Numa sexta feira treze, as bruxas estavam soltas no castelo
real. Uma ensandecida Poliana convocara todos os aliados para uma reunião de
emergência. Majestosamente sentada em seu trono, com seu séquito ajoelhado aos
seus pés, a altiva monarca tratava de colocar ordem na casa e arreios nos que
ousavam lhe contrariar.
- Vamos recapitular meus servos! Quem é a rainha absoluta desse
reino?! – pergunta novamente a monarca, agitando ameaçadoramente seu cetro.
- Você, ó magnânima Poliana! – responde o adestrado grupo em uníssono.
- Quem escolhe, decide e determina?! – continua sua alteza
real.
- Você, ó magnífica rainha! – responde novamente a corte de
vassalos.
-Nossos aliados na Câmara de Vendilhões devem defender os
interesses de quem?
- Do povo! – responde um apressadinho, lembrando-se das
antigas aulas de moral e cívica e esquecido de que a moral, assim como a tal
disciplina, há muito fora abolida.
- Errado! – berra a rainha, acertando o bobo com o cetro. – A
câmara de vendilhões está a serviço da rainha!
- Então quem defende os interesses do povo é Oposição? –
pergunta o outro, ainda tonto com a pancada.
- Claro que não, seu estúpido! Oposição defende os interesses
de Oposição. Você anda assistindo muito Horário Eleitoral.
- E quem representa o povo então?
-Nós! Fomos eleitos para isso, será que você não aprendeu
nada com aquela patética Democracia?
- Mas e quando os interesses do povo forem diferentes dos
nossos?
- Nós impomos ao povo nossas certezas e vontades, com o apoio
e conivência de seus representantes vendilhões. Assim o povo acredita que seus
interesses estão representados e fica satisfeito. Simples assim! É tão difícil
de entender?
- Acho que fiquei meio confuso depois dessa pancada na
cabeça. Mas se um de nossos vendilhões aliados resolver defender o povo que o
elegeu?
- É porque está defendendo os interesses de Oposição. É um
vendilhão vendido, isso sim! E precisa ter suas asinhas e alguns carguinhos
cortados para não voar muito longe. Qualquer um que ouse pensar diferente de
Poliana precisa ter a cabeça decepada para aprender a não usá-la sem meu
consentimento. Assim se faz democracia. Alguém discorda? – pergunta sua alteza,
com o cetro em punho.
- Não! Ó democrática rainha! – respondem todos, em respeitosa
reverência, para deleite de Poliana, deusa unânime e inquestionável nesse
reino.
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