sábado, 25 de dezembro de 2010

A Situação de Poliana


Poliana estava deliciada. Nem mesmo seus adoráveis e esforçados bobos conseguiram lhe proporcionar tamanho divertimento. Há muito, Poliana não dava tantas gargalhadas. O riso, agora, lhe saía frouxo. Com que sofrível espetáculo Oposição presenteava a platéia. Um verdadeiro pastelão. E Poliana que havia torcido para que oposição não despertasse! Quanta tolice. Nem em seus sonhos mais otimistas imaginara que poderiam ser tão amadores, os coitados. Com elenco tão medíocre, era de surpreender que tivessem conseguido se manter tanto tempo em cartaz. Até o mais estúpido de seus bobos era capaz de perceber que o narcisismo reinante seria novamente a ruína de Oposição. Poliana até então acreditara que golpes baixos e jogadas rasteiras eram monopólio de seu clã. Esquecera a jovem rainha - cada vez mais soberana - que Oposição estava a mais tempo no mercado e conhecia todas as artimanhas e jogatinas. O que realmente causava espanto era vê-los usando as velhas e surradas táticas uns contra os outros e todos a favor de Poliana. O show mal chegara a metade e Oposição já se contorcia agonizante antevendo o momento da derrocada final. Nem mesmo o grande e respeitado diretor Zangão, o sisudo, seria capaz de corrigir tamanha falta de talento de seus atores. Pobre Zangão, pensava a condoída e solidária Poliana. Estava mesmo precisando de férias. Bastara se afastar por poucos meses do reino e sua trupe já conseguira promover tanta confusão e palhaçada. Seus - os dele - fiéis e servis súditos chegavam a ser quase tão incompetentes e atrapalhados quanto o exército de bobos de Poliana. Nesse quesito ao menos ambos se igualavam. Ao velho Zangão provavelmente já faltavam forças para massagear tantos inflados e narcísicos egos. Por isso escolhera descansar. Mas, a cautelosa e oportunista Poliana, ainda preferia aguardar até o final do espetáculo. Uma velha raposa, nem sempre é uma raposa morta. Convinha a todos assistir o desenrolar do enredo.

sexta-feira, 24 de dezembro de 2010

Os pedidos de Poliana ao velho Noel


Poliana, concentrada, fazia seus pedidos a Noel para o novo ano que se iniciaria. Esperava que lhe mandasse chuva. Não em exagero, formando novos e indesejados buracos no asfalto – quase uma marca registrada de seu reinado. Mas em quantidade suficiente para garantir que as fontes de água não secassem. Era imperioso que não faltasse água, a fim de manter no esquecimento de seus súditos tema tão delicado. Poliana fizera algumas promessas no ano que se findava, mas que se revelaram uma incômoda pedra em suas sapatilhas. Sempre defendera, pelo menos na retórica, a tese da discussão e participação popular sobre temas de interesse coletivo. Mas, nas atuais circunstâncias, os interesses coletivos, colidiam inadvertidamente com os interesses de seu clã e de velhos amigos do SindiPelego. Por isso, Poliana torcia para que os céus lhe mandassem boas e abençoadas chuvas livrando-a de maiores tormentas e tormentos.
Pedia ao grande Pai, o Ilusionista, e sua fiel discípula, a Escolhida, que fizessem jorrar recursos sobre seu iluminado reino. Sem recursos, Poliana a duras penas aprendera, obras e promessas ficavam restritas ao papel e, é claro aos cartazzes e outdoors. Poliana não sabia por quanto tempo conseguiria alimentar seus súditos apenas com promessas e propagandas.
Poliana orava a cada noite, que Oposição continuasse placidamente a hibernar. Que suas cada vez mais frágeis alianças, se mantivessem, pelo menos nas aparências, convenientemente equilibradas. Que em seu vasto e decorativo exército de Bobos, conseguisse encontrar pelo menos um que demonstrasse ser de alguma serventia.
Que conseguisse renovar suas forças e aprimorar sua habilidade em massagear egos sensíveis. Que as cadeiras e tronos de seu palácio suportassem todos os infindáveis glúteos que precisava acomodar.
Que continuasse a esbanjar criatividade, papel e recursos públicos em seus belos e dispendiosos cartazzes.
Que não faltassem tetas a tantas bocas sedentas e que os cofres não secassem jamais. Que Imprensa Livre fosse domesticada e que todas as bruxas fossem expulsas do seu reino.
Que os espetáculos pirotécnicos da OP (Orquestra Partidária) fossem, a cada dia, mais gloriosos, arrebatando seus humildes súditos, vendendo sonhos e colhendo bons e prósperos votos de que dias ainda mais auspiciosos e lucrativos virão.
E por fim, seu mais importante pedido: que lhe sobrasse inspiração para novas e vazias promessas e desculpas, e que seus pouco exigentes súditos continuassem a saciar-se plenamente de sonhos e ilusões, tornando seu reino uma bela e alienada ilha da fantasia.

sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

Um Troféu à Poliana


Em frente ao espelho Poliana sorria satisfeita. Estava cada vez mais orgulhosa de suas proezas. Tinha certeza de que conseguira surpreender a todos com sua sagacidade e inteligência. Seus esforços foram recompensados com o merecido troféu Rainha no Gerenciamento Sustentável Sustentado pelos Súditos. Dessa vez, tinha certeza, deixara Oposição roxa de inveja. Nunca antes na história de todo o reino alguém conseguira fazer tão pouco com tanto estardalhaço. Por cada canto em que se passava era possível ver o que faltava. Mas para cada coisa mal acabada ou não começada havia sempre uma promessa ou um vistoso outdoor. E o povo, todos sabem, adora promessas e ilusões. Poliana sabia como poucos plantar falácias e colher bons e suculentos frutos. Frutos que seriam, como sempre, divididos entre seus inúteis, mas criativos bobos e aliados. Ao povo, é claro, sobram os bagaços.
“Espelho, espelho meu! Existe no reino alguém mais astuta do que eu?” – pergunta a deslumbrada Poliana a um espelho mudo de espanto e asco.

domingo, 12 de dezembro de 2010


Poliana sentia-se entediada. O tempo cinzento e chuvoso tirava o brilho de seus enfeites natalinos e acentuavam o ar de decadência de seu castelo. Até seus adoráveis Bobos não lhe divertiam mais como antes. Na verdade, já andava cansada da maioria deles. Mas, por tras de cada Bobo havia muitos interesses e influências, e Poliana não podia dar-se ao luxo de desagradar algum de seus aliados. Eles ainda poderiam lhe ser úteis em um futuro próximo. Não podendo mudar de Bobos, decidira apenas trocá-los de lugar, como objetos de decoração ou peças de xadrez. Tudo muito prático, criativo e inovador. Poliana sempre fora muito hábil em arranjos e composições. O importante agora era manter uma aparência de harmonia em sua imensa e disforme massa de egos e conveniências.

domingo, 5 de dezembro de 2010

CHUVAS DE NATAL


A chuva salvara Poliana de mais um vexame. Poliana precisava de uma boa desculpa para o atraso no início das festividades Natalinas e a chuva caiu dos céus como um presente. Ufa, que alívio! Mais uma sabia lição Poliana aprendera nesse difícil ano: assim como os curandeiros, enfeites e luzinhas não brotam do chão como musgo. É preciso dinheiro e alguém com boa vontade e competência para espalhá-los de forma harmoniosa e decorativa pelo reino.Como boa vontade e competência não eram o forte de seus bobos, Poliana já previa problemas para o Natal do próximo ano.

sábado, 27 de novembro de 2010

Pavão ornamental


Enfim, uma teta! - comemora Pavão, aliviado. Já estava vendo-se em cólicas com a possibilidade de acabar de mãos abanando. Durante décadas suas delicadas mãos permitiram-se apenas o esforço de abanar bandeirinhas e massagear egos sensíveis. Não estavam acostumadas com trabalho mais elaborado e degradante. Este deve ficar, é claro, a cargo dos tolos que sustentam suas mordomias.
E que boa teta lhe arrumaram. Adequada para muitas viagens e abundantes diárias (espécie de ração utilizada para alimentar essa rara espécie de ave mamífera só encontrada por essas bandas). Pavão iria se fartar de diárias. Poderia desfilar pelos pagos altivo e garboso, exibindo sua melhor plumagem. Em ocasiões apropriadas vestiria sua velha fantasia de colono sofrido, com um grande chapéu de palha de boa grife e o eterno discurso de homem da terra que tão bem decorara ao longo de tantos anos representando o mesmo papel. Era só caprichar no sotaque, na entonação chorosa e no português sofrível. Sua atuação era sempre invejável. Mesmo um agricultor legítimo, de mãos calejadas pelo trabalho diário, chega quase a acreditar que Pavão realmente entende alguma coisa do tema.
E quantos eventos poderia realizar! Como todos os membros de seu clã, Pavão adorava eventos. E com que facilidade conseguia criá-los. A parte mais difícil da elaboração era encontrar um bom título para esses espetáculos. Tinham que ser longos e conter palavras chaves como inclusão, inclusiva, cidadã, participativa, popular e solidária. Se o título conseguisse conter todos esses chavões juntos atingiria a perfeição. Não importa se ao final o objetivo e a natureza do evento não fizessem qualquer sentido, coerência e nexo não são necessários nesse ramo de atividades. Decidido o título o resto era barbada. Bastava jogar em uma grande sala algumas dezenas de companheiros de inutilidade, eternos representantes de coisa alguma, hábeis em vender ideologias vazias e defender com desenvoltura os interesses do grande clã. Entre essas ilustres figuras os mais conhecidos são as chamadas representações populares como o SindiPelego (agregação de todos o pseudo-sindicatos, que na atualidade erguem a bandeira dos trabalhadores, mas defendem interesses próprios e dos atuais donos do poder e dos recursos públicos), CUT (Companheiros Unidos no Trambique) e o poderoso MSTT (Movimento só Tramóia e Trago). Essas românticas entidades contém as estrelas mais brilhantes e respeitadas na arte da economia sustentável através da vadiagem coletiva e todas elas reunidas asseguram um grande público para qualquer medíocre espetáculo. Como boa e adestrada platéia nunca irá faltar, só resta mesmo a publicidade, outra aptidão inata a todos os membros do clã. Era preciso muita, mas muita propaganda: folders, banners, outdoors e fotos em jornais. E por fim, muitos discursos vazios que conseguissem convencer o grande público de que a inutilidade do evento traria, através de ações afirmativas, inegáveis benefícios na geração sustentável de renda para nossa nova sociedade participativa, cidadã e inclusiva e promoveria a criação de uma consciência coletiva e solidária e o resgate histórico da cidadania das minorias oprimidas por séculos de políticas neoliberais excludentes que acarretaram na imensa dívida social com a massa de excluídos.
Pavão, encantado e satisfeito, faz seus planos para o futuro e aguarda ansioso a passagem rápida dos poucos dias que o separam do momento de abocanhar sua nova e merecida teta. Quase tão feliz quanto Pavão estava Poliana, que se livrou do peso de ter que arcar com mais um decorativo bobo em seu castelo.

terça-feira, 16 de novembro de 2010

A Desilusão de Poliana



O peso da verdade atingiu Poliana como um raio. Agora, até os mais crédulos e otimistas de seus Bobos da corte, deram-se conta de que definitivamente curandeiros não brotam do chão como inço ou ervas daninhas, nem caem do céu como granizos. Não adiantou reza brava, nem mesmo sua boa estrela. Poliana até desenvolvera uma tendinite de tanto abanar Vontade Política, sua varinha de condão, e nada de chover curandeiros no reino. Até seus curandeiros aliados, que tantas brilhantes e românticas idéias lhe venderam, não demonstram nenhum esforço em auxiliá-la nesse período de estiagem. Esses eram ótimos em subir em palanques, agitar bandeirinhas e comer pão com lingüiça, mas na hora do trabalho árduo e duro, desaparecem como fumaça. Gostavam mesmo era de uma boa e turgida teta. Como as boas tetas já estavam ocupadas por bocas igualmente vorazes, deixaram Poliana na mão. Ou melhor, nas mãos cruéis e irônicas da perversa Imprensa Livre. E agora, o que fazer? Só resta à desiludida Poliana uma última e pueril esperança: esperar que o bom e velho Noel possa lhe presentear com alguns desses espécimes em extinção. Talvez, se Poliana espalhasse algumas luzes pelo reino a fim de guiar o Bom Velhinho em sua jornada, pudesse ser recompensada com alguns curandeiros embrulhados em celofane. Só lhe resta agora acreditar.

domingo, 14 de novembro de 2010

O Apagão Natalino de Poliana


Poliana acordou sobressaltada. Que grande gafe cometera. Tão deslumbrada se encontrava nos últimos meses, com o desempenho vigoroso e magistral de sua turma, que descuidara da vida, e do reino. O brilho ofuscante de sua constelação de companheiros, toda a alegria, cor e fantasia de Horário Eleitoral, circuitaram-lhe as idéias. Pois não é que se esquecera das festividades Natalinas! Todo ano, nesta época o reino se cobre de luzes, estrelas e anjos. Tudo muito iluminado e colorido. O povo se torna mais sentimental e solidário. Até Imprensa Livre fica menos ranzinza e mais benevolente. Velhos obesos e barbudos circulam sudoréticos pelas ruas, desejando boas festas aos transeuntes. O clima é de confraternização e amizade até mesmo entre rivais e desafetos.
E Poliana não lembrara das luzes! E agora, o que fazer? Onde conseguir tantas luzes, assim de chofre? Precisaria improvisar. Estrelas seriam fáceis de encontrar, devem ter sobrado centenas de Horário Eleitoral. Poderia conseguir alguns barbudos entre os amigos mais ortodoxos do SindiPelego. O negócio era jogar algumas bolas coloridas sobre as árvores; sobras e retalhos de bandeiras nos telhados e um pouco de anilina na fonte d’água em frente ao Castelo. Fonte d’água que, aliás, mais se assemelhava a um borbulhante e desgovernado caldeirão de bruxa (argh! Poliana odeia bruxas!) prestes a explodir. Pelo que dizem seus súditos, parece não haver nenhum bobo em toda corte com capacidade mínima de ajustar os jatos e jorros, de forma a tornar mais harmonioso e menos grotesco o espetáculo das águas. Fazer o que? Melhor desligar a fonte para não ensopar os passantes. Montaria um belo palco no centro do reino. Um show choroso com a nova dupla Pavão e Torresminho. Muitos discursos e retóricas, e é claro: cartazzes! (Poliana adorava cartazzes). O resto deixaria sob responsabilidade dos membros da OP (Orquesta Partidária). Eles eram mestres em pirotecnia, transformavam nada em coisa alguma com muita pompa e circunstância. “É, acho que, como sempre, conseguirei transpor mais este desafio”- pensa a iluminada Poliana.

domingo, 7 de novembro de 2010

GLOSSÁRIO DE TERMOS PARA UM REINADO ÉTICO E MORAL


Surge, em meio a sal e petróleo, um novo e promissor reino, límpido, claro e transparente. Agora regido por sua majestade a Escolhida. Uma intrépida e corajosa rainha. Sob a benção do maior rei da história, o Ilusionista. Reinado que promete ser guiado pela ética e a moralidade, únicos atributos que faltaram ao Ilusionista. Nessa nova e histórica página, velhos baluartes da democracia e justiça prometem sair do armário. Após oito anos de pelegagem, muitos precisarão retornar aos bancos escolares para aprender conceitos já um tanto atrofiados pelo desuso. Para auxiliar o processo de aprendizagem cabe um resumido glossário:
Ética: conjunto de normas e princípios que norteiam a boa conduta do ser humano. Roubar, mentir, usar de meios ilícitos para benefício próprio ou de outros, não é desvio ético. Chama-se popularmente: sem-vergonhice.
Mentir: afirmar coisa que sabe ser contrária a verdade. Dizer que não sabia do óbvio ululante é o mesmo que mentir.
Roubar: se apropriar, sem autorização, de coisa alheia. O mesmo que subtrair as escondidas. Não é considerado, ainda, ofício ou profissão, mesmo que executado de forma repetida e ao longo de vários anos.Honesto: honrado, digno, íntegro. Relativo aquele que não rouba, não mente, não faz que não vê o óbvio ululante, não aceita propina, não defende a corrupção ou qualquer ato ilícito.
Trabalhar: ocupar-se em algum ofício ou profissão. Esforçar-se para fazer alguma coisa. Esforçar-se para eleger um amigo ou acobertar falcatruas alheias não é trabalhar.
Trabalhador: aquele que trabalha. O contrário de vadio (aquele que não faz nada). Quem apenas agita bandeiras ou promove bandalheiras não é, ainda, considerado trabalhador. Quem rouba é ladrão, não trabalhador. Roubar é conceitualmente crime, embora haja controvérsias sobre o tema.
Sindicato: associação de pessoas do mesmo ramo de atividades que se unem para defender sua categoria e negociar melhoria nas condições de trabalho e salariais. Não existem sindicatos governamentais ou sindicatos de partidos políticos, portanto os sindicatos devem defender os trabalhadores, não determinado partido ou qualquer governo, independente de cor ou credo. Qualquer membro de sindicato que aja contrário a esses conceitos são chamados popularmente de pelegos.
Pelego: Pele de carneiro com a lã, usada sobre a montaria, para amaciar o assento. O membro de sindicato que, ao contrário de defender os interesses de sua categoria profissional, defendem interesses próprios ou daqueles que detém o poder (os donos do poder) são unanimemente considerados pelegos.
Vagabundear: levar vida de vadio (não fazer nada). Quem vagabundeia não pode pertencer a qualquer sindicato. Não existe (em tese) sindicato dos vadios. Quem apenas mamou nas tetas públicas não é, moralmente, considerado trabalhador.
Socialismo: Sistema daqueles que querem transformar a sociedade pela incorporação dos meios de produção na comunidade, pelo regresso dos bens e propriedades particulares à coletividade, e pela repartição, entre todos, do trabalho comum e dos objetos de consumo.
Repartir propinas entre amigos, companheiros ou pelegos, ou o ato de se locupletar de verbas ou benefícios governamentais não é, na teoria Marxista, Socialista ou qualquer outro idealismo similar, o mesmo que socialismo. Chama-se popularmente de corrupção, roubalheira ou sem-vergonhice institucional ou governamental.
Democracia: Governo do povo. Regime político que se funda na soberania popular, na liberdade eleitoral, na divisão de poderes e no controle da autoridade. O contrário de ditadura e autoritarismo. Sistema de governo sonhado e idealizado por intelectuais, sindicalistas e movimentos sociais, antes dos mesmos aderirem ao peleguismo.
Peleguismo: termo não constante nos dicionários vigentes. Serve para denominar os membros de sindicatos, movimentos populares, intelectuais e similares, que se deixaram cooptar por propinas, recursos governamentais ou falsos idealismos e deixaram de lutar por ideais de democracia, liberdade e justiça social que foram, mesmo que remotamente, motivação para suas lutas, letras de músicas, textos ou discursos.
ONG: Organizações não governamentais (ou também chamadas de organizações não governamentais sem fins lucrativos), são associações do terceiro setor, da sociedade civil, que se declaram com finalidades públicas e sem fins lucrativos, que desenvolvem ações em diferentes áreas e que, geralmente, mobilizam a opinião pública e o apoio da população para modificar determinados aspectos da sociedade. Quando as ONGs recebem auxílio e incentivos financeiros do governo (aqueles que detém o poder) deixam de ser “não governamentais”, passam a ser entidades regidas, domesticadas e adestradas pelos interesses dos donos do poder. O mesmo que “Pelegos Governamentais”. Passam a defender o Governo e não a sociedade civil.

terça-feira, 2 de novembro de 2010

As peripécias futebolísticas de Poliana


Poliana sentia-se exausta! Que surpreendente jogo presenciara. Poliana adorava futebol. Era famosa por seus dribles e frases de efeito: “Pra mim, não tem jogo ruim” ou “ eu não jogo pra torcida, meu reino é a bola da vez.” Mas nesse último confronto, quase jogara a toalha e pendurara a chuteira.
Acompanhada de seus bobos e sua imensa corte, assistira encantada e perplexa ao bom e velho clássico. O estádio trepidava com o grito efusivo das torcidas. Cercada de bandeiras vermelhas Poliana, a saudosista, recordava seus velhos tempos de militante, quando buscava um ideal de justiça e liberdade. Como eram românticos e cândidos seus interesses de outrora. Suas lembranças remotas confundiam Poliana como ópio e faziam com que ela tivesse dificuldades em se concentrar na jogatina atual. Aos carrinhos do adversário Poliana gritava: é falta! Seus companheiros bradavam: Falta não, factóide! Poliana precisava mesmo se inteirar das novas regras vigentes. Em dado momento do jogo, Poliana identifica uma figura no telão. Empolgada em suas recordações dos tempos de Cara Pintada levanta e grita: Fora Collor!!! Um de seus bobos, sutil e constrangidamente lhe alerta: “Esse, agora, é dos nossos”. Poliana volta a sentar desconsertada. “Deveriam identificar melhor os times. Confundi os calções e as meias.” Ao seu lado, a torcida organizada urrava: Fora FHC! Viva o FMI! “Mas F.H.C nem está no jogo”, pensa Poliana, preferindo se manter calada desta vez. Seus velhos amigos da CUT (Companheiros Unidos no Trambique) gritavam eufóricos: Hei, hei, hei, Sarney é nosso rei! Vai que é tua Calheiros! Acabem com eles companheiros! A turma do MSTT (Movimento Só Tramóia e Trago) ameaça em cada boa oportunidade adversária: Vamo invadi! Vamo invadi!
Num dos momentos mais tensos da partida, a zaga dos petralhas se descuida e o atacante adversário corre livre para a grande área. Era gol certo. Nesse instante, do meio da torcida surge o Ilusionista, fundador do grande time. Com excepcional desenvoltura, pula o alambrado, adentra ao campo e derruba o adversário com um carrinho desleal. A companheirada vai ao delírio. “Ele é o cara, ele é o cara!” - gritam efusivamente em uníssono. O juiz prontamente ergue o cartão amarelo. Poliana, desnorteada, questiona: “mas o lugar do Ilusionista não seria a platéia?” “Cala a boca Poliana! Não vê que o juiz é dos nossos! – reclama um de seus bobos mais chegados. “Mesmo assim, não seria lance pra expulsão? – insiste Poliana. “Chega Poliana! Vá comprar pipocas!”, esbraveja um companheiro do SindiPelego, já um pouco exaltado. “As regras só valem se forem a nosso favor”, acrescenta, mostrando orgulhoso sua camiseta com os dizeres “ACM é nosso guia”. Poliana retoma seu lugar, contrariada. Observa desgostosa, que o Alquimista e algum de seus bobos empunhavam bandeiras do time adversário. Prefere fazer que não viu, é melhor não se meter com o Alquimista. Melhor mesmo era continuar calada até o termino da partida.
Ao final, a vitória. Implacável, inigualável! Vence o time da mudança, do novo, do inovador. O time de Renan, Ribamar,Fernando Mello, Zé Dirceu, Dilmão, Michel, Jader, Paulo Salim.... Poliana achava as caras um pouco batidas e conhecidas. Alguns já estavam em campo desde a copa de setenta. Mas Poliana já falara demais por esses dias. Agora era hora de ir para galera! Olé, olé, olé, olá....

segunda-feira, 1 de novembro de 2010

Entre mortos e feridos: salvaram-se todos?


No fim das contas o Bem venceu o Mal. Acima de tudo e antes de qualquer coisa prevaleceu a democracia. Essa é, e será por anos a nossa luta. De todos os brasileiros. A liberdade de vencer e a dignidade de saber perder e continuar lutando, juntos - ao menos nos discursos - por um ideal de país justo, democrático e ético. Esse ideal que é dos brasileiros, não de um partido ou de um líder qualquer, popular ou populista.
Virada essa nova e histórica página de nossa Democracia resta a esperança de que ressurjam algumas figuras importantes na história democrática do Brasil, mas que andam nos últimos anos, hibernando, acorrentadas por propinas e mensalões. Que o barulho ensurdecedor dos fogos e rojões tenha despertado a oposição, que se mantém comodamente inoperante, silenciosa e conivente com a corrupção, a roubalheira e a imoralidade reinante. Que os discursos fortes e apimentados dos últimos dias tragam de volta a voz retumbante dos sindicatos e movimentos sociais que se tornaram reles pelegos, macios e maleáveis, próprios ao conforto e comodidade dos donos do poder. Resta-nos a esperança, mesmo que pueril, de que ainda haja algum resquício de vergonha e ética sob a lama da imoralidade que cobre esse país, que ainda é nosso, dos brasileiros.

sábado, 23 de outubro de 2010

Factóides e Fantasias


O tempo anda nebuloso por aqui, apesar do sol radiante e do colorido de Horário Eleitoral. Trava-se agora uma velha e milenar luta: do Bem contra o Mal. Em nome do jogo tudo é permitido. A baixaria toma conta da grande arena verde e amarela. Ao invés do confronto de idéias e propostas há o confronto de escândalos e a exposição de mentiras. Vendem-se ilusões. Compram-se consciências. Ganha mais quem perde menos. Quem sairá vencedor ninguém sabe ainda. Quem perde é o povo, que nesse jogo tem sua única oportunidade de participar e decidir. Que difícil decisão. O Bem vem fantasiado de gnomo, doce e cândido, quase meloso. O Mal se apresenta como um fantoche, muita convicção e pouco conteúdo. Até Deus fora evocado a participar, tomar partido ou se filiar: quanta heresia!
Na guerra pelo poder, os membros do clã de Poliana, mais espertos e ardilosos que a turma de oposição, criou novas armas: os factóides. Trata-se de instrumento muito astuto e elaborado, usado tanto para defesa do Grande Clã, quanto para ataque aos adversários. O esquema funcionava dessa forma: qualquer prova ou denúncia, por mais contundente que seja, contra os ilustres e dignos representantes do clã, são sempre factóides! Ilusões de ótica ou distorções de conceitos. Pura calúnia! Em contra partida: qualquer obra, feito ou mérito comprovado dos adversários são, sem sombra de dúvida: factóides! Perseguição política, atos reacionários de uma elite que quer explorar os pobres e excluídos. Tudo muito claro, lógico e incontestável, como a democracia Cubana e a liberação feminina no Irã. Quem questiona essa lógica é sempre uma pessoa do mal. Deus (que Poliana tem certeza milita em sua causa) que tenha piedade dessas pobres almas indignas e impuras.
Na cartilha sagrada do Grande Clã, as regras e normas são perfeitamente claras e irrefutáveis. Só quem tem capacidade de discernimento e crítica é que não consegue entender. O direito de ir e vir é de todos! Todos os representantes do clã. Aos membros do clã, e somente a eles, é permitido coibir esse direito a qualquer outro reles mortal que não reze por essa magnífica cartilha. O direito a propriedade privada é indiscutivelmente de todos! Todos que sejam simpatizantes e militantes do clã. A propriedade de outros poderá ser em qualquer momento e sob qualquer pretexto invadida e depredada, desde que o ato seja apoiado e orquestrado pelo Grande Clã. A agressão física a adversários é sumariamente proibida. A menos, é claro e perfeitamente justificável, que seja executada por um angelical simpatizante do clã. Qualquer opositor que cambaleie ou se sinta ofendido física ou moralmente por estes atos, está obviamente tentando criar factóides! Iludir o povo ignorante e desestabilizar o estado de Direito do Grande Clã. A liberdade de expressão é inquestionavelmente garantida àqueles que louvam ao clã. Qualquer manifestação, minimamente contrária aos seus interesses, deve ser severamente censurada e punida, em nome da perpetuação do status quo e da soberania dos petralhas. Trata-se unicamente de justiça! A imprensa é plenamente livre para enaltecer qualquer feito do líder maior do Grande Clã: o Ilusionista. Qualquer tentativa de profanar esta ilustre figura com denúncias, acusações ou críticas trata-se da mais vergonhosa e desonesta forma de perseguição midiática. Só os membros do Grande clã é que detém o monopólio da ética, moral e honestidade. Qualquer outro cidadão que alegue ter idéia semelhante está, sem sombra de dúvida, tentando criar: factóides. Quando o clã usa de estratagemas para violar sigilo fiscal de algum cidadão é sempre com o distinto intuito de promover a transparência. Quem questionar a legalidade ou moralidade do ato está indignamente recorrendo a factóides.
Por fim, a verdade mais importante e cristalina propagada pelo Grande Clã, e repetida como um mantra por cada crédulo companheiro de fantasia e arrebatamento : essa imensa Nação, seus campos verdejantes e o céu azul anil, foram inegavelmente criados pelas hábeis e divinas mãos do Ilusionista. Antes Dele, só havia céu nublado, solo árido e deserto. Qualquer velho e bolorento livro de história que afirme que o país tenha mais do que oito anos de idade, deve ser definitivamente queimado ou escondido para não servir de base a construção de factóides.

quinta-feira, 14 de outubro de 2010


Fraterna Blogueira

Continuando a prosa doutro dia, vou esticando o laço, abrindo a armada, para tentar pialar os pensamentos que andam mais ariscos do que gato visitando canil. Porque, seja assim ou assado, mal passado ou no ponto, temos pencas de razões para ficar caborteiros e cismados, já que quando a poeira senta é que se vê o tamanho do rebuliço. E assuntando, por aqui, pelali, trelando com bolicheiros, posteiros e tosquiadores experimentados, acantonados neste findão de mundo daqui do Baixo Uruguai, entre um gole de canha e muitos dedos de prosa, vamos tirando a prova dos nove, remendando as teias das conversas e chegando às conclusões mais diversas. E a situação fica mais embaralhada do que olho de vesgo enfiando linha em agulha! Ala puctcha!
Pois este troço de votação tem dado o que prosar. Agora que o Senhor Traço Gêmeo, tido e havido como o Ministerioso, ganhou as carreiras e vai ser o novo Capataz Governador da Província de São Pedro, tão dizendo pelaí que o laço vai apertar e o nó vai ficar muito corrediço. Portanto, já tem índio aqui do Baixo Uruguai dando nó nas pilchas pra moldes de fazer simpatia e escapar dos castigos prometidos pelo futuro caudilho. Pelo sim pelo não, é deveras adequado se por mais água no feijão e menos sal no puchero pra não quedar em enrosco e desarranjos nas tripas.
Alumiando melhor o atalho desta conversa, muitos gaudérios daqui debaixo do Baixo Uruguai têm ficado com o carrapato atrás da orelha – não com a pulga, porque isso é coisa de falta de macheza – sempre que o tal de Traço Gêmeo, o Ministerioso, afirma que vai criar as tais Zonas de Compromisso – e ele insiste no tema. Então, o Traço, que é Gêmeo, diz que nas Zonas de Compromisso se entra, se negocia e se sai, ou se fica. E é aí que a porca da indiada torce o rabo, empina o focinho e grunhe de nervosa. Porcaria essa! Entonces, o remelento tá querendo acabar com a área de lazer da gauchada?! Quer dizer que daqui pra diante, pra poder descarregar os alforjes nos pelegos das Chinas, os sujeitos vão ter de assumir compromisso?! Vão ter de noivar na Zona, pedindo a mão das donzelas pra Rufiona da casa? Ora, Zona de Compromisso ou de Compromisso na Zona! E que negócio é este de entrar, negociar, sair ou ficar? Seria, por um acaso, tratar preço pra instante ou pra pernoite, como nos velhos e atuais tempos? Desse jeito, o Novo Capataz da Província de São Pedro já vai arrumando encrenca desde cedo, porque assim o macharedo, por aqui, vai apelidar o vivente de Estátua de Cavalo de Bronze, “o que não caga nem anda”! Ah! Ah! Ah!
Agora, mais triste do que baile em dia de finados é a situação da pobrezinha da filhota do Traço Gêmeo, a irrequieta, impulsiva e indômita, Prussiana Nora, que, além da insolação por ter ido ao PSol sem protetor solar, agora vai ter de voltar a receber mesada do velho. Porque ela foi buscar a lã e acabou tosquiada, foi ajeitar o ponche e caiu da montaria, ficando mais sem graça do que pônei em baia de cavalo crioulo. A avó dessa guria já dizia que ela parecia ter engolido Azougue( que é o mesmo que mercúrio metálico de termômetro) quando criança, pois era mais agitada do que água de sanga em passagem de tropa, mais escorregadia do que sela ensebada e, principalmente, mais teimosa do que operadora de telemarketing! Eta palavrório estrambótico! Viu, quem mandou ser malcriada com os mais velhos!
O certo é que o Traço Gêmeo, o Ministerioso, como um legítimo Ex-querdista, agora poderá fazer uma ampla Reforma Agrária aqui pelos pagos do Baixo Uruguai e, também, pelos do Médio Uruguai, Alto Uruguai e o entorno. Seja em Paiol Grande, em Paiol Médio ou em Paiol Pequeno, vai haver ampla distribuição de grãos, de terra e de grana para todos aqueles que aderirem ao Programa do Futuro Candidato a Presidente, Traço Gêmeo, o Carreirista!
E a peleia pra Presidência, hein?! A campanha está mais suja do que corredor de matadouro: é bosta, mijo e coice pra todo lado. Enquanto o Zé Motosserra promete fazer milagres, a Dilmachorona segura na mão do Padinho Cefalópodes Lula da Silva pra receber suas graças de graça. Aliás, os milagres do beato Lula já começam a ser verificados mesmo antes dele passar desta para a melhor. Por isso, a gente simples tem apelidado ele de Beatosalula (lembram-se do Beato Salu, da novela aquela?), o fazedor da multiplicação dos pães, dos cargos e das bolsas. Contam que aqui pra cima, num remanso profundo do rio, um cego quedou-se afogando ao cair das barrancas naquelas águas turvas, mas bastou apelar para os poderes do Beatosalula para que o milagre se fizesse – juram os narradores -, de repente o cego passou a enxergar com o Luz para Todos, começou a flutuar com o Air Bag Family (só pra esnobar a plebe ignara), e de lambuja ganhou uma vaga de Assessor Parlamentar e voltou galopando de contente para o Sua Casa, Sua Vida. Benzadeus! E tem um montão de causos tais e quais que assuntaremos noutra feita.
Enquanto tem candidata abortando todas as suas opiniões sobre o aborto e ajoelhando pra rezar apenas para não ter que tomar a extrema-unção na próxima eleição, muitos vão fazendo as malas e jurando amá-la até que sejam ptralhados pelos patrulheiros de plantão. Tem até quem jure, numa hora dessas, que Citotec é Melhoral! Ah! Ah! Ah! Dito e Feto! Digo, dito e feito! Ah! Ah! Ah!
Bagualesca, mesmo, vai ser a chuva forte e farta na horta dos Polianos, súditos e protegidos de Poliana, porque daqui pra frente o que já era cálido vai ficar caliente, vai faltar teta para o excesso de bocas. A fantástica Fábrica de Banners redobrará a produção para atender à demanda do Baixo e do Alto Uruguai, e também do Planalto Central. Porém, tudo por uma boa causa, ou seja; a causa das boas coisas da vida: poder, dinheiro e prestígio.
Enquanto isso, pra não perder o cacoete, Traço Gêmeo, o novo Sepé Tiaraju circuncidado dos pagos – não dos bagos, bem entendido?!- vai dizendo que “Esta Terra tem Dono!”, obviamente ele, Traço Gêmeo. E para reforçar os antigos projetos que ele diz que é de sua autoria, como nunca na história republicana deste país, vai lançar, além do Prouni e do Pronasci, a idéia do projeto Próstata, que, necessariamente, enquadrará, por certo com o dedo indicador, todos aqueles dissidentes ou oponentes aos seus anseios programáticos de morar na Granja do Torto em breve. O programa mais aguardado, porém, pela companheirada sequiosa e faminta é o projeto Prosnossos, cuja filosofia básica é, sem dúvida: “o que abunda dá pra todos, e o que é de todos é dos nossos”! Ah! Ah! Ah! Isso é que se chama Justiça Social com Distribuição de Renda entre os sócios!
E como cantava Mateus Teixeirinha: “Ideologia, eu quero uma pra viveeeeer!”
E vou quedando no más por aqui, pra não exceder no amargor do mate e nem repicar o fumo sem enrolar o palheiro. Porque hoje eu estou mais sestroso do que cavalo em porteira com mata-burro.
Adiós pampa mia, me voy, me voy a tierras extrañas...!
Zé Escarlate, o Rubro de Febre.

quarta-feira, 6 de outubro de 2010

Os mascotes de Poliana



Poliana sorria extasiada, era puro contentamento. Fizera bonito na foto. Nos últimos dias se dedicara inteiramente a candidatura de seus dois preciosos mascotes: Pavão e Torresminho. Precisava mostrar a seus opositores que tinha força para fazer seus pupilos emplacarem. Poliana sempre fora muito engajada e adorava posar para fotos. Sempre soubera que nascera para brilhar, por isso espalhara no reino cartazzes (há, sempre os cartazzes!!) seus ao lado de seus protegidos. Poliana, a fotogênica, ficara muito meiguinha junto a seus dois bibelôs, com seus brilhantes olhinhos de biscuit e sua coroa de estrelas.
Agora, passado o sufoco, podia confessar que tivera certo receio de que o lobby de que Pavão e Torresminho eram fruto da agricultura e da terra fizessem com que os mesmos permanecessem enraizados ao solo feito mandiocas. Infelizmente, Pavão caiu desasado, atingido pelo fogo amigo de alguns companheiros. Pobre Pavão, o que seria dele agora? Apesar de posar de agricultor, há muito não plantava uma reles mandioca. De irrigação só conhecera os rios de privilégios parlamentares que encheram por anos sua conta bancária e, é claro, a de seu clã. Da criação de porcos ficara apenas a lembrança do cheiro e da lama onde chafurdam muitos de seus amigos e companheiros de panfletagem. Não tinha domínio algum de pecuária, embora adorasse uma teta. Já sentia na alma a saudade pungente da velha e boa vaca Pátria, com suas turgidas e inesgotáveis tetas capazes de alimentar as insaciáveis bocas de mensaleiros, sanguessugas , aloprados e, é claro, os vorazes petralhas. Como Pavão conseguiria passar dias e dias em sua província sem receber uma mísera diária? Como poderia se vestir adequadamente sem auxílio paletó e se deslocar pelo reino sem receber vale combustível? Que vida dura e cruel teria seu fiel amigo. Alguma coisa precisaria ser feita para compensá-lo da ingratidão de seu povo.
Poliana, sabedora da forte e incorruptível união fraternal e desinteressada existente em seu clã, tinha certeza que seu amigo Traço Gêmeo daria um jeito na difícil situação de seu (deles), velho companheiro de ócio e panfletagem. Seu clã não poderia permitir que um dos seus tivesse que trabalhar como o resto da plebe de otários que sustentam com o suor da labuta as mordomias em seu reino. Seria o fim dos tempos! Conseguiria Pavão, um singelo carguinho e uma licença inutilidade pelos próximos anos, permitindo o merecido apoio nessa difícil fase de transição e desmame. Companheiro é pra essas coisas, oferecer uma tetinha a um parceiro em dificuldades.
Já Torresminho, quanta felicidade! Que linda figura faria ao representar o clã e o reino. Poliana sempre soubera que havia conteúdo dentro d’aquele corpinho. Embora, a exemplo de Pavão, não fosse muito chegado ao trabalho, tinha as mãos calejadas de abanar bandeirinhas e sabia como poucos fazer cara de pobre e sofredor homem do campo. O povo, e os eleitores, adoram um semblante sofrido e um português sofrível. Era certeza de sucesso eleitoral. Poliana agora dormiria tranqüila, certa de que se manteria no reinado por longos e lucrativos anos.

domingo, 26 de setembro de 2010

Contribuição a este Blog do Povo Gaudério do Baixo Uruguai


Prezada Blogueira

Ala putcha! Como se fala quando se está embasbacado aqui pelo Baixo Uruguai.
Nesses dias que ando mais folgado do que aposentado de férias, andei passando o olhar pelo tal de Blog da Poliana, num computador a gasogênio que tenho desde o Século passado, e fiquei meio que encanzinado e deveras preocupado com a situação da dita cuja. Pobre da fulana, pois é mais sofrida do que vaca com mamite dando de mamá pra bezerro esfomeado. Coitadinha desta Poliana, tão ingênua e lastimosa. Uma santa criatura caída nas garras de uma Bruxa Má que não perdoa nem uns pequenos arrepios na conduta e na ética. Mas, vamos em frente que o gado já pastou e precisa beber água!
Até andei matutando, aqui com o zíper de minhas bombachas, se a dita Poliana não seria aparentada, de longe, talvez, com o meu finado amigo Poliânus, que foi lindeiro das terras do meu patrão, e que era assim chamado a guisa de apelido porque se dizia especialista encarregado de lustrar os fiofós da bicharada durante a Exposição Agropecuária, pra que eles, os fiofós, ficassem luzidios e tinindo e impressionassem os jurados e, principalmente, a platéia. Por sinal, nunca vi apelido mais apropriado, porque se o vivente era lustrador de fiofós, só poderia ser de fato um Poliânus! Ah! Ah! Ah!
Mas, voltando à Vaca Fria, antes que ela amorne de novo, fiquei muito encasquetado com essa tramóia toda que vem ocorrendo pelaí pelos pagos afora e adentro. Pois só se acha político sério se o gajo estiver com cólicas ou já borrado nos fundilhos, porque senão é um deboche só! Por falar nisso, aqui pelo Baixo Uruguai, que fica a muitas Sesmarias de campo daí do Alto Uruguai, já tem gaudério tirando proveito da pasmaceira moral porque passa a Terra de Pindorama, com tanta roubalheira e descalabros, que o compadre Astrogildo, conhecido alambrador deste lugar, tem tido umas ideias proveitosa para lucrar com a bandalheira que assola o solo pátrio. Pois não é que o Astrogildo, do alto de seus coturnos, andou inventando a “Guaiaca-Íntima” e a “Meia-Calça com bolsos” para facilitar a camuflagem dos dinheiros mal havidos , por uns e por outros, da situação ou da oposição. Assim, não vão ter os membros da corruptalha de plantão que valer-se de carpins, cuecas, corpinhos(vide corpetes) e outras peças de debaixo da vestimenta. Bah, que baita idéia essa! Por isso tenho aconselhado o taura inventor a patentear os troços todos, antes que algum vivaldino o faça. Isso vai vender mais do que camisinha em dia de fandango na Zona!
Buenas, trazendo de volta a Poliana à baila, já nem se estranha mais isso de ficar dando Cargos e Comissões para parentes, amigos e companheiros, porque, como dizia o meu amigo Zé Dirceu: “se não tem pra todos, primeiro pros meus! Porque, no fim, no fim, um por todos e todos por mim!”. Grande Zé Dirceu, que quase finou, mas não morreu!
O Brabo mesmo – e que me deixa com prurido nas meninges – é que um Velho Peão metido a vidente aqui pelas Barrancas do Baixo Uruguai, tido e havido como Adivinhador, anda prevendo que estamos prestes a ingressar no Estado Novíssimo, ou seja, na versão atualizada e mais poderosa da Ditadura do Estado Novo, já que – acredita ele – as cartas todas estão sendo jogadas para isso: populismo, assistencialismo, idolatria, descaramento institucional, desfaçatez e, principalmente, falta de vergonha nas caras oficiais e nas dos oposicionistas de meia-tigela.
O certo é que onde antes havia Bolsões de Miséria, hoje há Bolsões de Famílias com Bolsas Família, o que pode parecer trocadilho, mas o que rende de votos é quase uma odisséia! No Horário Eleitoral Oficial – que é mais sem graça do que piada requentada e mais comprido do que discurso de gago – se fazem mais promessas do que em véspera de Ano-Novo, e, o pior, é que mesmo as tevês sendo a cores os cretinos não ficam nem um pouquinho corados.
Fico bastante encafifado com este negócio das Prefeituras criarem o chamado Estacionamento Rotativo nas cidades, do Alto e do Baixo Uruguai, e, teimam em chamar estas áreas de Zona Azul. Mas quéquéisso?! Onde já se viu tamanha porqueira? Sou do tempo que as Zonas onde havia Alta Rotatividade eram chamadas de Zonas do Meretrício, que eram sempre alumiadas por possantes Luzes Vermelhas, que, portanto, jamais eram Azuis. E, ainda, a propósito das Zonas de Alta Rotatividade, aquilo que hoje a companheirada chama de Corporativismo, e que praticam de montão, no tempo das Casas das Luzes Vermelhas as chinas tinham que botar muito o corpo em atividade para poderem ganhar os pilas do dia-a-dia, daí o Corporativismo da sobrevivência, ou seja: tinham que dar de comer à noite para ter o que comer de dia! Arre Tasca! Na verdade comprovando o Velho Ditado: “É dando que se recebe”! Adágio este muito bem apropriado pela fauna governista de plantão. Ah! Ah! Ah!
E como dizia o outro, que ninguém sabe quem é: voltando de volta, dizem que vai para a Governança daqui da Província de São Pedro – não do São Pedro Simon, o Acenador, que gesticula mais do que marionete de circo – o Senhor Traço Gêmeo, o eterno Ministerioso, que ocupou mais espaço no Paço Federal do que o Exército no tempo da Redentora. Porque o Traço, que é Gêmeo e, portanto, tem duas caras, foi ministro de quase tudo, sendo mais conhecido do que Simpatia pra Soluço. Entonces, qualquer gaudério desletrado e andarilho, como um legítimo e bom gaudério, sabe, até por ouvir falar, que quem não esquenta lugar por muito tempo tem o rabo muito quente, o rabo solto ou o rabo inquieto, ou tudo duma vez só. O estranho, mesmo, é que os Traços, que são Gêmeos, portanto, paralelos e não encontráveis nem depois do infinito, não conseguem chamar para o seu lado nem a própria cria; a Irrequieta e Serelepe Prussiana Nora, aquela que vai ao PSol sem usar protetor Solar! Oigalê, tchê!
Já que o lixo está teimando em subir na vassoura, como dizia o amigo Elesbão, só mesmo dando pranchaços de facão!
Daí, talvez só o Todo Poderoso e Universal Presidente Cefalópodes Lula da Silva, que tem os pés na cabeça e que, muitas vezes, mete os pés pelas mãos, devesse intervir na questão e, por mares nunca dantes na história deste país navegáveis, fazer uma Metida Provisória, com a Marisa insossa mesmo, para obrigar à Prussiana Nora voltar aos braços do velho e demagogo pai, Traço Gêmeo, o Ministerioso!
Só sei que o Velho e Finado Karl Marx, que aqui pelas barrancas do Baixo Uruguai, desde o tempo da Ditadura, é cognominado de Carlos Marques, só pra disfarçar, deve andar se contorcendo no túmulo ao ver tanto Ex-querdista figurando de revolucionário por aí. Por exemplo, o Traço Gêmeo, tem sido o legítimo falsificador da famosa Mais-Valia comunista, porque para ele, Traço Gêmeo, diferente do que Marx preconizava: mais valia um bom cargo na mão do que um mamão no pé e sem cargo! Ainda, se na máxima Socialista era preconizado que: “A cada um segundo sua capacidade”; o senhor Traço, que é Gêmeo, foi se capacitando, se capacitando, e...pimba!
Pra encerrar esta pequena missiva, vou dizendo que a indiada daqui do Baixo Uruguai, que anda mais por baixo do que barriga de minhoca, tem medo é que nesse fudunço todo, quando acabar o Mel as moscas vão ser tantas que, lá pelas tantas, vai ocorrer a Revolução das Moscas, daí não vai ficar bosta sobre bosta! Porque, como dizia um Índio Velho, antigo Bolicheiro daqui do Distrito: “Quando Urna Eleitoral vira penico, se for urna eletrônica, o Botão de Confirma vira Descarga e o Povo, como sempre vai fazer o papel de Fossa! E o que confirma que o Papel aceita tudo é a própria existência do bom e leal Papel Higiênico! Ah! Ah! Ah!
Adios muchachos canpañeros de mi vida!

Zé Escarlate, o Rubro de Vergonha!

terça-feira, 21 de setembro de 2010

Poliana a Injustiçada


Poliana estava roxa de inveja e raiva. Ouvira por Imprensa Livre boatos maldosos de vultuosas somas de dinheiro pagos em propinas a alguns membros de seu clã. Que injustiça! Poliana, a dedicada, não conseguira ainda, tão volumosa quantia. Nunca antes na história desse país o mundo fora tão cruel com Poliana. E ainda havia gente espalhando pelo reino que Poliana era uma menina de sorte. Que absurdo! Quanta insolência!
Poliana trabalhara muito para conquistar tudo que hoje tinha. Dera muito de seu suor em intermináveis comícios e passeatas. Fora fiel e brava batalhadora pelos interesses de seu clã. Defendera o paquidérmico projeto de apoio a companheirada (PAC). Sempre levantara a idéia de que a propina enriquece ao clã e expandia cargos, poder e votos. Com sua convicção nesse ideal de conduta multiplicara os amigos no poder. Dera cargos a medíocres, mas úteis aliados gerando centenas de empregos e muita, muita renda. Firmara alianças indecorosas. Vendera por mixaria o pouco de decência que ainda tinha. Conseguira, com um breve aceno de Vontade Política, sua varinha de condão, materializar lado a lado a Escola de Ensino Superior Poliana e o maior estacionamento público que seu reino já vira. Transformara um até então desconhecido lugarejo, na Capital Nacional dos Cartazzes. Colocara em prática o mais inusitado projeto de revitalização dos canteiros centrais, substituindo árvores por outdoors e banners, tudo muito ecológico e lucrativo. Botara em xeque as mais conhecidas e seculares leis da física ao conseguir que duas paralelas se encontrassem em um emaranhado de intersecções. Construíra moradias - pelo menos a sua estava ficando uma beleza! Fora a Capital Nacional e trouxera recursos, que se foram insuficientes era porque sempre preferira cuecas justinhas, eram mais confortáveis. Mas, mesmo demonstrando tamanho engajamento, não conseguira tanto dinheiro fácil como o destinado aos assessores da escolhida de seu guia, o Ilusionista. No ritmo que as coisas andavam por aqui, para conseguir tal montante teria de vender a preço de ouro toda a água do reino! Mas até nisso andava sem sorte, pois antigos companheiros de batalha estavam prejudicando a negociata. Ainda haviam pessoas que não entendiam a diferença entre querer o poder e estar no poder. O mundo pós-poder era muito diferente. Era preciso agradar aos seus e esquecer o resto. O povo que se alimentasse de migalhas e cartazzes. Ideais de justiça, liberdade e ética eram velhos e bolorentos discursos de Horário Eleitoral, só os tolos ainda acreditavam nessas ladainhas. E eram esses mesmos tolos que continuavam a atrapalhar Poliana. Não lhe davam sossego e estavam tirando-lhe do sério. Poliana precisava dar logo vazão a toda sua ira, por isso mandara construir mais alguns banheiros públicos. Tomara que terminem logo essa sua nova obra (talvez a única que conseguiria concluir durante todo seu reinado), pois não sabia quanto tempo ainda poderia se conter, pensa a flatulenta Poliana. Enquanto aguarda é melhor mesmo deixar as janelas abertas.

domingo, 12 de setembro de 2010

Poliana e o Ideal Farroupilha


O clã de Poliana fora conhecer um acampamento farroupilha. Quase sentiram-se em casa com tantas bandeiras a tremular, como em flashes de Horário Eleitoral. Desfilavam garbosos como reis frente a vassalos.

Mas por toda parte ouviam, do bravo povo gaúcho, palavras que não compreendiam.
Falavam, essa gente estranha, de liberdade, honra e valentia. Valores que em seu clã tinham muito pouca valia.
Poliana nunca entendera o ideal farroupilha. De que vale a liberdade de um povo e a sua guaiaca vazia. As armas que seu clã empunhava, com louvor e maestria, eram as destinadas a amordaçar rebeldia.
Qualquer alma haragana que tente se rebelar, logo o clã de Poliana tratará de cabrestear.
Na estância de Poliana uma só lei deve imperar: os fracos e excluídos com migalhas hão de se contentar, pois a riqueza dos pagos com seu clã deve ficar.
Mas o que a Poliana e seus amigos ainda não entendiam, eram brados de um povo brioso que em Campo Pequeno se erguiam.
O bravo povo gaudério, que pela igualdade e justiça sempre esteve a pelear. Não há de aceitar cabrestos, não se deixará encilhar.
Um ideal de liberdade não se deixa acorrentar. Esse pago é desse povo, que a desonra há de enterrar! No céu de nosso Rio Grande a estrela da falsidade jamais há de reinar.

Enquanto caminhavam por entre gaúchos e bandeiras a corte de Poliana escutava ao fundo o hino que tão pouco compreendiam.

“Como a aurora precursora
Do farol da divindade,
Foi o vinte de setembro
O precursor da liberdade.
Mostremos valor, constância, nesta ímpia e injusta guerra,
sirvam nossas façanhas de modelo a toda terra.
Mas não basta p'ra ser livre
Ser forte, aguerrido e bravo,
Povo que não tem virtude
Acaba por ser escravo.
Mostremos valor, constância,
nesta ímpia e injusta guerra,
sirvam nossas façanhas de modelo a toda terra!”

segunda-feira, 6 de setembro de 2010

O Mentor de Poliana


Poliana aplaudia extasiada a volta de Horário Eleitoral. Que mundo maravilhoso! Quanta cor e alegria. Tanto progresso e crescimento. Nunca antes na história desse país tudo foi tão cor de rosa. Graças, é claro, ao seu mestre e mentor: o Ilusionista.
O Ilusionista era mesmo soberbo. Capaz dos mais inimagináveis feitos. O homem que entrou para história pela ambigüidade de seu caráter e a dualidade de suas intenções. Único ser sobre a face da terra cuja mãe nascera analfabeta (e provavelmente desdentada). Conhecido em todo mundo pela solidez de sua figura e a sordidez de seus atos. Manipulador de opiniões e adestrador da opinião pública. Capaz de transformar fatos concretos e corrupção descarada em desvio ético e perseguição política.
Encantador de intelectuais e vendedor de ilusões. Sempre pronto a empunhar com alvoroço a bandeira da democracia ao mesmo tempo em que afaga ditadores sórdidos e defende a tirania. Idealizador do projeto de amordaçamento da imprensa e da liberdade de expressão. Ilustre combatente do imperialismo e imperador de déspotas e oligarcas.
Economista e mentor do projeto de inclusão de dólares em cuecas. O homem que gerou milhares de cargos públicos para os membros de seu clã. Que distribuiu com grande pompa esmolas aos pobres e mensalão aos aliados. Autor do inigualável Programa de Apoio a Companheirada (PAC), que aparelha e lubrifica a máquina pública gerando emprego e distribuindo renda a sua constelação de amigos. Cientista e pesquisador exímio, capaz de transformar álcool em etanol e sal em petróleo. Tudo com um breve aceno de Vontade Política, sua varinha de condão (igualzinha a que Poliana também ostenta com desenvoltura por aqui).
Engenheiro responsável pela transposição de dinheiro dos cofres públicos para contas privadas. Sociólogo hábil na proclamação de românticos ideais socialistas e na socialização da mediocridade e cretinização da intelectualidade.
O único ser capaz de transformar assaltante e terrorista em uma cândida e virginal criatura. Feita sob medida para jamais fazer sombra ao seu criador. A estrela capaz de levar adiante seu grandioso projeto de uma nação plenamente livre para concordar com as suas - dele e de seu clã - tramóias e falcatruas. Apta a perpetuar seu celestial plano de bestialização da nação e perpetuação da miséria, dividindo o pão com velhos e novos amigos e dando migalhas ao miseráveis e excluídos.
Poliana, deslumbrada, assiste a tudo com um misto de fascinação e inveja. “Ainda há muito a aprender”, pensa Poliana. O caminho é longo e o tempo é curto, precisaria se esforçar para atingir tamanho desprendimento e competência. Mas sempre fora aluna esforçada e com o apoio de seu guia conseguiria transformar seu reino em uma pequena e próspera ilha da fantasia.

sábado, 28 de agosto de 2010

As armas de Poliana



Poliana era pura indignação. Pessoas malévolas e mal intencionadas estavam pretendendo usar contra ela armas inventadas e idealizadas por seu clã!!! Um revoltante e descarado caso de plagio. Poliana não entendia como as autoridades competentes podiam ser tão omissas, permitindo tamanho desaforo. Se a impunidade no reino continuasse nesse ritmo em breve todo humilde servo iria se achar no direito de se manifestar como se estivesse em uma democracia qualquer! Que disparate.
Poliana tinha obscuras recordações de sua época de guerrilheira da seriedade. Nesses tempos longínquos, todos de seu clã empunhavam de forma majestosa a impiedosa lança da Moralidade e alvejavam os adversários com projéteis de ética disparados por suas inigualáveis pistolas automáticas apelidadas de Transparência. Era um verdadeiro massacre. Seu exército era mesmo implacável. Mas hoje os tempos são outros. Ética, Moralidade e Transparência são armas obsoletas e sem utilidade. Poliana tinha a disposição tecnologia muito mais avançada e de maior poder ofensivo: Mensalão e Propina. Instrumentos muito mais úteis de destruição das massas. Só Povo Honesto, Imprensa Livre e Bruxa Má é que não conseguem entender e aceitar a evolução da humanidade. Poliana já andava cansada de lidar com essa gente ignorante que não aceita o progresso. Precisava arrumar, e logo, uma forma de tirá-los de seu caminho. Essas pessoas ingênuas, quase cretinas, não conseguiam separar Horário Eleitoral de Mundo Real. Confundem fantasia com realidade. Não sabem diferenciar circo de democracia, nem percebem que a democracia muitas vezes pode ser apenas um grande circo. Por isso esperneiam desajeitados em inútil e convulsivo alvoroço.
Já Oposição, trôpega de sono, espreguiça-se e boceja, sem entender o que está acontecendo. Desconhecia Moralidade e nunca fora hábil no manejo da Ética e Transparência. Há muito deixara de lado artefatos tão primitivos. Foram seus habilidosos engenheiros os idealizadores de Mensalão e Propina. Sua obra já estava patenteada. Poderia viver tranqüila e confortavelmente apenas dos royalties. Melhor mesmo era voltar a dormir. Cooptada pelas novas e revolucionárias Forças Armadas, pretendia hibernar por muitos e muitos anos. Pronta a desfrutar o sono dos justos, aconchega-se suavemente nos macios e convidativos lençóis de sua alcova. Em uma funda e escura vala repousa o pouco de vergonha que ainda tinha. O cheiro nauseante exalado pela matéria em putrefação começa a infestar todo o reino. Precisava mandar alguém colocar um pouco mais de lama sobre a carniça, pensa Oposição, mas, acostumada que estava com o próprio cheiro, prefere dormir mais um pouco.

terça-feira, 24 de agosto de 2010

Sobre o Blog


Este blog é mantido por Kátia Schmidt Filgueras.
É um espaço para todo tipo de manifestação. Nenhum comentário postado foi ou será deletado. Toda postagem será mantida na íntegra.
Participem. Esse espaço é democrático e de todos vocês.
Agradeço a todas as críticas e manifestações. Esperam que vocês continuem fazendo seus comentários de forma democrática e participativa. Divirtam-se.
Kátia

domingo, 15 de agosto de 2010

O Carnaval de Poliana


Poliana está passada! Tivera mais uma de suas brilhantes idéias. Imprensa Livre, como sempre não entendeu. Imprensa Livre sempre sofrera de problemas de compreensão. Coitadinha. Inteligência e despreendimento não é para todos.
Ocorre que Poliana - a abnegada - elaborara um grandioso projeto de inclusão social e participação coletiva. Tudo muito democrático, participativo e festivo (como mandam as velhas escrituras de seu clã). Poliana promulgara o dia do bandeiraço livre e a licença PTernidade. Tudo para propiciar aos seus bobos da corte o direito ao pleno exercício do total descaramento e a comemoração da abolição definitiva da moral e da ética em seu reinado. Seus bobos (que adoravam uma farrinha) ficaram radiantes com tal idéia. Saíram todos, em alegre bando, às esburacadas ruas do reino portando estandartes escarlates adornados com brilhantes estrelas. Tudo, é claro, para festejar a maravilhosa campanha do soberbo e inigualável time Colorado. Poliana sempre fora incentivadora do esporte. Pessoalmente era adepta das jogadas rasteiras e da luta livre de qualquer regra ou valor moral. Como era exímia jogadora nessa modalidade, não conseguia conceber que alguém no reino pudesse se sentir incomodado com o fato de seus bobos estarem panfletando quando deviam estar trabalhando. Pois não estavam todos a serviço de seu clã? Poliana sinceramente não conseguia entender o motivo de tanto alarde! Não via qualquer problema em tais farras serem patrocinadas pelo contribuinte. O povo, todos sabem, adora pão e circo. Se falta o pão sobram cartazzes e, é claro, buracos no asfalto. A cada dia que passava mais ansiosa Poliana ficava com o retorno à Horário Eleitoral. Lá sim todos podiam erguer suas bandeiras e cantar as proféticas canções sem que falsos pudicos estragassem a festa. Enquanto Horário Eleitoral não chega, Poliana canta suas paródias de antigas marchinhas de carnaval: na avenida girando o estandarte estrelado a tripudiar...

domingo, 8 de agosto de 2010

Poliana e a fogueira das vaidades


Poliana sente o clima esquentar. A fogueira das vaidades arde como nunca. Em Horário Eleitoral era muito mais fácil contentar seus aliados e iludir seus súditos. Poliana por vezes acha que há mais gente se intrometendo em seu reinado do que seria aceitável. Está cada vez mais difícil que vários corpos - e mentes - continuem ocupando o mesmo lugar no trono. Deveria ter estudado um pouco mais de física. Em Horário Eleitoral, para superar suas dificuldades em ciências e ilusionismo, fizera um pacto irrevogável com o alquimista mor do reino. O douto da retórica e da eloqüência. Filósofo consagrado e mestre do ocultismo. Capaz de hipnotizar a todos com seu magnífico e insuperável poder da oratória. Profundo conhecedor de ciências exatas e da exatidão de suas conveniências. Capaz de manipular as massas e massificar os adversários. Este ser supremo, quase divino, agora levita soberano e imponente sobre o império de Poliana.
O pacto macabro com o Alquimista fora firmado em uma estranha e lúgubre noite, sob a luz das estrelas e em frente a chama luxuriante da falsidade. Nessa noite memorável Poliana selou o seu destino. Jurou amor e fidelidade eternos ao Alquimista. Prometera colocar os interesses deste acima de qualquer interesse seu ou de seus súditos. Tudo em troca de poder e supremacia. O Alquimista, em sua primazia e eruditismo era capaz dos mais brilhantes e engenhosos feitos. Com seu domínio da medieval técnica da transmutação fora possível transformar promessas em recursos, tolos em reis, interesses próprios em dádivas divinas, ações de outros em méritos unicamente seus. Era hábil em comprar consciências e corromper sonhos. Converter mediocridade em sabedoria. Adestrar impiedosos e históricos adversários tornando-os dóceis e subservientes micos de circo. Por seu inato dom da metamorfose transitava displicente em todos os ideais e ideologias, por todas as crenças e crendices, de São Antonio a Ogum. Eterno conhecedor dos mistérios do céu e da terra, do poder do cobre e do ouro, das negociatas e negociações. Poliana intimamente temia todo poder e sapiência deste ser magnânimo, por isso aceitava atuar como reles coadjuvante em seu próprio reinado permitindo-se ser manipulada como delicada marionete. Tudo para satisfazer aos caprichos e extravagâncias dessa excêntrica e poderosa figura. Com seu clã Poliana aprendera a lição mais valiosa de sua vida: o poder do ouro compensa toda e qualquer falta de pudor ou hombridade. “Vestes exuberantes e opulentas escondem perfeitamente a indignidade dos dejetos e excrementos. O odor se mascara com boas e caras essências”. Pensa a servil e perfumada Poliana.

domingo, 1 de agosto de 2010

Poliana - a previdente

Poliana resolveu renovar sua frota de carruagens. Com a rapidez com que os buracos no asfalto estavam se disseminando, em breve só tratores conseguiriam transitar no reino. Era preciso ser previdente. Com o tempo os buracos formariam verdadeiros tanques ou lagos onde seria possível lavar toda a roupa suja. Logo, logo poderia vender também as máquinas de lavar...

sexta-feira, 30 de julho de 2010

Menina má

Depois de seu inovador projeto de inclusão asfáltica da mata nativa Poliana teve mais uma de suas brilhantes idéias. Lançou em seu reino um magnífico projeto de cartalizzação cidadã. Ao invés de árvores, plantaria banners, cartazzes e outdoors em cada esquina e praça de seu reino. Ao contrário das plantas que trocam de folhas uma vez ao ano, essas estruturas se transformam a cada semana. Quanta sujeira! Cartazzes não precisam de água, são regados a recursos públicos. Essa é mesmo uma menina muito má.

domingo, 25 de julho de 2010

POLIANA e BRUXA MÁ - O INÍCO


Poliana acordou radiante. Receberia a importante visita dela, a Escolhida. A preferida Dele, seu ídolo e mentor. O grande líder, o guia, o guru, o messias. Ser supremo - o Magnífico! Mestre de todos os mestres. Mago do ilusionismo. Inventor do impressionismo. Descobridor do etanol. Fundador do Pré-sal. Criador do Mundo da fantasia. Por onde Ele anda milhares de estrelas surgem a sua volta. Em sua presença o céu é mais azul. O sol torna-se brilhante como nunca dantes fora. Os famintos saciam-se de sua generosidade. Os pobres enriquecem com sua sabedoria. Os tolos bebem de seu conhecimento. Todos se rendem ao seu magnetismo. O mundo coloca-se aos pés Dele, o Pacificador.
Até Oposição emudece com sua existência, e silenciosamente o idolatra. Alimenta furtivamente o antigo sonho de pertencer ao seu exército de nobres, honrados e bem vestidos cavalheiros: os Mensaleiros. Ordem de escudeiros que protegem ao Magnífico. Conhecidos por sua valentia e pelo estranho jogo de quadril que fazem durante a marcha. Contam os sábios, que para defender o grande mestre, os Mensaleiros trazem junto ao corpo, imponente arma de destruição das massas. O volume, assombroso e indecente, fica desconfortavelmente escondido junto ao corpo, depositado em largas cuecas (confeccionadas especialmente para este fim). Os maços indecorosos dificultavam sobremaneira o caminhar, sendo responsáveis pelo excêntrico e esdrúxulo gingar de seus quadris, semelhante a uma debochada e libertina dança, que embriaga
e seduz ao povo que sustenta e financia suas luxúrias.
Diz a lenda que até mesmo Bruxa Má já fora seguidora do Mago dos Magos. Acompanhava-o deslumbrada, junto com uma constelação de crédulos, por todos os lugares, encantada com tanto saber e desprendimento. Até que um dia, a então jovem e virginal bruxa, se defrontou com os Mensaleiros. Havia um preço a pagar se queria seguir ao Guia. Precisava mostrar-se capaz de abnegação. Deveria ofertar uma espécie de dízimo. Escolha difícil, aquela. Era preciso presentear ao Mago com seus sonhos ou seu cérebro. Bruxa Má, vaidosa e fútil, preferiu manter seu atrofiado e inútil cérebro. Entregou aos mensaleiros todos os seus sonhos e foi condenada a vagar pelo mundo sem cultivar ilusões. Sem sonhos, tornou-se uma asquerosa e flatulenta figura. Incapaz de qualquer sentimento mais nobre. De sua boca saiam apenas corrosivas e nauseabundas palavras ácidas que ela, rancorosa e alienada, dirigia sempre ao seu antigo guru e seus sectários. E foi assim que Poliana tornou-se alvo desse malévolo e repugnante ser. Poliana nunca conseguira entender, que os fins não justificassem os meios. Para ela todos os meios deveriam ser usados para alcançar aos seus fins e, é claro, aos de seu clã. Ideologia, mundo melhor, sempre foram apenas lugar comum. Singelos e proféticos discursos de Horário Eleitoral. Servem apenas para ludibriar os tolos e ignorantes que seguem cegamente ao seu clã. “Não é possível que alguém, em sã consciência acredite realmente nessas falácias!”, pensa a despudorada e maquiavélica Poliana.

OS BOBOS DE POLIANA


Poliana precisa se distrair, arejar a cabeça. Decidiu tornar Mundo Real mais parecido com Horário Eleitoral, assim seus súditos ficarão mais felizes. Encomendou de seus bobos da corte, enormes gravuras de rostos alegres e sorridentes para embelezar todo o reino. Faixas, cartazes e propagandas mostrando a vida como em Horário Eleitoral. Tudo muito arrumado e colorido. Para admirar essas maravilhas é preciso olhar para cima e assim não se percebe os buracos no asfalto. Idéia brilhante! Poliana sempre fora muito esperta. Mas apesar de seus esforços, ainda há plebeus ingratos reclamando, pedindo, questionando. Gente de visão limitada que não entende que participação, confronto de idéias, diálogo franco só existe em Horário Eleitoral. Em Mundo Real tudo isso é enrolação.
Nos últimos tempos até mesmo alguns curandeiros de seu reino deram de se rebelar. Queixam-se dos baixos salários, do excesso de doenças e doentes, da necessidade de se investir em prevenção e em melhores condições de trabalho. Falam eles, os tolos, em valorização profissional. Poliana não entende de onde surgiram idéias tão estapafúrdias! Valorização deve-se dar aos amigos, não a quem mereça. Poliana valorizava muito seus bobos da corte. Estes sim eram de grande valia. Sempre faziam Poliana rir. Nunca a contrariavam. Estavam sempre prestativos e solícitos, prontos a lhe adular. E eram tantos, que quase não se podia contar. Era impressionante a capacidade reprodutiva de seus bobos. Quanta fecundidade! Já os curandeiros, além de não se reproduzirem com igual eficiência, eram, na maioria, pessoas taciturnas e sem atrativos. Só falavam em coisas desagradáveis como enfermidades, moléstias e sofrimentos. Não sabiam contar piadinhas e eram péssimos em bajulações. Que serventia teria essa gente para Poliana? Certamente nenhuma! Ocorre que talvez o povo pudesse sentir falta dos curandeiros, caso estes viessem a faltar. O povo adora doenças e lamúrias! É preciso alguém para entretê-los e ouvir suas mazelas, enquanto Poliana e sua trupe se divertem. A essa altura, Poliana já aprendera que curandeiros não brotam do chão, mas alguns de seus bobos lhe confidenciaram que às vezes eles caem do céu em breves pancadas de chuva. Poliana acredita, por isso espera tranqüila e paciente, enquanto uma densa e escura nuvem cobre seu reino.
Enquanto aguarda, Poliana precisa acalmar aos insatisfeitos e contentar seus amigos. Para isso, criou um novo e hilariante jogo. Trata-se de um complicado processo, integrado e integrador, de participação coletiva e cidadã na inclusão de novos glúteos em velhas poltronas. Tudo muito divertido! Seus aliados adoraram a brincadeira, batiam palmas e cantavam alegremente. Ninguém podia deixar a poltrona esquentar. Ao menor sinal de calor todos corriam saltitantes e fagueiros até a poltrona mais próxima. Se alguém importante ficava de fora, Poliana - astuta como só ela - prontamente resolvia: comprava novas poltronas ou mandava queimar alguém na fogueira das vaidades. Tudo para divertir seus asseclas. Alguns plebeus, com sempre, não acharam graça em tal jogo. Fazer o quê? Senso de humor não é para todos.

POLIANA - A ESTRATEGISTA


Poliana sente-se pressionada. Quanta insegurança! Lembra-se vagamente de palavras vazias jogadas ao vento em Horário Eleitoral. Promessas apenas. Feitas para serem, como sempre, esquecidas após algum tempo. Ela mesma já nem lembrava mais. Dissera apenas o que o povo queria ouvir. Está certo que seus maquiadores e bobos da corte tornaram suas promessas maiores e mais bonitas do que seria possível em Mundo Real. Mas o povo adora colecionar ilusões. Que mal pode haver em dar-lhes um pouco de fantasia? Agora todos clamam por segurança. Poliana muito tem feito pela segurança em seu reino. Só quem enxerga não consegue ver. Todos os seus amigos estão se sentindo muito mais seguros de sua amizade. Seus bobos da corte sentem-se seguros de que suas tolices são as mais sábias e seus trejeitos os mais engraçados. Seus aliados estão cada dia mais seguros em suas poltronas. Para provar sua preocupação com a segurança ambiental mandara que as árvores de uma recém inaugurada e inútil via pública fossem fortemente pavimentadas e asfaltadas, num inovador processo de inclusão asfáltica da mata nativa. Mas nada disso parece suficiente. O povo ingrato quer mais! A aflição chega a dar certa insegurança em seus esfíncteres. Se não tomar providências as coisa poderão cheirar mal.
Poliana sabe que nem mesmo as macaquices habituais de seus bobos e magos nos espetáculos da OP (Orquestra Partidária) conseguirão contentar aos insatisfeitos. Precisaria de reforços espirituais. Decidiu apelar a Santo Jorge, o padroeiro das causas mal definidas, obscuras, inconsistentes e inconstitucionais. Entidade espiritual que andava incorporando em outros terreiros. Com a pajelança de Santo Jorge e os rituais de ilusionismo da Orquestra Partidária, Poliana tinha fé de que conseguiria acalmar seus súditos. Seria tarefa árdua. Necessitaria de muita magia, música, luzes e pirotecnia. Palavras bonitas e vazias. Devia falar muito sem nunca dizer nada. Mais do que antes era preciso fazer com que o povo visse serventia no que é inútil e fundamento na inconsistência. Precisariam sentir-se sujeitos atuantes na construção de um projeto que mesmo alicerçado na lama seria sólido como as promessas de Horário Eleitoral. Era preciso fazê-los crer que em solo árido e de árvores estéreis é que se colhem os mais doces frutos. O povo precisaria acreditar que necessita do que não lhe faz falta. Desejar e aceitar o que para ele não teria qualquer proveito e ainda sentir-se seguro na insegurança. Poliana - a crédula - sabe que com toda sua fé e devoção, conseguirá superar as agruras e obstáculos em seu caminho. Como diz o ditado: “A servidão dos tolos é a serventia dos espertos”. Poliana, agora, poderia dormir tranqüila.

POLIANA EM DEFESA DE SEU CLÃ


O sol voltou a brilhar em Mundo Real, mas nem isso trouxe alegria à Poliana. As coisas andam difíceis por aqui. Não bastasse Imprensa Livre a lhe tirar o sono, agora uma bruxa má deu de lhe contrariar. Poliana não entende de onde surgiu essa velha, feia e gorda, que joga palavras ácidas sobre seu reinado. Pessoa assim, tão mal intencionada deve ser membro do seu clã rival: Oposição. Tanto em Mundo real como em Horário Eleitoral, não é admissível que alguém tenha opiniões sem pertencer a algum clã. Deve haver qualquer interesse escuso, Poliana tem certeza. O que lhe causa estranheza é que até Oposição parece não gostar muito dessa bruxa agourenta, deformada e sem estirpe. Estranho, muito estranho.
Dinheiro, dinheiro, dinheiro! Imprensa Livre, Oposição, Bruxa Má, todos só pensam em orçamento, gastos, recursos. Povinho avarento, miudeiro, sem visão. Não sabem eles que dinheiro abunda em seu reino? De que vale ter tanto se não se pode ajudar os amigos, gastar em futilidades e alegorias? Coisa de gente de alma pobre! Falam eles - os ingratos - em transparência, ética, moralidade... famosas retóricas de Horário Eleitoral, puro blá-blá-blá. Está nas velhas escrituras que regem as normas de conduta de seu mundo: quem dá aos seus, sustenta o clã e colhe poder e carguinhos (espécie de moeda virtual, muito difundida em seu reino). Que mal pode haver em se distribuir pequenos mimos aos companheiros que sempre lhe apoiaram e adularam? Àqueles que lhe massagearam o ego em momentos difíceis. Que falavam apenas o que Poliana queria ouvir. Se não for dar aos seus a quem daria?! Ao povo, certa feita, não haveria de ser. Este só deve receber agrados em doses homeopáticas, administradas a cada quatro anos, em épocas de festividades, quando só então poderão retribuir e valorizar todo o desprendimento e compaixão de Poliana, a caridosa.
Poliana precisava arrumar uma forma de agradar aos seus e ludibriar Imprensa Livre. Para auxiliá-la, convocou o ilustre Comitê de Estudos e Estratégias em Politicagem Ostensiva (CEEPO), importante grupo de conselheiros de seu clã. Velhas e sábias raposas, estrelas de primeira grandeza, capazes das mais brilhantes idéias, donas de todas as certezas. Após dezenas de reuniões, assembléias, pautas, convocações, atas, convenções, pré-convenções, consultas as bases, apartes e questões de ordem os grandes mestres chegaram a solução para o problema. A grande estratégia consistia em um conjunto de ações complexas e apuradas. Poliana deveria limpar o que já estava limpo, arrumar o que estava em ordem, persistir sempre nos mesmos erros, concluir o já acabado, inaugurar e reinaugurar repetidamente as mesmas obras, trocar nada por coisa alguma e principalmente dar novos e pomposos nomes para tudo que até então já existia. E a lição mais sábia e profunda proferida pelo oráculo: não importa a relevância do ato o que importa é o número de cartazes, faixas, propagandas, folders e banners que ele pode render. Tudo para o clã, com o clã e em nome do clã. Poliana, extasiada, suspira aliviada. Agora sim seu reinado estaria seguro, ninguém em Mundo Real seria capaz de identificar tão elaborada operação estratégica, pensa Poliana - a ardilosa.

A FÁBULA DE POLIANA


Poliana anda triste, desanimada, nostálgica até. Sente saudades de Horário Eleitoral. Este sim era lugar bom de se viver. As pessoas eram alegres e festivas. O céu era sempre azul, nunca chovia. Sem, chuva também não havia barro ou buracos no asfalto. Crianças limpinhas e perfumadas corriam saltitantes para seu colo. Não havia ranho, remela, meleca ou piolhos. Os velhos não pareciam tão velhos, e os doentes esbanjavam saúde. Se tropeçava nas palavras, era só editar. Se a imagem não lhe agradava: photoshop. Todos, absolutamente todos os problemas eram resolvidos com um simples aceno de Vontade Política, sua varinha de condão.
Aqui em Mundo Real, tudo é diferente. Vontade Política teima em não funcionar. Pessoas fazem cobranças, críticas, denúncias, queixas. Não é possível editar. Existe a tal Imprensa Livre, sempre a se manifestar. Quem diabos libertou essa fulana?! Certamente algum crédulo sonhador que não compreende que Imprensa Livre e Democracia são personagens das fábulas de Horário Eleitoral. Servem para entretenimento apenas. Não devem ser levadas a sério. Imprensa Livre anda passando dos limites. Tripudia até de sua magnífica obra de engenharia, capaz de ludibriar até as leis da física ligando Nada a Lugar Nenhum. Não entendem, os tolos, a importância histórica de tal feito.
No Mundo Real, até mesmo a mais notável produção de seu reinado, a fundação da Escola de Ensino Superior Poliana, não foi um ato de sua Vontade Política. Com sorte, após dezenas de festas de inauguração, discursos e comemorações seus súditos acabem acreditando que sua varinha de condão materializou sozinha este antigo sonho. Sonhos e ilusões alimentam o povo tanto em Horário Eleitoral quanto em Mundo Real.
Em Horário Eleitoral havia tanta saúde. Os doentes não precisavam nem sair de casa, curandeiros desabavam em suas cabeças, solícitos e atenciosos, trazendo maravilhosas poções milagrosas de pura vitalidade. Poliana não entende! Em Mundo real, não sobram curandeiros! Eles não nascem do chão como musgo ou ervas daninhas! Seus bobos da corte sempre diziam que haveria curandeiros em número suficiente, e que eles trabalhariam de graça, apenas por pão e circo. Poliana nunca fora boa em matemática, por isso acreditou. A culpa deve ser da chuva que teima em cair em Mundo Real. Deve ter afogado os curandeiros que já estavam brotando dando lugar apenas a buracos no asfalto. Em breve, Imprensa Livre reclamará também dos buracos. Que mundo cão!
O que tranqüiliza Poliana é a chegada dos Jogos Mundiais. Nessas épocas de festividades, Imprensa Livre deve voltar os olhos para outros reinados, deixando Poliana descansar. Poliana adora os jogos. São tantas os rostos alegres e as coloridas bandeiras tremulando, igualzinho em Horário Eleitoral. Enquanto os jogos não começam, Poliana se distrai nos espetáculos da OP (Orquestra Partidária). Nesses eventos seus bobos da corte e magos regem de forma primorosa sua orquestra. Conseguem com muita aptidão e magia convencer os espectadores presentes a querer o que nunca almejaram e alcançar o que jamais precisaram, no mais fantástico festival pirotécnico e de ilusionismo já existente. Poliana vai ao delírio! É pura catarse.