sábado, 26 de fevereiro de 2011

Poliana e a Fronteira da Insanidade


Das janelas de seu castelo Poliana apreciava o movimento. Era impressionante como seu pequeno reino crescera sob sua brilhante gerência e supremacia. Até pouco tempo quase não se percebia o tráfego em frente ao castelo. Nos últimos dias, no entanto o fluxo era incessante, quase assombroso. Sinal claro e inequívoco de que seu reino tornara-se finalmente a “bola da vez”. Seu povo, antes pobre e faminto, que se acotovelava em carroças públicas, hoje, graças aos seus inúmeros projetos sociais, desfilava motorizado pelas ruas centrais. Seus bobos e pajens lhe confidenciaram que seus súditos, inflados de gratidão e júbilo, faziam questão de enfileirar seus veículos em frente ao castelo apenas para agradar Poliana. Andavam em círculos, buzinando freneticamente numa legítima e espontânea manifestação de contentamento. A ingênua, mas sempre confiante monarca, como sempre acreditava. De dentro de sua redoma de vidro fumê podia vislumbrar alguns motoristas que entusiasticamente saiam de seus carros, gritando e agitando os braços, certamente a saldar exultantes, sua inigualável rainha. Como eram comoventes essas genuínas demonstrações de afeto popular. Poliana, todos sabem, sempre fora mesmo muito carismática.
Pois, já que contava com toda aprovação e apreço de seus súditos, Poliana preparava-se para projetos ainda mais grandiosos. Pensava em aproveitar momento tão oportuno para, oportunamente, aumentar a arrecadação de tributos aos cofres do reino. Dividiria seu reino em dois territórios, ocidente e oriente, e colocaria cancelas para o pagamento de pequenos pedágios a quem precisasse cruzar a nova e incomum fronteira. A estrutura já estava quase toda montada, só faltavam alguns pequenos ajustes. Nada que seus eficientes bobos não pudessem, em poucos dias resolver. Seu plano, tinha certeza, seria revolucionário e bombástico. Poliana mal podia esperar o tão aguardado momento de anunciar sua mais nova e audaciosa intenção. De tão ansiosa e impaciente quase podia ouvir o clamor do povo a louvar sua inusitada rainha. Ninguém em mundo real seria capaz de idéias tão genuínas e inovadoras, capazes de unir dinamismo, empreendedorismo, eficiência e o mais puro e legítimo apoio e contentamento popular. Dessa vez Poliana conseguiria calar até mesmo as línguas cruéis e maledicentes de Imprensa Livre.

sábado, 19 de fevereiro de 2011


Poliana disfarçava, mas estava apreensiva. Eram temerários os rumores espalhados por Imprensa Livre de que a rainha mãe, a Escolhida, não enviaria a seus afilhados tantos presentes como prometera. Pelo visto, Vontade Política também apresentava problemas pelas bandas de lá. Poliana já começava desconfiar que os super poderes de Vontade Política só funcionavam mesmo em Horário Eleitoral. Forças ocultas faziam com que o impressionante poder mágico, tão alardeado e difundido, dessa fantástica varinha de condão simplesmente se extinguisse em Mundo Real. Nem mesmo o numeroso exército de companheiros e ideólogos, que em Horário Eleitoral tinham tantas soluções brilhantes e milagrosas às misérias reinantes, conseguiam fazer Vontade Política funcionar com um mínimo de efeito prático em Mundo Real. Pois não é que a dita varinha mágica, ao invés de fazer crescer o Mínimo tornou-o ainda mais minguado e risível! Deveria ser sabotagem de Oposição ou perseguição midiática, sem dúvida! O fato é que Poliana estava receosa com o prenúncio de que o paquidérmico Projeto de Apoio a Companheirada (PAC) viesse a encalhar. Poliana esperava impaciente pelos rios de recursos prometidos pela rainha mãe. Esses não podiam lhe faltar! Poliana, apesar de míope, conseguia enxergar longe e via aquilo ninguém mais via (o que em muitos seria sinônimo de esquizofrenia, mas em Poliana tratava-se de um invejável empreendedorismo). Já fizera seu meticuloso planejamento estratégico para os bem vindos recursos. Não se tratava de contar com os ovos dentro da galinha. Nada disso! Poliana não se contentava com ovos, já pensava no galeto crescido e robusto! Assim que recebera a cândida promessa de alguns mimos, já idealizara e divulgara o Primeiro Festival Regional do Frango Recheado de Promessas. O que faria Poliana se lhe faltasse o frango? Alguém teria de pagar o pato, ou melhor, o frango! E não haveria de ser Poliana, certa feita. E todos os seus outros brilhantes projetos já em adiantada fase de divulgação, promoção e difusão? O que faria com o farto material de propaganda que encomendara para todos os grandiosos feitos que ainda não executara, mas que em seus sonhos sempre conseguira alcançar? E todas àquelas festividades já agendadas, como a o show de comemoração do pré-lançamento dos editais de elaboração das plantas de obras futuras e a solenidade de pré-assinatura do contrato de intenção de compra de área para construção de canchas de bocha? Não podia simplesmente cancelar tudo, seria uma gafe sem precedentes na história do reino. Como era difícil à dinâmica e empreendedora Poliana sentir-se assim de mão atadas. No entanto, só lhe restava agora esperar e torcer que as profecias de Imprensa Livre não se concretizem. Com um pouco de sorte talvez a Rainha mãe, a Escolhida, conseguisse encontrar dentre as centenas de companheiros que se acotovelam nas turgidas tetas da Vaca Pátria, pelo menos algum técnico com o mínimo de conhecimento ou competência para fazer Vontade Política funcionar e produzir finalmente algum encantamento digno de Horário Eleitoral.

sábado, 12 de fevereiro de 2011

Corrida Maluca no Reino de Poliana


Para livrar-se do estresse acumulado pelas responsabilidades de seu importante cargo Poliana buscava inspiração em antigos passatempos de sua infância. Sempre fora uma menina muito ativa e adorava todo tipo de brincadeiras. Atualmente reunia-se semanalmente com cinco de seus mais fieis e confiáveis bobos para um divertimento inusitado no reino. Sentavam-se todos em torno de uma grande mesa, sérios e dotados de suas caras mais solenes. Quando saiam todos os intrusos, ficavam apenas Poliana e seus “porquinhos”, como, a exemplo de sua mentora a Escolhida, apelidara carinhosamente seus adoráveis bobos. Entre quatro paredes podiam se divertir sem constrangimentos. Sobre a grande mesa oval colocavam sua maquete das ruas do reino e seus coloridos carrinhos. Durante horas brincavam como crianças. Faziam curvas perigosas e retornos complicados. Colocavam barricadas no meio de avenidas e simulavam perseguições, capotagens e acidentes. Poliana sempre adorara o carro de bombeiros, com tantas luzes e sirenes. Acabadas as horas de lazer, Poliana e seus porquinhos, vestiam novamente seus trajes sérios e respeitáveis e apresentavam a seus súditos idéias inovadoras e soluções, como sempre muito simples e brilhantes para os problemas de trafegabilidade no reino. E as propostas eram mesmo, surpreendentemente simples! Era inconcebível que ninguém no reino tivesse pensado nisso antes. Tratava-se basicamente de retirar o problema de um lugar e realocá-lo de forma integrada e integradora em um local diferente, permitindo que todos no reino pudessem se tornar sujeitos atuantes ao sentir na própria pele o transtorno. Seria um novo processo de socialização e inclusão cidadã dos problemas de deslocamento. Espraiando de forma democrática e participativa a indignação e a revolta. Tudo, é claro, regado a muita pompa, mídia e cartazzes. Afinal, projeto assim tão brilhante, não poderia passar em brancas nuvens.

domingo, 6 de fevereiro de 2011

O Circo de Poliana


Poliana estava exausta. Que desgastante agenda de eventos tinha que cumprir. Eram tantos os memoráveis feitos de seu reinado que Poliana não perdia cada oportunidade de comemorar. O povo era mesmo muito ingrato em se queixar de sua rainha. Era impressionante como não conseguiam enxergar que seu reino era um gigantesco canteiro de obras e execuções. Para mostrar aos maledicentes todo o poderio estratégico de sua trupe, Poliana engajara-se numa cansativa maratona de inaugurações e eventos. Participava e divulgava, com muita pompa, circunstância, e recursos públicos, toda importante ação de seu inovador reinado. E eram tantos os eventos que Poliana já sofria de estafa. Inaugurações de canchas de bocha e churrasqueiras, colocação de tampas em bueiros e bocas de lobo, abertura de fossas sépticas, troca de lâmpadas de semáforos e postes públicos, pintura de faixas de seguranças para pedestres, plantio de dezenas de mudas de flores em canteiros e arranjo de vasos nas avenidas, revitalização de escorregadores e balanços, distribuição de lixeiras nos passeios públicos... Com toda vitalidade e desenvoltura desta inacreditável rainha, e o inestimável trabalho de ilusionismo dos membros da OP (Orquestra Partidária), conseguiriam em pouco tempo, transformar seus mais humildes súditos em fieis admiradores do teatro de Fantoches de Poliana.
Enquanto isso, o lixo continua a tomar conta do Magnífico Reino de Poliana.