domingo, 19 de março de 2017

O BBB dos vendilhões

  • Enquanto em Gigante Adormecido o povo descobria algo mais podre que a política - a carne - no pacato reino de Campo Pequeno a Câmara de Vendilhões prometia inovação. A esperança dos súditos de renovação, com novos vendilhões de Situação e Oposição, mostrava-se só mais um engodo bolorento e putrefato, como salsichas e presuntos.
  •  Pois a nova legislatura, com novos e ávidos vendilhões do povo, resolvera adentrar logo de cara na era da modernidade tecnológica. Nada mais das arcaicas e prosaicas votações de outrora, com simplórias contagens manuais, feito chamada do colegial. Afinal, uma vastíssima assembleia de dezessete notáveis necessitava de um painel eletrônico para controlar as acirradas disputas voto a voto. Seria uma temeridade que algum ignóbil qualquer deixasse de contabilizar um importante voto de louvor ou fizesse vistas grossas no momento sublime em que nossos vendilhões decidem dar o nome a uma viela. Uma câmara tradicionalmente tão afeita a discussões e votações importantes, como solicitações de lombadas e bueiros, necessita de fato e por mérito, de um painel eletrônico para coroar suas produtivas reuniões. O súdito que discordar poderá mandar um email ou torpedo a seu vendilhão preferido, e torcer que o mesmo saiba como lidar com a avançada tecnologia de mensagens eletrônicas.
    E já que aos nossos ilustríssimos vendilhões são atribuídas a elaboração de leis, urge a necessidade de assessoria jurídica. Tudo perfeitamente lógico e explicado. Mas, se por aqui o campo é pequeno e a câmara é tradicionalmente uma servil assembleia de vassalos que se limita a abanar o rabo para as propostas do executivo e aprovar moções de apoio e nomes de rua, qualquer advogado de meia pataca serviria. Pois aos nossos bravos vendilhões nem ao menos uma pataca inteira está de bom tamanho. A assessoria jurídica da casa não é suficiente já que a pilha de solicitações de controladores de velocidade se acumula nas mesas. Faz-se necessário a contratação de mais uma empresa de advocacia para auxiliar nossos eleitos. Só para se dedicar e embasar juridicamente a correta denominação das ruas do reino. Que sorte nossa, os súditos, podermos contar com representantes tão preocupados com a forma legal de usurpar nossos recursos.
    E como avanço pouco é coisa de colono ou suburbano, nossos vendilhões decidiram aparecer. Não aparecer nas comunidades onde conquistaram seus votos de apoio e crédito, é lógico. O negócio era aparecer na TV. E se a TV não vai aos tolos, os tolos compram a TV com o bom e velho dinheiro público. A Câmara de Vendilhões adquirira para si um canal aberto de televisão. Negócio da China, de causar inveja às grandes empresas da área de telecomunicações que hoje tropeçam para manterem-se de pé. Tudo que o povo desse reino almejava era um canal inteirinho pautado por seus eleitos vendilhões. Com tantas discussões vazias e protagonistas medíocres será o fim do BBB. Concorrência desleal, de fato. Os custos dessa televisiva vaidade tupiniquim sairá, é claro, dos bolsos dos contribuintes. Pois bolso de contribuinte não tem fundo, como sem fundo é a falta de senso de ridículo de nossos eleitos.
    No amistoso e acolhedor reino de Campo Pequeno o povo optou por mudança. A voz desse povo gritava por um basta. Pois a mudança veio. Fez-se a renovação. Mudaram as moscas. Agora cabe ao povo decidir se quer que a bosta seja apenas revirada, ou coberta de vez e definitivamente. Quem paga picanha e aceita comer papelão vale aquilo que defeca.
     
     
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