terça-feira, 23 de julho de 2013

FÉRIAS PARA POLIANA

Aviso aos navegantes: o Blog da Poliana estará de recesso por uns dias. Vou levar Poliana para passear. A coitadinha está precisando de uns dias longe de sua redoma e da trapalhada de seus bobos da corte. Voltaremos em breve!

Mas, Poliana astuta como só ela, aproveitará as férias e irá ampliar seu ramo de investimentos. Vai a Cuba, contrabandear alguns médicos. Negócio bem lucrativo. Pagará por cada médico da ilha a bagatela de 40 dólares e depois venderá por aqui por 10.000 da moeda local! Isso sim é que se chama economia socialista, pensa a empreendedora Poliana, não descansando seu cérebro maquiavélico nem nos dias de folga!


sexta-feira, 19 de julho de 2013

O congestionamento de projetos do dinâmico reinado de Poliana

Poliana estava exausta de tantas poses para fotos. Nem em Horário Eleitoral tivera de posar tanto de soberana dinâmica e resolutiva. Já estava quase arrependida de ter criado um ministério em seu reinado só para marketing, mídia e ilusão de ótica. Na ausência de grandes feitos e na abundância de coisa alguma para divulgar, sobrava para a pobre e carismática rainha. E era foto que não acabava mais. Até Imprensa Livre já estava enjoada da adorável face real estampada diariamente em cada periódico local. Era Poliana de capacete assentando tijolos. Poliana de picareta quebrando pedras, enquanto alguns de seus bobos, sorrateiramente, guardavam algumas nos bolsos só para não perder a velha prática. Poliana assando lingüiçinhas nas moderníssimas e necessárias churrasqueiras, democraticamente conquistadas, pelo povo excluído de saneamento básico e saúde, nos espetáculos pirotécnicos da Orquestra Partidária (OP). Poliana escorregando de barriga nas novas travessias de pedestres. Poliana atolada no barro, enterrando canos para a transposição de recursos públicos, e fazendo reza braba e despacho para que a próxima estiagem demore mais a chegar que a espalhafatosa e duvidosa obra para terminar. 
- Chega! Eu não agüento mais. – reclama a soberana exaurida e descabelada, atirando-se pesadamente no divã de sua redoma. – Vocês, seus inúteis, precisam dar um jeito de inventar alguma obra diferente para nós divulgarmos na mídia. Tem cancha de bocha que eu já visitei 20 vezes nesses últimos anos. Já conheço todas as ripas de cada forro dos salões comunitários do reino. Naquela escola eu já fui tantas vezes que tem pedreiro que acredita que eu sou mestre de obras. Ontem me mandaram até fazer massa! Olha lá se eu sou rainha de meter a mão na massa! Se ainda fossem em maços, nisso sim, sou especialista. Mas isso não dá para por nos outdoors, né? Justiça é capaz de ficar mordida e é muito estressadinha e moralista, aquela baranga invejosa.
- Mas alteza, nós temos vários grandiosos projetos prontinhos para serem executados! Meu gabinete é uma verdadeira usina de projetos! – vangloria-se Golesminha, o companheiro tampão da rainha, responsável pelo planejamento no reino.
- Mesmo? Diga-me um, Golesma? – pergunta incisivamente Poliana, cravando ameaçadoramente os olhinhos de biscuit no companheiro adulador.
- Bem... são tantos... eu não conseguiria explanar sobre todos em tão pouco tempo, adorada Poliana. – atrapalha-se Golesminha, balançando a franginha, mais amorfo que vaselina.
- Eu tenho tempo. Você pode me explicar enquanto massageia meus pés cansados! – aconselha, prontamente, a rainha.
- Está certo rainha. É sempre um prazer massagear seus adoráveis pezinhos! – adula o outro, tentando ganhar tempo. – Acredito alteza, que devemos democratizar e descentralizar as falas, por isso, passo a palavra para nosso novo bobo do trânsito. Ele pode começar esclarecendo, com detalhes, todas as maravilhosas modificações que pretendemos implantar no reino. – desvia-se, com a longa prática adquirida na câmara de vendilhões, o companheiro Golesminha, jogando o jovem bobão na fogueira.
- É claro! É sempre uma honra para mim discutir com uma corte tão aberta. – empolga-se o prestativo bobo, sem perceber que estava sendo fritado em óleo, ainda, morno. – Trata-se do “Programa democrático e inclusivo de mobilidade urbana participativa, trafegabilidade cidadã e humanização no trânsito em vias públicas”. - anuncia entusiasmado, o bobo do trânsito.
- Fantástico! – exulta a rainha – Só o título já vai ocupar uns três outdoors e duas páginas de jornal! E, como não diz nada, não nos compromete, não é mesmo? E o que consta no “corpo” do projeto? Se for tão pomposo quanto o título, provavelmente nossos súditos vão passar a ser teletransportados nos próximos meses! – questiona Poliana, com sutil tom de ironia.
- O projeto ainda não está concluído, rainha. – responde o bobo, desanimando um pouco - Foram 13 reuniões só para decidirmos o título. As últimas 5 só discutindo a ordem certa das palavras. Você deve saber, melhor do que eu, alteza, o quanto seus companheiros são minuciosos nessas questões semânticas e adoram uma reuniãozinha. – cochicha à rainha.
- Entendo. Então vamos voltar ao que temos. O título. O que exatamente significa um trânsito humanizado, Golesminha? – pergunta Poliana, trazendo o companheiro para a frigideira.
- É um projeto de trânsito democraticamente centrado no ser humano, alteza.
- Ah, bom! Ainda bem que vocês pensam em tudo. Se o tal projeto é voltado para o ser humano, não corremos o risco de vê-lo roubado e implantado em Marte, não é mesmo? Fico mais tranqüila assim. Tenho perdido noites de sono, preocupada com os claros indícios de conspiração alienígena no reino. - ironiza a rainha – Apesar, que um intercâmbio com os marcianos poderia nos ser útil. Eles poderiam nos ensinar como abduzir os carros e passageiros em horário de pique. Ou, quem sabe, eu deveria começar a pensar em abduzir todos vocês das costas dos contribuintes! – exaspera-se Poliana. – Será que vocês não vão conseguir me apresentar uma maldita medida de impacto para que eu deixe de ser a chacota do reino, seus energúmenos!
- Claro que temos magnânima! - responde o bobo do trânsito, sentindo falta do calor do fogo. – Nós vamos implantar semáforos inteligentes nas vias principais do reino!
- Semáforos inteligentes, é? – pergunta sua alteza, com ar pensativo. – E serão muitos?
- Serão doze, rainha.
- Isso parece que será realmente muito útil para mim e para o reino. – continua Poliana, com seu conhecido ar maquiavélico. – Se os tais semáforos forem realmente inteligentes, posso trocar vocês todos por eles, seus inúteis! Já era mais do que hora de ter alguma coisa inteligente na corte. Eu já estou cansada de me ver cercada de postes! – grita Poliana, erguendo-se indignada – Tragam logo meu chinelo de dedos e um boné! – ordena a monarca – Eu vou sair!
- De chinelos e boné?! – pergunta um dos pajens, escandalizado, acostumado com a elegância nata da socialite socialista.
- Isso mesmo! Vou me inscrever em um curso de mestre de obras. Se eu quiser que alguma coisa saia do chão no meu reinado, vou ter de aprender a fazer eu mesma. Se depender de vocês, seus incompetentes, passarei mais quatro anos jogando bocha! Já tem especialista em bocha nessa corte, e eu detesto concorrência! – anuncia Poliana, em mais um de seus arroubos, quase sempre passageiros, de lucidez, saindo rapidamente de sua redoma.

Poucos minutos mais tarde, uma desacordada rainha era carregada de volta ao divã. Desacostumada com os chinelos, o anonimato, a ausência de pajens e bajuladores, e ao caos do trânsito no seu reino, escorregara em uma gigantesca travessia de pedestres em frente ao castelo, e tivera uma contusão cerebral. Sorte de seus bobos. Poliana esquecera toda a recente discussão. Acordara acreditando que tudo era colorido e maravilhoso como mostravam seus adoráveis anúncios e outdoors.

sábado, 13 de julho de 2013

Poliana, a rainha da mobilidade e soberana do descaramento

A vasta comitiva de bobos e pajens reais ensaiava-se, receosa, em frente à redoma de vidro fumê da rainha. O momento prometia mais uma das conhecidas crises de destempero de Poliana, e era preciso cautela e muito jogo de cintura da corte real para evitar mais um escândalo no reino. O dia fatídico chegara, não havia mais como adiar. As rótulas em frente ao castelo seriam finalmente reabertas, atendendo ao clamor do povo, a lógica, e aos estudos de trafegabilidade urbana realizados. Apenas Poliana, a democrática rainha, era radicalmente contrária a medida. E todos os bobos da corte sabiam o quanto sua majestade podia ser intransigente e birrenta quando seus interesses eram contrariados. Por isso, o sudorético grupo temia adentrar no recinto, onde ela, soberana, descansava como sempre, alheia a realidade fora de sua redoma.
- Podem parar de tremer meus bobos! – anuncia a rainha, surpreendendo sua corte ao sair precipitadamente da redoma – Eu de boba, não tenho nem o salário. Já sei o que vocês vieram fazer aqui, seus molóides. As insubordinadas redes sociais só falam nisso nos últimos dias. Vocês vão remover minhas adoráveis barricadas das rótulas em frente ao castelo! – ergue a voz a monarca, com o dedo acusadoramente apontado para o quase disforme bobo do trânsito.
- Não é bem assim, adorada Poliana! – gagueja o novo bobo, mais vermelho que um tomate da agricultura familiar. – Essa será apenas uma diminuta medida perto de todas as melhorias que o seu reinado está realizando no reino.
- Pois, muito bem! Eu decidi ver pessoalmente essas tais melhorias. Vamos pra rua! – sentencia a sempre decidida rainha, virando-se para o corredor. – Como é que se sai mesmo desse castelo? – questiona a perdida Poliana, pouco acostumada à vida fora de sua ilusória e perfumada redoma.
- Por aqui, alteza. - conduz um dos pajens, enquanto os outros se questionavam quem teria sido o energúmeno que permitira o acesso da rainha ao facebook.
Poucos minutos depois, caminhando pela avenida principal do reino, cercada e quase sufocada por seu séquito de bajuladores bem remunerados pelo dinheiro público, Poliana é apresentada as novas modificações no trânsito do reino.
- Essas são nossas novas faixas de segurança elevadas para pedestres, rainha. – explica prestativo, o bobo da trafegabilidade. – O objetivo é dar maior visibilidade e preferência aos transeuntes.
- Nooosa! – surpreende-se Poliana - Mais visível que isso, só o Monte Everest! – exclama a rainha, olhando para cima. – Se algum pedestre cair aí de cima vai acabar fraturando o crânio, isso sim!
- Não tínhamos pensado nisso, alteza. Como é importante sua visão de soberana! Vamos providenciar um mecanismo de amortecimento de quedas, tipo airbags, para esses casos. Brilhante contribuição, magnânima! – adula o bobo.
- É por isso que fui eleita e reeleita, seu bobão. Eu vejo o que quase ninguém quer ver. É só eu sair da minha redoma. – vangloria-se a monarca – E com lombadas, ou faixas de segurança elevadas, dessa altura, dá até para praticar rapel! – anima-se Poliana, a eterna desportista.
- A idéia é justamente essa rainha! – assume a liderança o bobo do esporte, empurrando para o lado o expert em tráfego e trânsito. – Se as nossas novas medidas não fizerem o trânsito fluir, podemos, ao menos, fazer os cofres públicos e a publicidade render. Já nos inscrevemos para o campeonato anual de Enduro e de MotoCross em vias urbanas. E fomos aprovados com louvor! Nenhum reino propiciará tantos saltos e tantos buracos por metro quadrado! Nós somos os únicos! Inovadores como sempre, magnânima.
- Que maravilha, meus bobos! – exulta deslumbrada, Poliana. – E o rally do ano que vem poderá ser em frente ao castelo! Eu nem vou precisar sair de minha redoma! Mais um verdadeiro projeto de inclusão desportiva de nosso democrático reinado. E ainda tem gente que ousa criticar Poliana! Elite golpista e de direita, com certeza!
- Essa gentinha que abarrota nossas maravilhosas e esburacadas vias públicas com seus carrinhos financiados pelo sistema capitalista, Poliana, não merece qualquer consideração. – acrescenta um dos ortodoxos companheiros da rainha.
- Olha só isso aqui! Que maravilha vai ser no verão! Um buraquinho desses do asfalto, no pé dessa lombadona, com toda essa chuvarada dos últimos dias, até o final do ano vai virar um piscinão. O criaredo vai se esbaldar escorregando como tobogãs, das imensas e politicamente corretas travessias de pedestres, direto nos buracões do asfalto cheios de água! Vai ser a inclusão do povão excluído de diversão em pleno centro da cidade!
- Fantástico, alteza! Mais um projeto para divulgarmos na mídia. – entusiasma-se o bobo da comunicação e marketing real.
- E em frente ao castelo rainha, vamos tirar todo esse espaço para estacionamento de carros. Vamos criar um amplo espaço sem serventia alguma. Tudo para desestimular ainda mais a elite golpista a sair de casa de automóvel. Quanto menos vagas de estacionamento existir, menos essa gentinha metida à besta e a fazer manifestações, vai sair às ruas. – esclarece o bobo mor da fluidez do tráfego.
- Ótima idéia! Quanto mais os carros circularem, mais o trânsito flui. Essa sempre foi nossa lógica. Não podemos mudar o rumo de nosso coerente pensamento. – elogia a monarca, convicta.
- Eu ainda me preocupo com o os automóveis, rainha. – começa um dos bobos presentes. – Todas essas medidas são muito vistosas, mas acho que ainda precisamos de ações mais eficientes para melhorar a mobilidade dos automóveis e evitar congestionamentos no reino. O povo tem demonstrado claro descontentamento com isso.
- Esse tipo de medida prática de melhoria na mobilidade urbana é assunto para estudo. – responde, emblemático, o bobo da mobilidade urbana.
- Mas nós já estamos estudando isso há quatro anos! – questiona o outro, mais objetivo e simplório. – Já tem gente dizendo que dava tempo para fazer uma faculdade na área.
- Oposicionistas, com certeza. – afirma o bobo, MBA em trafegabilidade cidadã. – Por enquanto, é urgente elevarmos bastante as travessias de pedestres, pintarmos as desbotadas faixas de segurança, e reabrirmos as rótulas obstruídas... (ops!)- interrompe-se a espera de uma severa crítica da rainha.
- É isso mesmo! – concorda Poliana, apalermando o grupo. – Vocês achavam que eu ia me opor a reabertura das rótulas que eu mesma fiz questão de fechar, seus bocós? – pergunta a monarca, gargalhando a riso solto. – Vocês são mesmo amadores! Precisam aprender com Poliana, a rainha da ilusão e do ilusionismo! Eu sou uma visionária, vocês e o povo são uns estúpidos, isso sim. Meu objetivo sempre foi claro e coerente. Trancando as rótulas na avenida central, tornei o trânsito caótico e insuportável no reino. Criei, no início do meu reinado, um problema que até então não existia. Levei, por anos, os motoristas ao limite do desespero. Agora, passado tanto tempo, eu, a magnífica e eficiente soberana, Poliana, vou oferecer, com muita mídia e marketing, a solução para o caos instalado. Vou abrir um novo acesso que possibilitará melhor fluidez ao trânsito. Vou “criar” rótulas no anel central do reino! Que brilhante idéia de Poliana, pensarão meus adoráveis súditos e eleitores! - gargalha um pouco mais a rainha, quase se afogando com as lágrimas. – A lógica é simples, está na cartilha de nosso clã, página 171: “crie um problema que não existia e depois ofereça ao povo a solução que ele não precisaria se você não tivesse nascido”. É como jogar plebiscito e médicos cubanos para manifestantes revoltados. Simples assim!
- Nossa, rainha! Nós nunca íamos conseguir acompanhar um raciocínio assim tão apurado! – impressiona-se o bobo da mobilidade urbana, mais perdido que os motoristas do reino em horário de pique.
- É por isso, queridinho, que eu sou monarca, e você é só um bobo sem serventia na iniciativa privada. – sorri debochada, a maquiavélica Poliana, dando as costas ao grupo – Podem reabrir as rótulas. Esse projeto já está concluído. Meu próximo grande e muito lucrativo projeto, é o do asfaltamento das vias públicas. Esse sim, irá me render mais do que popularidade. Afinal, semeei por anos buracos no asfalto, agora é a hora de colher polpudos recursos públicos! – anuncia a prática e despudorada monarca, voltando tranquilamente para sua adorada redoma, onde o único tráfego é o de bobos da corte, e o congestionamento constante é o dos eternos aduladores do poder.



sábado, 6 de julho de 2013

O esquerdinha, esse é o cara!

Em épocas de movimentos populares, aflora no cenário social um caricato e divertido personagem: o esquerdinha. O esquerdinha é um sujeito boa gente, culto, articulado e de convicções inabaláveis. Com seus quarenta e tantos anos, pertence à seleta classe de pessoas que pode se vangloriar, com o peito estufado de orgulho, de ainda guardar as mesmas idéias e ideais da adolescência. Um esquerdinha de boa safra, assim como os melhores vinhos, jamais envelhece, só intensifica o aroma e o sabor. Apenas aqueles de paladar menos apurado não toleram pessoa assim tão encorpada. Questão de gosto, simplesmente. Nada mais que isso.
O esquerdinha, na adolescência, saiu às ruas pedindo por eleições diretas no país. Entoava o grito da multidão que clamava por democracia e liberdade de expressão. Anos mais tarde, já na universidade, foi cara pintada. Empunhando a digna bandeira contra a corrupção pedia o impeachment de um presidente corrupto. Quem sabe faz a hora, não espera acontecer, nos ensinou o esquerdinha, juntamente com milhares de outros brasileiros que, esquerdinhas ou não, também foram às ruas. Nos anos que se seguiram foi crítico severo da grande mídia manipuladora da opinião pública e tendenciosa com os interesses dos novos representantes do poder. Nas mesas de bar, juntamente com outros universitários, discursava incansavelmente contra a burguesia hipócrita que desfilava em seus carros, e descansava confortável em seus lençóis, alheia a miséria de seu sofrido e oprimido povo.
Hoje, professor universitário na capital, com doutorado em Sorbonne, o esquerdinha continua quase o mesmo. O mesmo discurso ao menos. O mesmo cansativo discurso contra o monopólio da imprensa, agora com discretas nuances de controle da mídia e da liberdade de expressão. Esqueceu, o esquerdinha, que alguns deploráveis periódicos reacionários de hoje, denunciaram escândalos que cassaram presidentes de outrora. Mas eram outros os tempos, e outras as cores da moda. Na atualidade, qualquer denúncia de corrupção no governo é mera perseguição midiática. Afinal, roubar todo governo rouba. O importante é roubar por um bem maior, essa é a nova ideologia do neo-esquerdinha. O esquerdinha da atualidade mora em condomínio fechado em bairro de classe média alta e anda de automóvel modelo esportivo. Ainda fuma um baseadinho, vez ou outra, só para desopilar. A vida nos grandes centros e o corre-corre do dia a dia é muito estressante. É defensor fervoroso da liberação da maconha. Só os reacionários é que persistem com a idéia fixa de que a maconha é um mal para a sociedade. O crack sim, é um perigo. Defende, é claro, a internação compulsória dos usuários dessa droga nefasta. Já fora assaltado por um viciado em crack. Nunca passara tanto terror em tão pouco tempo. O Estado precisa tomar uma atitude e conter essa epidemia, acredita o esquerdinha, puxando um fuminho inofensivo, comprado, é claro, de um fornecedor sério e profissional.
Em suas aulas, prega com a eloqüência dos muito cultos e sábios, a sua seleta classe de acadêmicos, todas as maravilhosas conquistas do - eternamente perseguido pelo imperialismo norte americano - socialismo cubano, onde todos são iguais, e o capital não tem qualquer valor para o povo descapitalizado de quase tudo. Onde a ditadura e o desrespeito a liberdade individual e de expressão é plenamente justificável em nome da boa causa. Esqueceu, o letrado esquerdinha, que desculpa idêntica, havia sido usada na mesma ditadura que ele tão destemidamente combateu e criticou em seu país. Questão de ponto de vista, e de que lado do paredão, ou do capital, se está, naturalmente.
Hoje em dia, mais maduro, não critica mais a burguesia. A burguesia é coisa do passado. A nova moda esquerdista é criticar a elite. Elite é a aquela gente asquerosa, que anda de carro e tem casa própria. Financiada em prestações. Como o esquerdinha, mas obviamente diferente no contexto. Gente arrogante e esnobe, que conta os centavos no final do mês só para se exibir e colocar os filhos em escolas privadas. Não querem, essa elite, ver os seus filhos se misturando e desaprendendo com os menos favorecidos pelas política públicas de exclusão cultural e apartheid social. A abominável classe média fascista, que deve ser exterminada, segundo Marilena Chauí, grande pensadora brasileira (putz!), famosa e ovacionada filósofa da hipocrisia rançosa dos esquerdinhas modernos.
Em relação às atuais e gigantescas manifestações populares em seu país, pedindo por maiores investimentos em saúde e educação, o esquerdinha faz uma análise criteriosa e profunda: “Falta foco e objetividade a essa gente toda que está nas ruas. Eles não sabem o que querem. Movimentos que não são pautados por reivindicações claras e de forte apelo popular estão sujeitos a serem manipulados por grupos com evidentes interesses golpistas”. - E ainda tem gente que desacredita no efeito paranóico da maconha no cérebro de um esquerdista de raiz. - Quando questionado sobre a onda de cartazes, faixas e gritos nas ruas, pedindo pelo fim da corrupção, o esquerdinha é ainda mais contundente: “São moralistas, apenas! Não tem um ideal maior. É um movimento moralista, articulado pela direita golpista, é lógico!” Brada, exaltado e convicto, o mesmo esquerdinha que tem em sua sala uma desbotada fotografia em que erguia um imenso cartaz onde se lia: Vamos Moralizar o país! Fora Collor Já!
A coerência está na alma do esquerdinha, na mesma proporção em que o golpismo está no sangue de todo brasileiro, a capacidade de organização das massas está no cerne da direita, e a honestidade é moeda corrente na política. Quem duvidar é golpista ou fumou maconha estragada