sábado, 28 de agosto de 2010

As armas de Poliana



Poliana era pura indignação. Pessoas malévolas e mal intencionadas estavam pretendendo usar contra ela armas inventadas e idealizadas por seu clã!!! Um revoltante e descarado caso de plagio. Poliana não entendia como as autoridades competentes podiam ser tão omissas, permitindo tamanho desaforo. Se a impunidade no reino continuasse nesse ritmo em breve todo humilde servo iria se achar no direito de se manifestar como se estivesse em uma democracia qualquer! Que disparate.
Poliana tinha obscuras recordações de sua época de guerrilheira da seriedade. Nesses tempos longínquos, todos de seu clã empunhavam de forma majestosa a impiedosa lança da Moralidade e alvejavam os adversários com projéteis de ética disparados por suas inigualáveis pistolas automáticas apelidadas de Transparência. Era um verdadeiro massacre. Seu exército era mesmo implacável. Mas hoje os tempos são outros. Ética, Moralidade e Transparência são armas obsoletas e sem utilidade. Poliana tinha a disposição tecnologia muito mais avançada e de maior poder ofensivo: Mensalão e Propina. Instrumentos muito mais úteis de destruição das massas. Só Povo Honesto, Imprensa Livre e Bruxa Má é que não conseguem entender e aceitar a evolução da humanidade. Poliana já andava cansada de lidar com essa gente ignorante que não aceita o progresso. Precisava arrumar, e logo, uma forma de tirá-los de seu caminho. Essas pessoas ingênuas, quase cretinas, não conseguiam separar Horário Eleitoral de Mundo Real. Confundem fantasia com realidade. Não sabem diferenciar circo de democracia, nem percebem que a democracia muitas vezes pode ser apenas um grande circo. Por isso esperneiam desajeitados em inútil e convulsivo alvoroço.
Já Oposição, trôpega de sono, espreguiça-se e boceja, sem entender o que está acontecendo. Desconhecia Moralidade e nunca fora hábil no manejo da Ética e Transparência. Há muito deixara de lado artefatos tão primitivos. Foram seus habilidosos engenheiros os idealizadores de Mensalão e Propina. Sua obra já estava patenteada. Poderia viver tranqüila e confortavelmente apenas dos royalties. Melhor mesmo era voltar a dormir. Cooptada pelas novas e revolucionárias Forças Armadas, pretendia hibernar por muitos e muitos anos. Pronta a desfrutar o sono dos justos, aconchega-se suavemente nos macios e convidativos lençóis de sua alcova. Em uma funda e escura vala repousa o pouco de vergonha que ainda tinha. O cheiro nauseante exalado pela matéria em putrefação começa a infestar todo o reino. Precisava mandar alguém colocar um pouco mais de lama sobre a carniça, pensa Oposição, mas, acostumada que estava com o próprio cheiro, prefere dormir mais um pouco.

terça-feira, 24 de agosto de 2010

Sobre o Blog


Este blog é mantido por Kátia Schmidt Filgueras.
É um espaço para todo tipo de manifestação. Nenhum comentário postado foi ou será deletado. Toda postagem será mantida na íntegra.
Participem. Esse espaço é democrático e de todos vocês.
Agradeço a todas as críticas e manifestações. Esperam que vocês continuem fazendo seus comentários de forma democrática e participativa. Divirtam-se.
Kátia

domingo, 15 de agosto de 2010

O Carnaval de Poliana


Poliana está passada! Tivera mais uma de suas brilhantes idéias. Imprensa Livre, como sempre não entendeu. Imprensa Livre sempre sofrera de problemas de compreensão. Coitadinha. Inteligência e despreendimento não é para todos.
Ocorre que Poliana - a abnegada - elaborara um grandioso projeto de inclusão social e participação coletiva. Tudo muito democrático, participativo e festivo (como mandam as velhas escrituras de seu clã). Poliana promulgara o dia do bandeiraço livre e a licença PTernidade. Tudo para propiciar aos seus bobos da corte o direito ao pleno exercício do total descaramento e a comemoração da abolição definitiva da moral e da ética em seu reinado. Seus bobos (que adoravam uma farrinha) ficaram radiantes com tal idéia. Saíram todos, em alegre bando, às esburacadas ruas do reino portando estandartes escarlates adornados com brilhantes estrelas. Tudo, é claro, para festejar a maravilhosa campanha do soberbo e inigualável time Colorado. Poliana sempre fora incentivadora do esporte. Pessoalmente era adepta das jogadas rasteiras e da luta livre de qualquer regra ou valor moral. Como era exímia jogadora nessa modalidade, não conseguia conceber que alguém no reino pudesse se sentir incomodado com o fato de seus bobos estarem panfletando quando deviam estar trabalhando. Pois não estavam todos a serviço de seu clã? Poliana sinceramente não conseguia entender o motivo de tanto alarde! Não via qualquer problema em tais farras serem patrocinadas pelo contribuinte. O povo, todos sabem, adora pão e circo. Se falta o pão sobram cartazzes e, é claro, buracos no asfalto. A cada dia que passava mais ansiosa Poliana ficava com o retorno à Horário Eleitoral. Lá sim todos podiam erguer suas bandeiras e cantar as proféticas canções sem que falsos pudicos estragassem a festa. Enquanto Horário Eleitoral não chega, Poliana canta suas paródias de antigas marchinhas de carnaval: na avenida girando o estandarte estrelado a tripudiar...

domingo, 8 de agosto de 2010

Poliana e a fogueira das vaidades


Poliana sente o clima esquentar. A fogueira das vaidades arde como nunca. Em Horário Eleitoral era muito mais fácil contentar seus aliados e iludir seus súditos. Poliana por vezes acha que há mais gente se intrometendo em seu reinado do que seria aceitável. Está cada vez mais difícil que vários corpos - e mentes - continuem ocupando o mesmo lugar no trono. Deveria ter estudado um pouco mais de física. Em Horário Eleitoral, para superar suas dificuldades em ciências e ilusionismo, fizera um pacto irrevogável com o alquimista mor do reino. O douto da retórica e da eloqüência. Filósofo consagrado e mestre do ocultismo. Capaz de hipnotizar a todos com seu magnífico e insuperável poder da oratória. Profundo conhecedor de ciências exatas e da exatidão de suas conveniências. Capaz de manipular as massas e massificar os adversários. Este ser supremo, quase divino, agora levita soberano e imponente sobre o império de Poliana.
O pacto macabro com o Alquimista fora firmado em uma estranha e lúgubre noite, sob a luz das estrelas e em frente a chama luxuriante da falsidade. Nessa noite memorável Poliana selou o seu destino. Jurou amor e fidelidade eternos ao Alquimista. Prometera colocar os interesses deste acima de qualquer interesse seu ou de seus súditos. Tudo em troca de poder e supremacia. O Alquimista, em sua primazia e eruditismo era capaz dos mais brilhantes e engenhosos feitos. Com seu domínio da medieval técnica da transmutação fora possível transformar promessas em recursos, tolos em reis, interesses próprios em dádivas divinas, ações de outros em méritos unicamente seus. Era hábil em comprar consciências e corromper sonhos. Converter mediocridade em sabedoria. Adestrar impiedosos e históricos adversários tornando-os dóceis e subservientes micos de circo. Por seu inato dom da metamorfose transitava displicente em todos os ideais e ideologias, por todas as crenças e crendices, de São Antonio a Ogum. Eterno conhecedor dos mistérios do céu e da terra, do poder do cobre e do ouro, das negociatas e negociações. Poliana intimamente temia todo poder e sapiência deste ser magnânimo, por isso aceitava atuar como reles coadjuvante em seu próprio reinado permitindo-se ser manipulada como delicada marionete. Tudo para satisfazer aos caprichos e extravagâncias dessa excêntrica e poderosa figura. Com seu clã Poliana aprendera a lição mais valiosa de sua vida: o poder do ouro compensa toda e qualquer falta de pudor ou hombridade. “Vestes exuberantes e opulentas escondem perfeitamente a indignidade dos dejetos e excrementos. O odor se mascara com boas e caras essências”. Pensa a servil e perfumada Poliana.

domingo, 1 de agosto de 2010

Poliana - a previdente

Poliana resolveu renovar sua frota de carruagens. Com a rapidez com que os buracos no asfalto estavam se disseminando, em breve só tratores conseguiriam transitar no reino. Era preciso ser previdente. Com o tempo os buracos formariam verdadeiros tanques ou lagos onde seria possível lavar toda a roupa suja. Logo, logo poderia vender também as máquinas de lavar...