preocupações. O futuro de seus preciosos glúteos dependia dessa temerária viagem a Horário Eleitoral. Se a bagagem de Oposição não era suficiente para assustar sua rainha, poderia ser fatal para alguns dos fieis e servis Bobos reais. Cabeças rolariam quando Poliana descobrisse que o reino perfeito que seus bobos lhe venderam tinha mais rachaduras e trincos que as velhas e decadentes paredes de seu castelo.

sábado, 21 de julho de 2012

Os lucrativos empreendimentos da rainha


Recostada nas almofadas de seu trono Poliana apreciava a paisagem, um tanto desfigurada pela blindagem espessa de sua redoma de vidro fumê, de seu magnífico e progressista reino. Seu império era um imenso canteiro de obras, disso nem Oposição poderia tecer comentários maldosos - pensa a magnânima, satisfeita com seus feitos. Ninguém, em toda a história dessa terra, trocara tantas vezes o gramado e as plantas dos velhos canteiros da avenida. Não em tão pouco tempo, ao menos. A isso se chamava coragem de mudar! Só seus invejosos críticos não davam o braço a torcer. Problema deles - desdenha a rainha muito bem acomodada no trono – vão ter de me engolir por muitos e longos anos.
Poliana por vezes se surpreendia como fora fácil ser rainha. Vendera sonhos e promessas por anos e em poucas semanas começara raras obras e dezenas de perfumarias que cegariam seu humilde e ingênuo povo por mais alguns meses. Era o que bastava, afinal. Poliana adorava a logística de seu reinado. Soubesse ela que seria assim tão simples, teria se lançado antes nessa empreitada gloriosa.
Olhando mais detidamente para fora, notara a falta de seus magníficos e coloridos cartazzes, uma marca registrada de seu reinado. Foram bons e lucrativos enquanto duraram. Algumas coisas se perderam nesse caminho cheio de pedras e buracos éticos. Nada que Poliana não pudesse substituir com um simples estalar de dedos. Tivera até que abandonar velhos e úteis amigos. Sentia falta dos queridos Irmãos Grafite. Fazer o que? Até as amizades se tornam obsoletas no mundo do poder e das barganhas. Seus antigos amigos não tinham mais espaço na sua corte de bobos e puxa-sacos. Os Grafite foram-lhe convenientes por muito tempo, agora já não tinham mais valor de mercado. Poliana conquistara outros amigos e novos financiadores. Sentimentalismo barato e lealdade sem lucro nunca foram o forte da rainha. A poderosa Poliana tinha hoje uma fila de interesseiros prontos a se curvar a sua majestade em troca de gordos favores. Trocara o ramo das falsas impressões por outro mais ecológico e agro sustentável. Com um pouco de óleo e farelo, Poliana faria um bom e suculento pirão. Quero ver Oposição engolindo mais esse espesso e indigesto prato – pensa a rainha, orgulhosa de suas novas parcerias. Com sua visão empreendedora Poliana já costurara mais uma sociedade de interesse privado regado a recursos públicos: a Organização do Lucro Fácil e Agro Rentável (OLFAR), mais um empreendimento das Organizações Poliana. No fim da história, quem pagará a conta será seu velho, fiel e crédulo sócio: o contribuinte. “Que maravilha era esse inebriante mundo do poder, onde uma mão lava a outra e as duas juntas escondem toda a sujeira.” – suspira Poliana do alto de sua torre.

domingo, 15 de julho de 2012

A gasta bagagem da rainha


Poliana, pensativa, arrumava cuidadosamente as malas para a viagem que se avizinhava. Não tinha muitas coisas para levar, afinal. Quase tudo que pretendia se perdera no caminho. Os itens mais exuberantes de sua última viagem a Horário Eleitoral, mostraram ser o que seus céticos críticos já alertavam: apenas ilusões pouco viáveis ou meras promessas ocas. Para Poliana essa nova turnê a Horário Eleitoral seria uma excursão de férias sem qualquer compromisso. Que entediante roteiro lhe prometiam seus companheiros. Nada mudaria em sua rotina diária. Apenas churrascadas na periferia, sua tarimbada pose de musa populista, alguns discursinhos lacrimosos já enjoativos pelo excesso de uso, muitos sorrisos falsos e mais, muitas mais, das suas populares promessas vazias. Bastava a Poliana, sem adversários com cacife para lhe fazer frente, repetir as ilusões simplórias de sua última edição. Poderia repetir o mesmo jingle, o mesmo slogan, a mesma cara e o mesmo sonho.  O povo se emocionaria com o mesmo discurso, como se fosse a primeira vez a escutá-lo. Poliana anunciaria, com o entusiasmo que lhe caracterizava, que acabaria - agora SIM! - com a humilhante fila do desrespeito. Trocaria - desta vez SIM! – o agendamento por respeito. Faria SIM! – sem qualquer sombra de dúvidas, desse reino uma ilha de segurança. Todos os larápios seriam extintos. Não fossem esses, é claro, da boa e velha corte de seguidores da rainha. Afinal, companheiro é sempre companheiro, e uma mão suja sempre suja a outra. Eis o código de conduta de seu nobre e íntegro clã. Esse seria o único tema a trazer, quem sabe, algum desagrado a sua alteza. Nada com que Poliana já não estivesse habituada. Se a pueril Oposição acreditava que causaria desconforto maior a rainha com um tema tão batido e obsoleto, teria mais uma surpresa ao final dessa história. Seu povo, sempre tão ingênuo e servil, já se acostumara com a falta de brios e decência de seus líderes. Honestidade há muito deixara de ser a bola da vez nesse reino. Só Oposição parecia não ter ainda percebido. Pobre Oposição. Tão desarranjada se encontrava, que até a Poliana desanimava. Poliana já não tinha o mesmo ímpeto de outrora. Que enfadonho e cansativo seria ter de ouvir todo aquele papo de moral e ética novamente. E pensar que sua majestade acreditara que esse tema embolorado tinha sido extinto até nos bancos escolares. Sorte sua, e de sua corte, que poucos eram aqueles que ainda acreditavam nessas falácias. Povo Honesto era em sua essência sonhador.  Preferia uma ilusão bem montada a uma realidade sem glamour. Poliana e sua corte há tempos desvendaram essa verdade e com muito marketing e pirotecnia sufocariam novamente qualquer resquício de moral que ousasse interpor-se em seu colorido e bem montado reinado de sonhos e fantasias. Poliana desanimada olhava para os poucos itens de sua mala. Vontade Política, sua mágica varinha de condão, já não cabia mais na bagagem. Sua assessoria de marketing e ilusão de ótica convencera a rainha de que essa também estava ultrapassada. A rainha trocara Vontade Política pelo manto mágico do Alinhamento Político. Essa alegoria era muito mais útil nesses novos tempos. “Em baixo do Alinhamento Político, é possível esconder muito mais propinas e escândalos.”- pensa Poliana, deixando a boa e velha Vontade Política de lado.

domingo, 8 de julho de 2012

As Merecidas Férias da Corte


No reino de Poliana a calmaria e a pasmaceira tomaram conta da corte. Há muito não se via essa turma tão relaxada e despreocupada. Os membros mais tarimbados do grande clã espreguiçavam-se nas poltronas. A rainha, descansada e tranqüila, sem ter mais com o que se preocupar, aproveitava sua cama de bronzeamento artificial. Queria manter o bronzeado uniforme para a viagem de férias a Horário Eleitoral.
- Eu não acredito que não vamos nem precisar abanar bandeirinhas esse ano.
- É verdade. Parece mentira. Essas férias serão mesmo longas pra nós companheirada.
- E pão com lingüiça não vai ter também?
- Não vai precisar. O povo ficará satisfeito só com nossos cartazzes e propagandas dessa vez. Sem concorrência, não precisamos fazer grande investimento.
- Que bom! Vamos economizar o dinheiro do fundo de apoio a companheirada.
- Mas pelo menos um risotinho de vez em quando vai ter que rolar, né?  
- E dois ou três comícios... Eu adoro os palanques. – suspira saudoso um membro da Irmandade do Fogo.
- Pode ser. Só pra gente não perder a forma. Mas nada de passeata. É muito desperdício de energia.
- Que pena. A gente sabia fazer tão bem, e agora nem pra isso mais servimos. – lastima-se um líder sindical.
- Eu já estou começando a criar barriga com tanta inatividade. – acrescenta um representante  do MSTT (Movimento Só Tramóia e Trago) com os camisa estorricada na enorme pança.
- Vai ficar meio sem graça a disputa dessa vez.
- Não sei, não. Acho que devíamos ser um pouco mais cautelosos. Não gosto da cara de malvada de Oposição. – alerta temeroso um velho Irmão do Fogo.
- Vai ficar é com cara de tacho no final de tudo. - graceja um companheiro.
- Com a cara no chão, isso sim. - continua outro.
- Vocês não acham que Oposição anda um pouco assanhadinha? Teve até cara de pau de plagiar o lema que sempre foi de nosso clã: a luta do bem contra o mal.
- Oposição nunca teve a menor criatividade. Agora fica repetindo aquele discurso que nós inventamos e usamos por décadas. Parece que eu estou ouvindo a gente aterrorizando o Paulo Salim, o José Ribamar e o Fernandinho com aquele papo de moralidade, seriedade e ética.
- É mesmo! Bem que eu achei que já tinha escutado isso antes! – exclama um membro do CUT (Companheiros Unidos no Trambique)
- Além disso, anda vasculhando o nosso lixo essa sacana. Vocês viram ela desfilando toda posuda com aquela gasta bandeira da moralidade que nós abandonamos há anos?
- Credo! Será que ela acha que alguém se impressiona com essa coisa velha e sem serventia?
- Sei lá. A gente já enrolou alguns otários com essa coisa. – recorda-se um militante dos movimentos sociais.
- Mas Oposição não tem nossa ginga. É toda empertigada e arrogante. Não tem a menor intimidade com bandeiras e não sabe vender utopias como nós.
- Mesmo assim, eu continuo com medo daquela cara de poucos amigos. Parece que vai dar um bote a qualquer momento.
- Relaxa velho! Não tem com que se preocupar. Nunca teve um jogo mais fácil de ganhar. Se bobear não precisaremos nem sair do vestiário.
- Mas para Horário Eleitoral nós vamos, não é? – indaga o assessor de marketing do reino.
- Claro! Dessa viagem não vai dar pra se livrar. Mas também não vamos precisar levar muita bagagem essa vez. Oposição não tem bagagem nenhuma. - debocha um companheiro, levando os outros as gargalhadas.
- Não sei não. – continua o velho, ainda receoso – Quem sabe o que Oposição andou encontrando revirando nosso lixo.
- Já disse pra não esquentar a cabeça, velho. Nosso lixo já é público, nada pode nos surpreender.
- Pode ser, mas... – o velho mestre da Irmandade do Fogo, mais cauteloso pelos anos, reclina a cabeça um pouco preocupado. Ainda lembrava-se de todas as fantasias e promessas vazias usadas na última turnê a Horário Eleitoral. Algumas apodreciam esquecidas nos entulhos. Só esperava que Oposição não resolvesse remexer nessas coisas também. Tomara que essa viagem fosse mesmo a grande excursão de lazer que essa turma esperava. – pensa o homem apreensivo.