sábado, 25 de julho de 2015

O epitáfio da estrela


 Em Gigante Adormecido, as coisas iam de mal a pior. Para o povão, inflação em alta, desemprego crescente e a esperança se esvaindo. Para a Rainha Mãe, popularidade despencando, economia agonizando e aliados prestes a roer a corda. Nunca antes na história do reino, um monarca conseguira ser tão impopular para seus súditos. Mas o povo, só é povo de fato quando aplaude estrelas. Em momentos de desilusão e descrédito é apenas massa de manobra de Oposição e de Imprensa Livre. Pobre povo, que só é soberano e útil quando inocentes úteis.
E a companheirada, então, seria cômica se não fosse patética. Aqueles que em outras épocas bradavam eloquentemente como se estandartes da moralidade fossem, hoje debatem-se indignamente justificando o injustificável. Como crianças pegas em uma travessura, justificam seus delitos de quadrilheiros com a singela alegação de que outros, antes deles, cometeram os mesmos pecados. Picardia pueril. Uma coisa precisava ser dita da fiel militância estrelada: não tinham qualquer medo do ridículo.
Vítimas. Pobres vítimas são eles, os outrora destemidos defensores da ética e da moral. São vítimas de golpismo, de perseguição de Justiça, de conspiração midiática. Vítimas do ódio. Do ódio das redes sociais, das ruas, do povo. Como sempre, confundem os sentimentos e motivações. Não é ódio, é asco. O coitadismo sempre esteve no âmago dos companheiros. Chafurdam como porcos em pocilga ao se compararem aos perseguidos pelo nazismo. Infâmia digna dos que há muito abdicaram da decência. Não se envergonham disso também. Como não se envergonham dos roubos, da corrupção e da imensa fraude que provaram ser.
E o simbolo máximo da total ausência de vergonha era justamente ele, a estrela maior do grande clã. O pai dos pobres e criador da Rainha Mãe. O Ilusionista. Quem já fora o rei dos reis, hoje tornara-se o mais deprimente imperador dos cafajestes. Uma estrela  em franca decadência, que seria merecedor de pena, não fosse o incansável esforço que faz para, a cada dia, ser mais e mais merecedor de desprezo. Agonizava indignamente em palanques apodrecidos, para seguidores fiéis, mas cada vez mais minguados. Vociferando impropérios e semeando estupidez, enlameava um pouco mais sua biografia.
Que estranha gente era essa gente. Que curioso desapego mostravam por um mínimo de dignidade. O poder, que a outros cega e corrompe, aos companheiros e sua alienada militância causava dano maior. Os apequenava. Perdiam a vergonha. A lógica. O senso de ridículo. Perdiam quase tudo que tinha valor moral. Só não perdiam, jamais, a fé inabalável na fraudulenta e putrefata estrela.
O povo e Gigante Adormecido sobreviveriam a companheirada, como sobreviveram a outros no passado. Os companheiros e seus adestrados simpatizantes, sobreviveriam a eles mesmos, suas hipocrisias, mentiras e indignidades. Restaria-lhes sempre a boa e velha ideologia. A crença inabalável de que os seus fins justificavam toda sorte de imoralidades, será, algum dia, o epitáfio da estrela decadente. Resta apenas esperar.  

domingo, 19 de julho de 2015

A embusteira Poliana


 A sempre resplandecente Poliana adentra ao salão real para mais uma reunião com seus bobos de estimação. Nem mesmo a ausência do sol tirava o brilho e o otimismo de nossa dinâmica rainha.
- E então meus bobos, o que aconteceu de novo em nosso reino essa semana?
- Nada. - responde o bobo do planejamento.
- Como assim, nada? - questiona a monarca. - Alguma coisa devemos ter feito de novo nesses dias.
- Está tudo na mesma, rainha. Teve a chuva, muita chuva, mas isso não é obra nossa. O sol parece ter aderido a greve na saúde.
- Não é possível. O que andam dizendo as tais redes sociais, meu bobo do marketing e pirotecnia?
- Continuam nos ridicularizando, como sempre, alteza.- responde o bobo, sem tirar os olhos de seu iphone.
- Gentinha desocupada! - indigna-se Poliana. - E nossas obras em que pé estão? Nosso fantástico anel viário?
- Continua fantástico, rainha. No papel.
- E qual a previsão para ele?
- Continuar no papel, como quase tudo em nosso reinado.
- Sei... E o nosso rodízio de estacionamento? Já saiu do chão?
- Podemos dizer, alteza, que a parte mais complexa está quase pronta. - afirma o sorridente bobo do trânsito.
- Que ótimo! Quer dizer que todos aqueles complicados aparelhos controladores de tempo já estão instalados! Precisamos divulgar isso, companheiros!
- Na verdade, Poliana, a parte que está sendo executada é a pintura das vagas de estacionamento. Está ficando uma beleza, modéstia a parte. - elucida o bobo do trânsito, com o peito estufado de orgulho.
- Bem, pintar riscos no asfalto é uma complexa obra de engenharia, não é mesmo? - justifica Poliana, um tanto decepcionada. - E isso está sendo bem divulgado na mídia, meu bobo do marketing? Precisamos criar uma agenda positiva, vocês sabem.
- Pode-se dizer que o assunto está bombando nas redes sociais. - responde o outro.
- Mesmo! Que maravilhosas essas redes sociais!
- A quantidade de críticas, deboches e piadinhas perde apenas, em números, para nossos buracos no asfalto. - completa o bobo do marketing, seco.
- Maldita democratização da internet! - queixa-se a perseguida monarca. - E por falar em buracos, como anda nosso inovador projeto de tapa buracos, meu queridíssimo bobo das obras?
- A pleno vapor, Poliana! - responde Santo Jorge. - Aquela coisa preta que compramos a preço de ouro para tapar buracos em dia de chuva tem feito uma revolução em nossas vias.
- Que boa notícia! O negócio funciona mesmo, então?
- Funciona nada! Vira uma geleia que escorre dos buracos em poucas horas. Em compensação nossos serviçais de carreira estão com as panturrilhas e glúteos durinhos, de tanto pisotear aquela porqueira. Pelo menos mostramos ao povão que trabalhamos arduamente até debaixo de temporal.
- Nem precisa me dizer o que dizem as redes sociais. Posso imaginar. - desilude-se Poliana. - Esses tais buracos ainda vão me levar a loucura. Os críticos infames não são capazes de reconhecer que democratizamos até mesmo os buracos no asfalto. Antigamente eram privilégio de poucos, graças a mim hoje toda família tem o seu. - suspira a magnânima – Você, bobo do marketing, precisa se empenhar em divulgar nossos feitos positivos.
- Eu bem que tento, Poliana, mas você e o resto dos bobos reais poderiam se esforçar um pouquinho para me ajudar. Ultimamente tenho que divulgar e comemorar como grande conquista do seu reinado até liminar de Justiça! - irrita-se o sempre afável companheiro. - Ninguém, nem mesmo eu, aguenta mais ver fotos suas com aquele capacete ridículo, acompanhando o andamento da construção de churrasqueiras e banheiro de salão comunitário. O povo, rainha, já está farto de nos ouvir falar de mobilidade urbana, quando não conseguimos nem colocar meia duzia de sinaleiras para funcionar! Sinaleiras, Poliana! Não são viadutos, túneis ou elevadas!
- É que o anel viário e esses semáforos inteligentes são um tanto complexos, é preciso cautela, planejamento e muito estudo. - justifica-se a rainha.
- Estudo! É estudo para o anel viário. Estudo para estacionamento. Estudo para arrancar árvore do mato, plantar árvore no mato, cercar o mato e não concluir nada. Estudo para ciclovia. Estudo para tapar umas porcarias de buracos. Tem até estudo para estudar o estudo que o contribuinte já pagou. São tantos anos de estudo que dava para todos os bobos terem feito faculdade, e daí, quem sabe, valerem um pouco do que recebem dos cofres públicos!
- Nossa! Você anda revoltadinho hoje, companheiro! - constata um dos bobos.
- Claro! Quem tem que estudar mil formas novas de anunciar as mesmas promessas de anos sou eu. Vendendo um próspero reinado que não é sequer capaz de fazer com que piche e pó de brita consigam ficar dentro de um buraco por míseros 15 dias. Ou 15 minutos! Enquanto o bobo das obras desfila de bicicleta pedalando o contribuinte. O bobo do trânsito inaugura vaga de estacionamento. O da saúde hiberna como um morcego no momento em que a saúde agoniza. E o bobo do desenvolvimento só serve para carregar as suas malas nas viagens, Poliana.
- Você está coberto de razão. - conclui Poliana fazendo um mea-culpa, para surpresa geral – É mais do que hora de dizermos a que viemos. Precisamos dar alguma satisfação a nossos súditos e financiadores. Temos de entregar ao contribuinte alguma grande e vistosa obra.
- Finalmente! - comemora o marqueteiro real.
- Algo que nos dê visibilidade! Uma obra vultuosa e colorida!
- Isso mesmo, rainha!
- Já tenho algo importante em mente. Pode preparar os slogans, jingles e propagandas, meu caro. Chega de morosidade! A primavera está chegando e anunciaremos um grande feito. – anuncia a monarca, determinada. - Assim que a temporada de chuvas acabar colocaremos mãos à obra.
- Muito bem, Poliana! Qual de nossas obras em andamento sairão finalmente do papel?
- Trocaremos, queridinho, toda a grama e as mudas de flores dos canteiros centrais! Não fizemos isso esse ano ainda. Eu sabia que estávamos deixando algo importante para trás. Obrigada por ter aberto meus adoráveis olhinhos de biscuit. Calaremos definitivamente todos os infames das redes sociais! Avante, companheiros! O povo clama por nós! - conclama Poliana, a rainha do embuste e da enrolação.    

domingo, 12 de julho de 2015

Cem por cento Poliana


 Poliana sentia-se doente. Seu povo também. Este, no entanto, corria o risco de ficar desassistido em momento de enfermidade. A saúde estava em grave crise, como nunca antes na história estivera. Mas, não era culpa de Poliana, esforçava-se para esclarecer sua equipe de marqueteiros. De fato, não era. Pelo menos não 100% culpa de nossa monarca. A crise e a desgraça eram generalizadas. Ocorre que Poliana, com seu espetaculoso jeito de superfaturar seus feitos – a maior qualidade da monarca - vendera há muito pouco tempo uma nova forma de gestão do nosocômio local como uma mágica poção para a entidade e todos os reinos vizinhos. Um remédio doce e 100% eficaz. E, na época, 100% obra de Poliana, a rainha do alinhamento sustentável. E Poliana brilhara, como brilhavam as estrelas alinhadas daquele tempo. Posava para fotos. Sorria para os flashes. Debulhava-se em lágimas de emoção e esganiçava a voz nos acalorados discursos em Horário Eleitoral. Poliana era uma popstar. A rainha mãe de 100% dos enfermos e desassistidos. A todos aqueles, e não foram poucos, que tentaram alertar sua alteza da temeridade de seus atos, Poliana torcia seu arrebitado nariz. Gentinha invejosa, enciumada com seus méritos e com evidentes interesses políticos, acusava Poliana, 100% convicta.
E o tempo passou, como passa sempre em 100% dos reinos. E as decisões de nossa rainha mostraram-se equivocadas antes mesmo do término da romântica turnê a Horário Eleitoral. Até mesmo as três estrelas alinhadas apagaram-se para Poliana excessivamente cedo. E quando a escuridão da inconsequência, da demagogia e das promessas não cumpridas atinge gravemente o nosocômio regional, Poliana coloca em prática sua segunda maior qualidade: desgrudar-se do problema como chiclete envelhecido. Não é hora de apontar culpados, o momento é de encontrar soluções, discursa a magnânima gestora, com seus conhecidos jargões de porta de banheiro público.
E a esplendorosa Poliana, que já fora a popstar 100% mãe do milagre, transforma-se com um passe de mágica e marketing em Poliana, a rainha sofredora, 100% preocupada em resolver um problema que, agora, não era seu, era de todos. Nossa destemida monarca lançava mão da conhecida estratégia de seu clã estrelado: capitalizar os louros e socializar os prejuízos. Curiosa e conveniente lógica socialista. E a todos aqueles que criticam nossa rainha, ou ousam sugerir que Poliana corte mais fundo em sua própria carne em momento de tão grave crise, a monarca e sua vastíssima corte respondiam 100% indignados: gentinha maledicente e com evidentes interesses políticos. A boa e velha retórica usada por 100% de seus companheiros de estrela. Discursinho 100% asqueroso e 100% medíocre, digno de quem abdicou de 100% de sua vergonha.
O tempo passa, quase tudo muda. Só Poliana não muda. É, como sempre foi e eternamente será. A rainha do espetáculo, das frases de efeito e dos palanques. Um embrulho colorido e marqueteiro 100% perfeito, para uma rainha que corria o risco de provar ser 100% um embuste.