Uma paranóica Poliana encontrava-se encerrada em sua redoma
blindada. Encostada na parede olhava sistematicamente para os lados. Nem mesmo
seus sempre atentos bobos e pajens estavam entendendo o comportamento estranho
da rainha.
- O que deu nela dessa vez? Outra overdose de bombons de
amarula? – pergunta um pajem real, servindo aos presentes um pouco do chá do
castelo.
-Acho que não. Ela está muito ligadona. Você não andou dando
pra rainha algum daqueles seus “charutos” especiais, Boina Verde? – pergunta
para o corpulento e psicodélico companheiro.
- Ô louco, meu! Sua alteza, ao natural, já é um ataque de
estrelismo e sandices atrás do outro. Imagina chapadona! – responde o outro em
inusitado surto de bom senso.
- Então algo realmente sério deve estar acontecendo. Melhor
conversarmos com ela. – resolve um assessor – O que está havendo alteza?
- Fale baixo, seu bobo! Eles podem escutar! – sussurra Poliana,
olhando mais uma vez a sua volta.
- Eles quem, rainha? – preocupa-se outro companheiro, também
olhando ao redor.
- Eles estão por todo lado, será que vocês não se deram conta
ainda. A espreita, só esperando para dar o bote. – responde a monarca,
sudorética.
- Credo, Poliana! Você está nos assustando. – reage um dos
bobos, servindo um pouco mais de chá para acalmar os ânimos. – De quem você
está falando?
- Em que mundo vocês vivem, seus moloides? – continua a
rainha, erguendo o tom de voz, para tapar a boca, assustada, em seguida. – Não receberam
o alerta vermelho de nosso clã? Está em todas as redes sociais.
- Alerta vermelho?! – sussurra o grupo, cada vez mais
ansioso.
- Sim. Alerta golpista! – reponde Poliana.
- Meu Deus! Então é coisa séria! – reage um companheiro
arregalando os olhos e derramando o chá no pires, com mãos trêmulas.
- Quem está nos ameaçando de golpe, alteza? Justiça?
- Não. Pior, muito pior! – informa a rainha, roendo as unhas.
- A mídia reacionária, então?
- Nada disso! São eles! Eles! Nossos maiores e mais cruéis inimigos.
Precisamos nos proteger. São ordens de nosso clã. A ameaça paira sobre nossas
cabeças. – relata a acuada Poliana para sua cada vez mais apavorada audiência.
- Mas quem são eles, rainha? – indaga um bobo pegando uma
cadeira para se defender de um possível ataque.
- Eles! Os ardilosos, desprezíveis e desumanos: imperialistas
norte americanos! – alerta a monarca, levando as mãos à cabeça.
- Pela saúde de Fidel! Não pode ser verdade!
- É a mais pura verdade. Eles instalaram escutas por todo
Gigante Adormecido. Monitoram cada um de nossos passos. Sabem de todas nossas
falcatruas. E tem mais, muito mais!
- Conta logo alteza!
- Eles se infiltraram nas redes sociais com aquele pessoal
mascarado e anônimo que incita as manifestações populares. Pretendem promover a
desordem para nos desestabilizar e então tomar o poder.
- Querem instituir uma ditadura imperialista aqui! Céus! Isso
não pode estar acontecendo.
- E o pior de tudo. Vocês sabem com quem os imperialistas
norte americanos se aliaram para nos derrubar? – pergunta Poliana.
- Com quem? – questionam todos em temerosa expectativa.
- A Al-Qaeda! – responde a monarca convicta.
- Não pode ser! Os capitalistas mercenários juntando-se a
Al-Qaeda só para pôr fim a nosso Império no Gigante Adormecido! Só pode ser um
pesadelo.
- Não é! É a pura verdade. É só olhar pela janela do castelo.
O golpe está armado. Vejam! – ordena Poliana para o grupo que se dirigia
cuidadosamente à janela.
- Céus! É mesmo verdade! Olhem só isso! O exército está nas
ruas! O povo abana a bandeira nacional! O imperialismo está tomando o poder em
Gigante Adormecido! É o nosso fim! – desespera-se um dos bobos.
- Pera aí, companheirada! Vocês estão indo longe demais! – pondera,
preocupado, o Boina Verde. – Golpe dos imperialistas norte americanos é forçar um
pouco a barra, até pra mim que sou bolchevique! Aquilo lá fora é só o desfile
de sete de setembro! – alerta.
- É você que está cego, Boina Verde! A grande mídia golpista
deve ter feito lavagem cerebral em você também! Eu disse que você não devia
assistir as novelas. Elas estão repletas de mensagens subliminares a serviço do
imperialismo. – afirma outro companheiro.
– Vamos improvisar barricadas. Precisamos nos proteger e
ganhar tempo antes que os golpistas tomem o castelo. Rápido! – ordena Poliana
para o grupo que corria a empilhar cadeiras em frente às portas e janelas.
Pensativo, o Boina Verde observava o paranóico grupo. Após
alguns minutos de reflexão, se aproxima de um dos pajens e pergunta:
- Que chá era aquele que você serviu? Camomila?
- Não. – responde o outro enquanto procurava por um bom esconderijo
na sala. – Peguei um pouco daquele chá que você guarda nos bolsos. Não sei que
erva é aquela, mas tinha terminado a cidreira do castelo.
- Ah! Então tá explicado! – suspira o companheiro Boina
Verde, aliviado. Melhor assim. Agora era só esperar o efeito da erva passar,
que a ameaça imperialista ia sumir também. Pela sua experiência, era só uma questão
de poucas horas.
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