sábado, 24 de março de 2012

As Toupeirices de Poliana e sua Trupe


- Continuem cavando seus bobos. Deixem de moleza! Vamos logo com isso. – ordena Poliana para o sujo e esbaforido grupo.
- Dá uma folga, rainha. Nós estamos cansados. – reclama um dos soldados do reino.
- Por favor, Poliana. Estamos cavando há horas. Minhas mãos estão cheias de calos. Eu nunca na minha vida trabalhei tanto! – queixa-se uma estrela do clã.
- Chega de choramingação! Precisamos encontrar o que estamos procurando. E façam silêncio ou vão chamar a atenção de Imprensa Livre. – determina a impiedosa rainha.
- Mas, alteza isso é uma humilhação. Nós termos que fazer esse tipo de serviço braçal. Não tinha nem um operário do reino para executar esse trabalho sujo? Quero dizer, esse que suja só as mãos e não rende nenhuma propininha? – indaga um representante sindical.
- Isso é verdade. Logo nós, a nata da sociedade socialista tendo que por a mão na massa desse jeito. Não foi bem isso que idealizamos como revolução comunista. – revolta-se o líder do CUT (Companheiros Unidos no Trambique).
- Eu concordo plenamente companheiro. Isso é uma exploração desumana de mão de obra não qualificada. – reforça o pessoal da FarsaSindical.
- E vocês são qualificados pra fazer o que? – pergunta a rainha sibilante – Nada! Todos esses anos parasitando como membros da minha corte e vocês não conseguiram nem roubar pedra sem fazer fiasco.
- Sem essa Poliana. Nós conseguimos um bom pé de meia para o Fundo de Apoio a Companheirada. Com o montante acumulado vai dar pra investir pesado no leilão de aliados e na compra de votos do mercado negro. – argumenta um Bobo Real.
- É isso aí. Você só vai conseguir largar na frente na disputa do troféu popularidade graças ao suor do nosso trabalho árduo. – completa o líder do SindiPelego, cheio de razão.
- Apoiado, apoiado companheiro! Vamos fazer já uma assembléia da nossa categoria e votar um indicativo de greve. Não podemos continuar sendo açoitados pela chibata inescrupulosa da classe patronal. Precisamos nos unir em busca de melhores condições de trabalho e...
- Ora bolas, calem a boca seus molóides! Se algum de vocês suou um pouco na vida foi por que o ar condicionado do castelo estragou. E olhe lá, já que a maioria de vocês quase não aparece no palácio.
- Que blasfêmia Poliana! Eu passo todos os dias por lá. Pelo menos para ligar o computador e colocar o paletó na cadeira. E como assessor de marketing da rainha, tenho lindas fotos de sua majestade como protetor de tela, assim sempre parece que eu estou fazendo algo para merecer o carguinho de confiança real.
- Nisso eu sou obrigada a concordar – responde Poliana pensativa. Você é ainda o que mais trabalha dessa turma. Pelo menos, foto minha na mídia é que não falta e você também tem uma criatividade para contar lorotas que as vezes até eu acredito.
- Ah, para com isso! Aquele negócio das praças em estilo de primeiro mundo, cheias de flores e arbustos, e cercadas por dúzias de buracos no asfalto é uma piada. Qual o trouxa que cai nessa? – interrompe despeitado um dos bobos da corte.
- Buracos? Que buracos? Aquilo não são os novos vasos que estamos distribuindo no meio das ruas para atrapalhar o trânsito? - interrompe Poliana - Por falar em trânsito, aquela história de termos reduzido os acidentes em volta do castelo você tirou do chapéu. Aposto que ninguém, nem mesmo Oposição, que se acha grande coisa, se deu conta que em rua fechada não passa carro, logo não há acidentes. Salvo um ou outro velho que venha a tropeçar em nossos buracos de estimação.
- Obrigada rainha. Tomara que ninguém resolva contar a quantidade de colisões que ocorreram nas ruas onde tem tráfego.
- Ninguém vai se apegar a esses detalhes irrelevantes. Mas, chega de conversa fiada! Pensam que eu não percebi que vocês estão me enrolando só para matar o serviço? Podem continuar cavando, chega de moleza! Nossa permanência no trono depende disso.
- Mas rainha, nós nem sabemos o que estamos procurando. Por que nosso reinado estaria ameaçado com todas as emendas parlamentares e o dinheiro que juntamos para comprar votos e calar Oposição?
- Nosso banco de propinas não vai nos ajudar em nada se vocês não encontrarem o que eu preciso. Por isso cavem mais fundo.
- Você esta nos deixando preocupados Poliana. O que é que é tão precioso a ponto de nos fazer trabalhar de verdade e ameaçar nossa permanência no poder.
- Água, seus inúteis! Temos de achar água, e logo! Não sei até quando vamos continuar enrolando os súditos com essa conversa mole de que a situação do abastecimento está sob controle, que não há risco de racionamento e que nossa apatia vai fazer jorrar água pelo ladrão. Parece que São Pedro, ao contrário de Santo Jorge e São Antônio, não compactua com nossos desvios éticos. Resolveu castigar meu reinado com chuvas torrenciais para semear buracos no asfalto no inverno e fechar as torneiras, secando nossa promessa de transposição de votos, no verão.
- Essa não! – apavoram-se os empoeirados companheiros da rainha.
- Por isso continuem cavando! Seus adorados carguinhos dependem disso. Vocês só vão parar quando acharem a bendita água. Enquanto isso, eu vou continuar subindo as escadas do castelo de joelhos pedindo perdão dos meus pecados. – anuncia Poliana, a apanhadora no campo de ilusões.
- Ih, estamos fritos! Se depender do perdão de todos os pecados da rainha, nós vamos cavar até o pré-sal e ela vai acabar com os joelhos em carne viva – choraminga um aliado da rainha, reiniciando resignado seu árido e improdutivo trabalho.

sábado, 17 de março de 2012

O Estratégico Alinhamento da Rainha


Os bobos da corte, perfilados e em posição de sentido acompanhavam o andar austero de Poliana. A rainha empertigada, vestida com o uniforme do BOPE, gritava ordens para sua tropa:
- Todos devem estar perfeitamente alinhados. Alinhamento é a única coisa a sustentar nosso trôpego e putrefato reinado. Para todas as coisas que deixamos de fazer traremos ao debate a importância de nosso alinhamento. Precisamos despistar os adversários e enrolar os súditos.
- Mas o que é esse tal alinhamento? – questiona um soldado da tropa real.
- Alinhamento é o nome dado por nós a velha estratégia criada por Oposição e competentemente aprimorada e modernizada por nosso clã, para garantir a eterna manutenção do poder.
- E como funciona esse negócio?
- Não é negócio, é negociata. Trata-se de um gigantesco programa de alinhamento auto- sustentável sustentado pelos súditos. Em síntese: um fundão. Fundo de Apoio a Companheirada.
- Nossa, que coisa complicada. – escabela-se a representante da FarsaSindical.
- Não é nada complicado. É tudo muito simples e lucrativo. De onde vocês, seus inúteis, acham que vêm o dinheiro para financiar todas as suas mordomias e extravagâncias? Vocês achavam que passaram a vida inteira vadiando, fazendo passeatinha e vendendo utopias com dinheiro de quem? Dos Deuses? – ironiza Poliana, com o humor um tanto cáustico.
- Dos deuses não, mas da Igreja com certeza – sussurra maroto o barrigudo membro do MSTT (Movimento Só Tramóia e Trago).
- O Fundão funciona assim – continua a rainha, senhora da situação - Em todos os reinos dominados por nosso clã cobramos de cada companheiro ou aliado uma taxa, uma espécie de dizimo, para a manutenção do poder. Esse valor incide também em toda propina que a companheirada conseguir extrair dos súditos e dos cofres públicos. Os recursos acumulados nos reinos são investidos na compra de títulos de capitalização conhecidos como votos. Quanto mais votos nosso clã conseguir, mais dividendos receberemos. Esses dividendos podem vir na forma de emendas parlamentares, carguinhos ou obras públicas de interesse privado.
- O que são obras públicas de interesse privado? – questiona o sonolento companheiro do SindiPelego.
- São obras ofertadas por nossa organização aos sempre fieis contribuintes, com grande alarido e publicidade, e que são recheadas de superfaturamento para atender aos interesses privados de alguns dos seletos amigos de nossa confraria. No final das contas as tais obras podem nunca sair do chão, mas os recursos do Fundo de Apoio a Companheirada estarão garantidos. – afirma sua alteza, orgulhosa, continuando em seguida:
- Com as emendas parlamentares e obras públicas de interesse privado conseguimos comprar cada vez mais votos e aliados. Esses últimos, diga-se de passagem, vendem-se cada vez por preço mais vil.
- É verdade rainha. Ouvi dizer que alguns venderam até nosso valoroso ideal socialista! Um verdadeiro absurdo. Tudo obra do imperialismo e do neoliberalismo, com certeza. Estão privatizando nossa ideologia! – inflama-se, quase as lágrimas, o ortodoxo companheiro Boina Verde.
- Credo Boina Verde! Você é alienado mesmo, hein? Esse negócio de ideal socialista a gente já vendeu há muito tempo. Eu mesmo troquei o meu por um vale transporte e duas garrafas de cerveja no dia que nosso clã chegou ao poder. – tripudia um dos membros do CUT (Companheiros Unidos no Trambique)
- E eu ofereci o meu por uma teta na Câmara de Vendilhões. O salário não é grande coisa, mas é melhor que ter de trabalhar como os contribuintes otários. – vangloria-se uma robusta estrela do bando.
- É isso mesmo, o dinheiro arrecadado com a venda de nossa surrada ideologia e com a sólida sociedade com mensaleiros e canastrões continua a render muito para o clã e nosso fundão.
- Para concluir esse intrincado esquema de rendimentos, os votos comprados com os recursos acumulados do fundão servirão para conquistar ainda mais tronos, cadeiras ou tetas espraiados por todo vasto reino do Gigante Adormecido. Isso sustenta a cadeia de parasitas da Vaca Pátria, e assim nós nos mantemos, firmes como carrapatos, nessa fonte inesgotável de prazer e benesses.
- Nossa! Eu nunca imaginei que o negócio fosse tão elaborado. Eu achava que o nosso dinheiro nascia de fontes mágicas ou de ONGs. – impressiona-se um dos bobos.
- Eu fiquei em dúvida, rainha. Onde é que entram os cartazzes nesse esquema?
- Os cartazzes, seu bobo, são uma peculiaridade de meu reinado. Vocês sabem como eu gosto de ousar, por isso criei um esquema próprio. Mais bairrista e lucrativo. Pelo menos para mim. Investi em uma agremiação sigilosa chamada FARC (Força de Apoio Regional a Companheirada). Os membros das FARC além de contribuírem para o fundão devem executar aqueles servicinhos sujos e rasteiros que ninguém com um pouco de bom senso ou decência aceitaria fazer.
- Como trabalhar, por exemplo? – pergunta apavorado um representante do CUT.
- Não, não. Coisinhas tolas e estúpidas. Tipo ameaçar Imprensa Livre ou difamar Justiça. Espalhar boatos e rastejar na sarjeta para permanecer no anonimato. É uma turma que aceita qualquer negócio para manter os bolsos cheios de propinas e as entranhas desprovidas de caráter. Esse grupo sim, vale cada fatia que consome desse nosso grande bolo de locupletações. – acrescenta Poliana orgulhosa, com pose de matriarca da camorra.

domingo, 4 de março de 2012

Poliana Cibernética



- Eu não estou curtindo isso. Não devíamos ter cutucado Justiça com vara curta.
- Também acho rainha. Já temos tantas notificações pendentes.
- Eu sei, eu sei. Acho que essa história vai ser mais uma página suja a manchar nosso status.
- Já estou até vendo a arrogante Oposição toda empertigada, com o mural cheio de comentários irônicos.
- E Justiça então? Exibindo seu perfil para as câmeras, toda garbosa. Se achando o último cookie do pacote. Não respeita nem mesmo os termos de privacidade! Escutando nossas mensagens mais íntimas.
- Ainda bem que o nome da rainha ainda não foi conectado a toda esta rede de falcatruas. Nosso firewall está conseguindo blindar sua alteza.
- Não sei até quando. No vasto grupo de domínio de nosso clã alguém sempre pode deixar um link aberto para Oposição deitar e rolar. Já pensou se algum servidor resolve adicionar ainda mais lixo pela janela.
- Temos que manter essa tática de editar os escândalos e publicar apenas nossa versão distorcida dos fatos. Já estamos com todos os folders e banners de nossa realidade virtual distribuídos pelo reino. Seria interessante a rainha compartilhar ainda mais carguinhos e favores com nossa banda larga de parasitas. Este ano precisamos manter um portal sempre aberto para as negociatas.
- E não podemos deixar que Justiça faça cair nossa conexão com os cofres reais nas publicações da malévola Imprensa Livre.
- Podemos criar um usuário anônimo só para difamar Justiça. Vamos atolar essa metida em toneladas de lixo eletrônico.
- Grande idéia! Mas será que Justiça não vai descobrir nossos endereços?
- Claro que não. São tantos internautas navegando nesse cyberspaço que Justiça nem vai desconfiar de alguém de nosso clã. Nosso modo de exibição não deixará rastros.
- É verdade, nós somos tão sutis. As palavras chave e senhas de acesso de nosso clã são sempre muito imparciais e os marcadores tão criativos. Ninguém vai conectar os insultos a algum dos fieis seguidores de nosso diretório.
- Desmoralizando Justiça podemos encerrar de vez essa conta e mandar todas essas denúncias para o arquivo.
- Então é isso. Vamos excluir definitivamente todos os itens podres desse reinado para continuarmos fazendo upload de recursos.gov para nosso banco de propinas.org – conclui Poliana, provedora absoluta do reino.