sábado, 25 de dezembro de 2010

A Situação de Poliana


Poliana estava deliciada. Nem mesmo seus adoráveis e esforçados bobos conseguiram lhe proporcionar tamanho divertimento. Há muito, Poliana não dava tantas gargalhadas. O riso, agora, lhe saía frouxo. Com que sofrível espetáculo Oposição presenteava a platéia. Um verdadeiro pastelão. E Poliana que havia torcido para que oposição não despertasse! Quanta tolice. Nem em seus sonhos mais otimistas imaginara que poderiam ser tão amadores, os coitados. Com elenco tão medíocre, era de surpreender que tivessem conseguido se manter tanto tempo em cartaz. Até o mais estúpido de seus bobos era capaz de perceber que o narcisismo reinante seria novamente a ruína de Oposição. Poliana até então acreditara que golpes baixos e jogadas rasteiras eram monopólio de seu clã. Esquecera a jovem rainha - cada vez mais soberana - que Oposição estava a mais tempo no mercado e conhecia todas as artimanhas e jogatinas. O que realmente causava espanto era vê-los usando as velhas e surradas táticas uns contra os outros e todos a favor de Poliana. O show mal chegara a metade e Oposição já se contorcia agonizante antevendo o momento da derrocada final. Nem mesmo o grande e respeitado diretor Zangão, o sisudo, seria capaz de corrigir tamanha falta de talento de seus atores. Pobre Zangão, pensava a condoída e solidária Poliana. Estava mesmo precisando de férias. Bastara se afastar por poucos meses do reino e sua trupe já conseguira promover tanta confusão e palhaçada. Seus - os dele - fiéis e servis súditos chegavam a ser quase tão incompetentes e atrapalhados quanto o exército de bobos de Poliana. Nesse quesito ao menos ambos se igualavam. Ao velho Zangão provavelmente já faltavam forças para massagear tantos inflados e narcísicos egos. Por isso escolhera descansar. Mas, a cautelosa e oportunista Poliana, ainda preferia aguardar até o final do espetáculo. Uma velha raposa, nem sempre é uma raposa morta. Convinha a todos assistir o desenrolar do enredo.

sexta-feira, 24 de dezembro de 2010

Os pedidos de Poliana ao velho Noel


Poliana, concentrada, fazia seus pedidos a Noel para o novo ano que se iniciaria. Esperava que lhe mandasse chuva. Não em exagero, formando novos e indesejados buracos no asfalto – quase uma marca registrada de seu reinado. Mas em quantidade suficiente para garantir que as fontes de água não secassem. Era imperioso que não faltasse água, a fim de manter no esquecimento de seus súditos tema tão delicado. Poliana fizera algumas promessas no ano que se findava, mas que se revelaram uma incômoda pedra em suas sapatilhas. Sempre defendera, pelo menos na retórica, a tese da discussão e participação popular sobre temas de interesse coletivo. Mas, nas atuais circunstâncias, os interesses coletivos, colidiam inadvertidamente com os interesses de seu clã e de velhos amigos do SindiPelego. Por isso, Poliana torcia para que os céus lhe mandassem boas e abençoadas chuvas livrando-a de maiores tormentas e tormentos.
Pedia ao grande Pai, o Ilusionista, e sua fiel discípula, a Escolhida, que fizessem jorrar recursos sobre seu iluminado reino. Sem recursos, Poliana a duras penas aprendera, obras e promessas ficavam restritas ao papel e, é claro aos cartazzes e outdoors. Poliana não sabia por quanto tempo conseguiria alimentar seus súditos apenas com promessas e propagandas.
Poliana orava a cada noite, que Oposição continuasse placidamente a hibernar. Que suas cada vez mais frágeis alianças, se mantivessem, pelo menos nas aparências, convenientemente equilibradas. Que em seu vasto e decorativo exército de Bobos, conseguisse encontrar pelo menos um que demonstrasse ser de alguma serventia.
Que conseguisse renovar suas forças e aprimorar sua habilidade em massagear egos sensíveis. Que as cadeiras e tronos de seu palácio suportassem todos os infindáveis glúteos que precisava acomodar.
Que continuasse a esbanjar criatividade, papel e recursos públicos em seus belos e dispendiosos cartazzes.
Que não faltassem tetas a tantas bocas sedentas e que os cofres não secassem jamais. Que Imprensa Livre fosse domesticada e que todas as bruxas fossem expulsas do seu reino.
Que os espetáculos pirotécnicos da OP (Orquestra Partidária) fossem, a cada dia, mais gloriosos, arrebatando seus humildes súditos, vendendo sonhos e colhendo bons e prósperos votos de que dias ainda mais auspiciosos e lucrativos virão.
E por fim, seu mais importante pedido: que lhe sobrasse inspiração para novas e vazias promessas e desculpas, e que seus pouco exigentes súditos continuassem a saciar-se plenamente de sonhos e ilusões, tornando seu reino uma bela e alienada ilha da fantasia.

sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

Um Troféu à Poliana


Em frente ao espelho Poliana sorria satisfeita. Estava cada vez mais orgulhosa de suas proezas. Tinha certeza de que conseguira surpreender a todos com sua sagacidade e inteligência. Seus esforços foram recompensados com o merecido troféu Rainha no Gerenciamento Sustentável Sustentado pelos Súditos. Dessa vez, tinha certeza, deixara Oposição roxa de inveja. Nunca antes na história de todo o reino alguém conseguira fazer tão pouco com tanto estardalhaço. Por cada canto em que se passava era possível ver o que faltava. Mas para cada coisa mal acabada ou não começada havia sempre uma promessa ou um vistoso outdoor. E o povo, todos sabem, adora promessas e ilusões. Poliana sabia como poucos plantar falácias e colher bons e suculentos frutos. Frutos que seriam, como sempre, divididos entre seus inúteis, mas criativos bobos e aliados. Ao povo, é claro, sobram os bagaços.
“Espelho, espelho meu! Existe no reino alguém mais astuta do que eu?” – pergunta a deslumbrada Poliana a um espelho mudo de espanto e asco.

domingo, 12 de dezembro de 2010


Poliana sentia-se entediada. O tempo cinzento e chuvoso tirava o brilho de seus enfeites natalinos e acentuavam o ar de decadência de seu castelo. Até seus adoráveis Bobos não lhe divertiam mais como antes. Na verdade, já andava cansada da maioria deles. Mas, por tras de cada Bobo havia muitos interesses e influências, e Poliana não podia dar-se ao luxo de desagradar algum de seus aliados. Eles ainda poderiam lhe ser úteis em um futuro próximo. Não podendo mudar de Bobos, decidira apenas trocá-los de lugar, como objetos de decoração ou peças de xadrez. Tudo muito prático, criativo e inovador. Poliana sempre fora muito hábil em arranjos e composições. O importante agora era manter uma aparência de harmonia em sua imensa e disforme massa de egos e conveniências.

domingo, 5 de dezembro de 2010

CHUVAS DE NATAL


A chuva salvara Poliana de mais um vexame. Poliana precisava de uma boa desculpa para o atraso no início das festividades Natalinas e a chuva caiu dos céus como um presente. Ufa, que alívio! Mais uma sabia lição Poliana aprendera nesse difícil ano: assim como os curandeiros, enfeites e luzinhas não brotam do chão como musgo. É preciso dinheiro e alguém com boa vontade e competência para espalhá-los de forma harmoniosa e decorativa pelo reino.Como boa vontade e competência não eram o forte de seus bobos, Poliana já previa problemas para o Natal do próximo ano.