sábado, 29 de janeiro de 2011

Entre crenças e crendices


Mais problemas na vida de Poliana. Precisara alterar o trânsito próximo ao seu castelo. Fontes seguras lhe asseguraram que em breve uma imensa caravana chegaria ao reino. Esse comboio era formado por centenas de curandeiros que ambicionavam trabalhar para a famosa rainha. A chegada súbita de tantos veículos provocaria um imenso engarrafamento, não fosse a perspicácia de Poliana e de seus prestativos bobos. A questão agora seria, onde acomodar tantos curandeiros assim. Começaria dispensando um ou outro da sua tropa atual. Alguns davam mais dor de cabeça e desgosto do que a doce e meiga Poliana merecia. Depois precisaria abrir novos serviços. Pensava em oferecer saúde em casa, uma idéia fantasiosa e distorcida que fazia milagres em Horário Eleitoral. O projeto era realmente mirabolante. Conseguia, quase sem custos, erradicar todas as doenças e dissabores do reino. Os curandeiros simplesmente saltavam de helicópteros e tapetes mágicos e caiam de pára-quedas sobre as residências dos doentes com milagrosas poções da mais pura e legítima saúde. Bastavam alguns goles e poucas palavras mágicas e todas as moléstias desapareciam. Para casos mais resistentes cada curandeiro trazia consigo sua varinha de condão. Bastava agitá-la e proferir mais algumas palavras difíceis e todas as mazelas sociais, culturais ou vitais transformavam-se em alegria e contentamento. Era como ópio. O povo eufórico referenciaria Poliana. O mais importante de tudo era que os curandeiros trabalhariam apenas e tão somente por amor e devoção a majestosa Poliana. Se em Horário Eleitoral o dito projeto funcionava tão bem e rendia tantos votos, era impossível que em Mundo Real algo pudesse dar errado. Seus bobos lhe asseguraram que tudo correria como sua rainha sonhava e almejava. Poliana, que há muito não visitava Mundo Real, acredita. Recostada em suas almofadas, cercada de pajens e ilusões, Poliana assiste encantada seus românticos episódios de Horário Eleitoral.

sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

Poliana no Reino das Maravilhas


Poliana assumira nova personalidade. Ano novo, cara nova. Agora ela se mostraria ao público uma rainha mais decidida e exigente. Estava farta de ouvir de Imprensa Livre comentários maldosos sobre sua postura como soberana. Iria mostrar a todos como era enérgica e firme em suas convicções. Faria seus bobos da corte correrem atrás do prejuízo de tantos meses sem conseguir executar sequer uma ação que pudesse aparecer em seus belos e numerosos outdoors. Ninguém mais no reino, nem mesmo Poliana, agüentava ouvir novamente o mesmo blá, blá, blá sobre a importância histórica e a inigualável conquista da Escola de ensino Superior Poliana ou da construção magnífica e dispendiosa da avenida ligando Nada a Lugar Nenhum. Até o festival anual de ilusionismo e pirotecnia da Orquestra Partidária (OP), já estava se tornando cansativo e repetitivo. Decorridas tantas luas, já era tempo suficiente para que algo mais saísse do chão em seu reino. É bem verdade que houve em seu reinado a louvável construção do importante mictório coletivo, mas Poliana preferia não se gabar muito do feito para não enfurecer a já desarranjada Oposição. Não queria provocar inveja. Poliana sempre fora muito humilde. Ocorre que seus súditos já estavam demonstrando certa impaciência com a morosidade na transformação de promessas em realidade. E o povo ingrato adorava reclamar. Estava sempre inventando problemas que Poliana e seus asseclas nem percebiam. Era tudo questão de ponto de vista. Dentro de seu castelo, cercada de sonhos e alegorias, Poliana não conseguia enxergar o motivo de tantas queixas e descontentamentos. A miopia de seus bobos também não lhe ajudava em nada. Mas, enquanto ainda estivesse viva e saudável a maldita Democracia, Poliana precisaria agüentar calada todas essas lamúrias sem fundamento. Longe de Horário Eleitoral a vida era realmente muito mais árida e difícil, Poliana a duras penas aprendia.
Para calar todas as línguas maledicentes Poliana fora clara e rígida com seus bobos: queria ver seu reino colorido e os súditos satisfeitos como em Horário Eleitoral! Não aceitaria mais ouvir desculpas ou reclamações! Todos eles, os bobos, precisariam apresentar a sua rainha um mundo de gloriosos feitos. Seus bobos, assustados, corriam afobados para satisfazer as exigências da temível Poliana. Seriam dias de muito trabalho, pois todos precisavam mostrar serem merecedores de seus tronos. Para cumprir suas metas encomendaram uma maior e mais blindada redoma de vidro para embalar Poliana. Mais alguns pajens seriam contratados para não permitir que sua majestade fosse incomodada por pessoas com opinião própria ou senso crítico. Enormes barris do mais puro perfume foram espalhados pelo palácio para camuflar o cheiro do lixo que se acumulava fora dos muros do castelo. Cada bobo elaborou, com a indispensável ajuda do photoshop, belos álbuns mostrando um novo reino. Um reino harmonioso onde ilusões tornavam-se obras concretas, sem qualquer esforço e em um piscar de olhos. Repleto de pessoas sorridentes e felizes. Onde não havia críticas ou críticos e recursos caiam do céu como recompensas divinas a todas as boas intenções de Poliana. Um deslumbrante mundo onde flores brotavam dos buracos no asfalto e sólidas construções emergiam em meio ao lixo. Onde as até pouco tempo desrespeitosas e intermináveis filas de doentes eram milagrosamente substituídas por uma multidão de curandeiros ávidos por trocar seus serviços por pouco pão e muito circo. Poliana suspirava deslumbrada. Agora tinha certeza de que escreveria um importante capítulo de sua história: Poliana no Reino das Maravilhas.

segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

As Olimpíadas de Poliana


A paz imperava no reino de Poliana. Muita calmaria e pouco e lixo. Para afastar o tédio, Poliana até conseguira brincar com seus fascinantes bobos da corte. Passou agradáveis horas se divertindo com seus mascotes, todos tão alegres e prestativos. Primeiro jogaram a dança das cadeiras, em nova versão, agora dedicada ao alto clero e não mais aos humildes servos. Depois foi a vez do Cara a cara e Olho no olho. Quem conseguisse sustentar o olhar penetrante de Poliana por mais tempo, continuava no mesmo trono por mais alguns meses. Por fim, o desafio coletivo Faça tudo o que o mestre mandar. Todos os seus bobos conseguiram chegar sãos e salvos ao final da cansativa gincana de Poliana. Tudo para garantir seus tão desejados e merecidos carguinhos. Pelo visto, teriam de suar a camisa até a próxima edição das Olimpíadas de Poliana. Haja fôlego!

quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

A festa dos ratos no reino de Poliana


Algo cheirava mal no reino de Poliana. E não era apenas o odor exalado por Oposição, que se decompunha rapidamente. A sujeira do reino parecia ainda maior que a imundice dos reinantes. Enquanto seus súditos gritam, reclamam e vomitam, Poliana e seus asseclas torcem o nariz diante de tanto alarde. Não entendiam o motivo da comoção popular e não demonstravam muita disposição em varrer o problema. Não havia motivo algum para pressa. Lixo se deteriora e desaparece com o tempo. Era só esperar.
Ao povo, decente e limpo, faltava compreensão e entendimento de que sua ilustre corte há muito se acostumara com o cheiro nauseante de seu caráter deteriorado, de moral degenerada e atitudes apodrecidas.
Um povo que, mesmo acostumado a se alimentar dos restos e sobras da mesma (sempre a mesma) casta asquerosa, ainda crê e espera. Confia que a cada ciclo de quatro anos surja dos dejetos um caráter puro ou uma ideologia cristalina e límpida.
Não sabem, os crédulos, que em meio a podridão e excrementos nascem e crescem apenas moscas, vermes e ratos.