domingo, 29 de janeiro de 2012


Poliana e seus bobos saem de férias por uns dias. Merecidas férias depois de um ano movimentado. Uma última concentração para preparar suas forças para um novo ano que promete ser ainda mais quente e tumultuado. Nos próximos capítulos dessa saga nossa jovem e destemida rainha coloca sua coroa nas mãos de seus adoráveis e intrépidos bobos. Que surpresas sua vasta corte ainda reserva a inocente Poliana? Estará seu reino tão florido e colorido como as paradisíacas imagens apresentadas por seu exército de pajens? Conseguirão os escudeiros reais blindar sua majestade de todas os desvios éticos de seu reinado? Conseguirá Poliana manipular com precisão todas as facções rivais de seu clã? Será possível a magnânima rainha manter de pé seu castelo de ilusões contando apenas com o sustento e suporte de seu invejável alinhamento com mensaleiros e sanguessugas? Quem no reino ousará desafiar Poliana no duelo de popularidade?
Estas e outras perguntas serão respondidas nos próximos e emocionantes capítulos dessa fábula. Retornamos após o carnaval com novos e inéditos episódios. Não perca!

sábado, 21 de janeiro de 2012

Cara a Cara com Poliana: desvendando a OP


Recomposta de seu último piti, dúzias de bombons de amarula depois, uma impecável Poliana estava alerta e pronta para mais uma rodada de perguntas.
- Rainha, eu gostaria que a senhora explicasse a nossos ouvintes como é que funciona realmente os espetáculos da OP (Orquestra Partidária)? Há muitas dúvidas sobre esse tema.
- Os shows pirotécnicos da OP são sem sombra de dúvida a maior invenção de meu clã. São elaborados contos da carochinha feitos para comover intelectuais e idealistas que jamais participaram desses eventos. A fórmula é realmente complexa, não é qualquer um que consegue por em prática. É necessária a vasta experiência em ilusão de ótica e impressionismo de nossos companheiros de fantasias. Sem a companheirada a coisa não sai do chão!
- E como é a engrenagem desse complexo e participativo teatro?
- Funciona assim, espelho alienado. Nós juntamos dezenas de meus bobos e pajens, vários representantes do CUT (Companheiros Unidos no Trambique), SindiPelego e FarsaSindical com o nosso representativo grupo de súditos.
- Quantas pessoas participam desses democráticos eventos rainha?
- Uma multidão de encher os olhos, espelho. Chegamos a reunir mais de cem pessoas em uma mesma matinê.
- Nossa que impressionante! Cem súditos participando e se manifestando. Quanta inclusão!
- Na verdade, espelho, súdito mesmo deve dar uma dúzia, o resto é minha fiel assessoria que é muitíssimo participativa e representativa.
- Bem, de qualquer forma, é uma grande representação. E o que vale é a intenção e é claro as impressões e cartazzes que elas renderão, não é mesmo alteza.
- Como eu estava dizendo, com essa enorme e imparcial platéia, eu abro o espetáculo com um discurso comovente e esganiçado sobre como é maravilhoso e inédito o povo poder decidir o que quer e precisa no seu reino. Nessa altura já tem companheiros chorando e os meus bobos com as mãos em lasca de tanto aplaudir. Depois de duas horas de discursos nós abrimos o democrático espaço para a população decidir entre duas ou três obras que nós mesmos demos um jeitinho de colocar como prioridade pra eles.
- E como é que o povo que sempre foi tão oprimido pelas elites consegue decidir sem ajuda entre tantas obras importantes como escolas e esgoto?
- Nós conseguimos encontrar uma forma de facilitar a escolha pro povo e pro meu reinado. Nós não permitimos que esteja entre as prioridades obras realmente prioritárias, você me entende?
- Não entendi bem, rainha...
- Você é meio lerdinho espelho. Obras prioritárias como escolas, creches, esgoto, postos de saúde são muito caras. Por isso nós só disponibilizamos para cada um desses grandiosos eventos algumas migalhas de recursos. Assim o povo fica realizado por ter exercido plenamente sua cidadania escolhendo entre uma cancha de bocha e uma churrasqueira e eu ainda ganho o bônus.
- Que bônus?
- Quando os eternos descontentes ou meus invejosos perseguidores reclamam da falta de saneamento, saúde ou educação, eu prontamente respondo: foram meus participativos súditos que não escolheram esses supérfluos itens como prioridades! Não é culpa minha!
- Realmente a logística é mesmo complexa, Poliana.
- E o melhor ainda está por vir. A pirotecnia! Isso sim, é pura arte! Nós vendemos para a grande massa, a imagem do povo decidindo e debatendo grandes projetos. Lutando democraticamente por suas necessidades. Fazendo valer seus direitos e exercendo como nunca a cidadania. É pura catarse! A massa vai ao delírio com tanta fantasia. E nós garantimos muita propaganda e banners revertidos para o Fundo de Amparo a Companheirada.
- Impressionante, Poliana. Eu não imaginava que funcionava dessa forma.
- Ninguém imagina. Por isso é que essa obra de meu clã já esta em segundo lugar no livro dos recordes de propagandas enganosas que há mais tempo vende no mercado de ilusões.
- E quem esta na frente da OP?
- A maravilha cubana, é claro. Esse recorde vai ser difícil de bater, mesmo para nós.
- Realmente rainha, essa falácia é imbatível! E terminamos essa esclarecedora entrevista com nossa rainha convidando a todos os ouvintes para participarem do XI Bacanal de Poliana com Dinheiro Público. Os prazeres da corte pagos por você contribuinte.

sábado, 14 de janeiro de 2012

Cara a Cara com Poliana - 2o. bloco


Após uma longa espera, enquanto a superstar Poliana trocava seu austero terninho verde água por um modelito mais despojado, usado no papel de socialite socialista servindo churrasco aos súditos, o Espelho Mágico dá seguimento ao programa.
- Diga-nos alteza, qual a situação da saúde em seu reinado?
- A saúde vai muito bem. A minha pelo menos está excelente. Todos sabem como sou preocupada com minha boa forma.
- Claro rainha, mas eu me referia aos serviços de saúde pública. O que a senhora fez para conseguir por fim as intermináveis filas do desrespeito?
- Na realidade Espelho, não fiz absolutamente nada. Continua tudo igualzinho. Só que agora, de forma integrada e integradora e participativa, como é nossa marca registrada, não chamamos mais de filas. Mudamos radicalmente o nome do problema. Agora há apenas um interminável grupo dignamente perfilado de usuários satisfeitíssimos com o serviço. Está tudo resolvido. Tudo obra de Vontade Política, minha milagrosa varinha de condão.
- Quer dizer então que a população esta satisfeita?
- Plenamente satisfeita! Meus bobos precisam manter as janelas de minha redoma sempre bem fechadas e vedadas para que eu não seja importunada todos os dias pelos gritos e brados de contentamento de meus súditos. Os atendentes dos serviços então, são só sorrisos com os vultuosos salários que estão recebendo. Aqueles que me viravam a cara, agora quase beijam meus pés. Essa é a maior gratificação que posso receber por minha benevolência. – acrescenta Poliana comovida, enxugando afetadamente as lágrimas de seus olhinhos de biscuit.
- E o seu inovador programa Saúde de Pára-quedas, a quantas anda rainha?
- Esse, infelizmente ainda não decolou. Não por culpa de meus sonolentos bobos, é lógico. Ele vai um dia sair do chão, é claro. Faltam apenas alguns insignificantes ajustes. Nossa idéia era garantir a comodidade de nossos doentes. Ao menor sinal de flatulência ou congestão, equipes inteiras de profissionais cairiam de pára-quedas nas residências dos enfermos. O que aconteceu é que a safra de curandeiros foi prejudicada pela estiagem. Não conseguimos colher nenhum. E os poucos que temos estão um pouco gordos, velhos e fora de forma, o que nos faz temer que eles possam causar danos materiais as moradias na hora da aterrissagem. Você sabe como é esse pessoal. Não são muito afeitos ao trabalho, passam o dia todo sendo paparicados, regados a cafezinho e bolachas... já é difícil tirá-los das cadeiras, que dirá fazê-los voar. – ironiza Poliana com um sorrisinho de escárnio, acrescentando em seguida: - E alguns deles ainda acham que não ganham bem. Daqui a pouco vão querer se igualar a meus adoráveis e bem valorizados bobos.
- Quer dizer então que a saúde vai muito bem? – insiste o entrevistador.
- De vento em popa. Temos apenas questões pontuais. Pontos de interrogação e exclamação, nada mais. – completa Poliana convicta.
- E por falar em doenças e agonia, como está sua aliança com os membros da Irmandade do Fogo?
- Firme e forte como sempre foi. A turminha da Irmandade sabe quem manda no time. Eles me idolatram. Entendem muito bem que nem entrariam em campo se não fosse minha articulada e carismática figura. Depois que eles venderam de vez suas raízes históricas, não tem mais nada que os sustentem no ramo decadente da dignidade. Estamos mais alinhados que nunca. A rainha na frente e os outros a minha sombra. Qualquer um deles tem consciência de que sem Poliana não passam de um Zé Ninguém.
- Uma das grandes realizações de seu reinado, pelo que podemos conferir de perto em todos aqueles coloridos banners, foi a geração de empregos. Como sua majestade conseguiu a façanha de criar tantos empregos em tão curto tempo?
- Tudo graças a meu empreendedorismo. Não tenho medo de ousar. Ousei empregar centenas de amigos no meu castelo. São tantos pajens e bobos que até Oposição ficou enciumada. Para ser uma rainha bem sucedida é preciso ter muita ousadia e pouca vergonha. Esse é meu estilo.
- Qual a sua avaliação do programa Um Computador por Educador?
- Esse projeto foi um sucesso desde as primeiras notas. As notas fiscais, é claro. Fizemos um negócio da China. Muito lucrativo. Compramos cada computador pelo preço de dois. Sorte os professores não entenderem muito de contabilidade, não é. – sorri Poliana, piscando o olho de forma travessa.
- Realmente rainha, sempre vem a calhar as dificuldades de nosso povo com números. – responde o Espelho com certo constrangimento para em seguida tentar colocar a sempre alerta Poliana numa saia justa: - Em relação a disputa desse ano pelo Troféu Popularidade. Qual adversário a senhora sonha em enfrentar para garantir o grande premio?
- Um débil mental. – responde Poliana de forma concisa.
- Como assim, acho que não entendi?
- O que você acha, seu espelho estúpido! Isso é pergunta que se faça! - grita a rainha indignada. - Com todas as trapalhadas e escândalos em que meus bobos me meteram, qual adversário você acha que eu escolheria enfrentar?! É claro que eu sonho com um debilóide alienado e burro! - muito exaltada e vermelha Poliana se retorcia na poltrona, tentando se conter. – Só que todos sabem que a cota de estúpidos do reino foi toda preenchida por meus bobos e aliados. Restou ainda, meia dúzia dos pupilos de Oposição, mas esses nem se atrevem a entrar no jogo. E vamos logo mudar o assunto, você conseguiu azedar meu humor com essas conjecturas ridículas. E trate de editar essa entrevista, ou eu te devolvo pro fundo do baú, espelho sem noção! – e encostando-se de forma teatral na poltrona, berra com as mão na cabeça – Meus sais! Tragam os meus sais! E meus bombons de amarula! Andem logo seus molóides!
O estúdio virou um rebuliço de bobos e pajens correndo para atender a histérica rainha. Enquanto o resignado Espelho Mágico tentava remediar o fiasco e se livrar do baú.
- Com o apoio cultural de Laranja Empreendimentos rodaremos a balada preferida da rainha e seus sócios. Solta a música Santo Jorge!... Delícia, delícia, assim você me mata. Ai se eu te pego. Ai, ai se eu te pego...

sábado, 7 de janeiro de 2012

Cara a Cara com Poliana


Para iniciar seu ano com o pé direito, Poliana faz um balanço do sucesso de seu reinado. Aqui, trechos inéditos de entrevista ao programa De Frente com o Espelho Mágico.
- Majestade, na sua opinião, quais as suas maiores realizações nesse tórrido ano de 2011?
- Veja bem, querido espelho - começa a afetadinha Poliana - esse ano foi inigualável em feitos e realizações inéditas. Nunca antes na história desse reino tanto foi feito em tão curto tempo. Muito nos orgulha nosso sólido alinhamento com os sábios mensaleiros e sanguessugas. Graças as lições desse grupo tão conhecedor do submundo do poder, conseguimos chegar tão longe. Sem todo esse alinhamento, certamente teríamos afundado antes. Estamos trabalhando a cada dia para, nesse importante ano, alinharmos ainda mais nossas cuecas e meias, garantindo transferência direta e fundo a fundo de recursos públicos. Isso só eu e minha equipe conseguiremos. Você sabe, nenhum monarca que tenha passado por esse trono tem uma relação tão umbilical com essas importantes facções. - resume Poliana em tom malicioso e com o peito inflado de orgulho. Em seguida, continua sua fala.
- Na área da habitação foram milhares de moradias populares construídas. Meu reinado obreiro construiu sozinho quase uma centena de caixas, digo casas. – corrige-se Poliana prontamente, e continua com sua sinceridade cativante - As outras duas mil casas estão sendo feitas e pagas pelos próprios súditos. Em intermináveis prestações e a custa de muito suor e trabalho árduo. Nós não ajudamos em nada, mas como são construções erguidas no solo de Poliana, os méritos a rainha pertence. É tudo uma questão de interpretação e garante belíssimos cartazzes e banners, não é mesmo. – conclui a espirituosa Poliana.
- Uma de nossas ouvintes - continua o Espelho - pergunta a rainha porque sua alteza levou tantos anos para recolher o lixo do reino e que novo sistema de coleta será implantado?
- Muito pertinente a pergunta dessa ouvinte, um pouco impertinente – continua Poliana, demonstrando certa contrariedade – O sistema de coleta é inovador! O mesmo que o reinado dispunha há décadas, só que sob nova direção. E nós, não levamos anos para resolver o problema do lixo, querida ouvinte. – responde a rainha esganiçando o tom de voz - Foi tudo uma estratégia de meu reinado para conscientização da população com a questão ambiental. Nós permitimos que o lixo e o chorume se acumulassem por meses nas ruas do reino para que os súditos dessem valor a coleta que agora nós implantamos. Assim, meu povo vai achar inédita e maravilhosa uma idéia que já existia e funcionava e vai saber valorizar cada lixeira vazia desse meu límpido reinado.
- Realmente muito interessante essa estratégia majestade. - elogia o imparcial apresentador - A senhora acredita que inovação é a palavra que caracteriza esse seu espetacular reinado?
- Inovação, criatividade e coragem de mudar! - empolga-se a entrevistada - Veja só o sucesso absoluto do nosso projeto de trafegabilidade urbana. Esse é, provavelmente, o mais ousado e bem sucedido programa de orientação para o trânsito. Eu e meus bobos, com nosso inigualável conhecimento do reino e de tráfego, criamos um desafio a população. Nós nos empenhamos ao máximo para tornar o trânsito no reino o mais caótico possível. Após um ano desse projeto, qualquer de nossos súditos que tenha conseguido sobreviver a todos os desvios e congestionamentos sem enlouquecer, está perfeitamente apto a dirigir em qualquer local do mundo. Até na Índia!
- Nossa, que impressionante... – acrescenta o Espelho, um tanto confuso.
- E o melhor ainda está por vir. Depois disso, nós contratamos um grupo de especialistas em trafegabilidade, pagos por nossos benevolentes e ricos contribuintes, para consertar a desordem que nós mesmo causamos! Em breve, o povo irá carregar Poliana nos braços por ter finalmente trazido a paz e a ordem no trânsito do reino.
- Puxa vida, rainha. Isso sim é criatividade e cara de..., digo, coragem de mudar! E que coragem! – continua o entrevistador, realmente embasbacado – E em relação a questão do abastecimento de água, rainha?
- Isso sim, foi um feito quase inexplicável de meu reinado. Eu, sozinha, consegui resolver definitivamente o problema da água no reino. Assinei um contrato que garante solucionar de vez essa questão.
- Quer dizer que o reino não terá mais problemas de racionamento?
- O contrato é muito claro nesse quesito. Eu mesma fiz questão de acrescentar essa importante cláusula. Está lá, com todas as letras. Eu mesmo ditei o texto. Não há o que se discutir. Se chover, não faltará água!
- Mas... – engasga-se o entrevistador - ...e se houver estiagem Poliana? Não haverá racionamento?
- Isso não diz no contrato. Eu pelo menos não li. Talvez esteja naquelas letrinhas miúdas que meus olhinhos de biscuit não conseguiram alcançar. Mas você Espelho Mágico, se preocupa com cada detalhe sem importância! - irrita-se a rainha - Vamos fazer logo o intervalo dessa entrevista que eu quero retocar o meu gloss. – ordena a entrevistada, já se levantando da poltrona.
- É claro magnânima! – concorda rapidamente o Espelho, conhecedor dos famosos pitis de sua alteza. - Vamos para um breve intervalo. No próximo bloco nossa inigualável rainha irá fazer sua análise de temas polêmicos: saúde, segurança e disputa pelo Troféu Popularidade. Não perca! Esse programa tem o apoio de Laranja Empreendimentos, empresa do grupo Organizações Poliana: Imprima Mais: Imprimimos nossos lucros no seu bolso! Gráfica Irmãos Grafite: Encobrimos sua incompetência com nossos vistosos cartazzes. E Motel Vômit: o dinheiro é seu, o prazer é nosso!
Na próxima semana, o segundo bloco dessa reveladora entrevista. Contamos com sua audiência.