sexta-feira, 30 de julho de 2010

Menina má

Depois de seu inovador projeto de inclusão asfáltica da mata nativa Poliana teve mais uma de suas brilhantes idéias. Lançou em seu reino um magnífico projeto de cartalizzação cidadã. Ao invés de árvores, plantaria banners, cartazzes e outdoors em cada esquina e praça de seu reino. Ao contrário das plantas que trocam de folhas uma vez ao ano, essas estruturas se transformam a cada semana. Quanta sujeira! Cartazzes não precisam de água, são regados a recursos públicos. Essa é mesmo uma menina muito má.

domingo, 25 de julho de 2010

POLIANA e BRUXA MÁ - O INÍCO


Poliana acordou radiante. Receberia a importante visita dela, a Escolhida. A preferida Dele, seu ídolo e mentor. O grande líder, o guia, o guru, o messias. Ser supremo - o Magnífico! Mestre de todos os mestres. Mago do ilusionismo. Inventor do impressionismo. Descobridor do etanol. Fundador do Pré-sal. Criador do Mundo da fantasia. Por onde Ele anda milhares de estrelas surgem a sua volta. Em sua presença o céu é mais azul. O sol torna-se brilhante como nunca dantes fora. Os famintos saciam-se de sua generosidade. Os pobres enriquecem com sua sabedoria. Os tolos bebem de seu conhecimento. Todos se rendem ao seu magnetismo. O mundo coloca-se aos pés Dele, o Pacificador.
Até Oposição emudece com sua existência, e silenciosamente o idolatra. Alimenta furtivamente o antigo sonho de pertencer ao seu exército de nobres, honrados e bem vestidos cavalheiros: os Mensaleiros. Ordem de escudeiros que protegem ao Magnífico. Conhecidos por sua valentia e pelo estranho jogo de quadril que fazem durante a marcha. Contam os sábios, que para defender o grande mestre, os Mensaleiros trazem junto ao corpo, imponente arma de destruição das massas. O volume, assombroso e indecente, fica desconfortavelmente escondido junto ao corpo, depositado em largas cuecas (confeccionadas especialmente para este fim). Os maços indecorosos dificultavam sobremaneira o caminhar, sendo responsáveis pelo excêntrico e esdrúxulo gingar de seus quadris, semelhante a uma debochada e libertina dança, que embriaga
e seduz ao povo que sustenta e financia suas luxúrias.
Diz a lenda que até mesmo Bruxa Má já fora seguidora do Mago dos Magos. Acompanhava-o deslumbrada, junto com uma constelação de crédulos, por todos os lugares, encantada com tanto saber e desprendimento. Até que um dia, a então jovem e virginal bruxa, se defrontou com os Mensaleiros. Havia um preço a pagar se queria seguir ao Guia. Precisava mostrar-se capaz de abnegação. Deveria ofertar uma espécie de dízimo. Escolha difícil, aquela. Era preciso presentear ao Mago com seus sonhos ou seu cérebro. Bruxa Má, vaidosa e fútil, preferiu manter seu atrofiado e inútil cérebro. Entregou aos mensaleiros todos os seus sonhos e foi condenada a vagar pelo mundo sem cultivar ilusões. Sem sonhos, tornou-se uma asquerosa e flatulenta figura. Incapaz de qualquer sentimento mais nobre. De sua boca saiam apenas corrosivas e nauseabundas palavras ácidas que ela, rancorosa e alienada, dirigia sempre ao seu antigo guru e seus sectários. E foi assim que Poliana tornou-se alvo desse malévolo e repugnante ser. Poliana nunca conseguira entender, que os fins não justificassem os meios. Para ela todos os meios deveriam ser usados para alcançar aos seus fins e, é claro, aos de seu clã. Ideologia, mundo melhor, sempre foram apenas lugar comum. Singelos e proféticos discursos de Horário Eleitoral. Servem apenas para ludibriar os tolos e ignorantes que seguem cegamente ao seu clã. “Não é possível que alguém, em sã consciência acredite realmente nessas falácias!”, pensa a despudorada e maquiavélica Poliana.

OS BOBOS DE POLIANA


Poliana precisa se distrair, arejar a cabeça. Decidiu tornar Mundo Real mais parecido com Horário Eleitoral, assim seus súditos ficarão mais felizes. Encomendou de seus bobos da corte, enormes gravuras de rostos alegres e sorridentes para embelezar todo o reino. Faixas, cartazes e propagandas mostrando a vida como em Horário Eleitoral. Tudo muito arrumado e colorido. Para admirar essas maravilhas é preciso olhar para cima e assim não se percebe os buracos no asfalto. Idéia brilhante! Poliana sempre fora muito esperta. Mas apesar de seus esforços, ainda há plebeus ingratos reclamando, pedindo, questionando. Gente de visão limitada que não entende que participação, confronto de idéias, diálogo franco só existe em Horário Eleitoral. Em Mundo Real tudo isso é enrolação.
Nos últimos tempos até mesmo alguns curandeiros de seu reino deram de se rebelar. Queixam-se dos baixos salários, do excesso de doenças e doentes, da necessidade de se investir em prevenção e em melhores condições de trabalho. Falam eles, os tolos, em valorização profissional. Poliana não entende de onde surgiram idéias tão estapafúrdias! Valorização deve-se dar aos amigos, não a quem mereça. Poliana valorizava muito seus bobos da corte. Estes sim eram de grande valia. Sempre faziam Poliana rir. Nunca a contrariavam. Estavam sempre prestativos e solícitos, prontos a lhe adular. E eram tantos, que quase não se podia contar. Era impressionante a capacidade reprodutiva de seus bobos. Quanta fecundidade! Já os curandeiros, além de não se reproduzirem com igual eficiência, eram, na maioria, pessoas taciturnas e sem atrativos. Só falavam em coisas desagradáveis como enfermidades, moléstias e sofrimentos. Não sabiam contar piadinhas e eram péssimos em bajulações. Que serventia teria essa gente para Poliana? Certamente nenhuma! Ocorre que talvez o povo pudesse sentir falta dos curandeiros, caso estes viessem a faltar. O povo adora doenças e lamúrias! É preciso alguém para entretê-los e ouvir suas mazelas, enquanto Poliana e sua trupe se divertem. A essa altura, Poliana já aprendera que curandeiros não brotam do chão, mas alguns de seus bobos lhe confidenciaram que às vezes eles caem do céu em breves pancadas de chuva. Poliana acredita, por isso espera tranqüila e paciente, enquanto uma densa e escura nuvem cobre seu reino.
Enquanto aguarda, Poliana precisa acalmar aos insatisfeitos e contentar seus amigos. Para isso, criou um novo e hilariante jogo. Trata-se de um complicado processo, integrado e integrador, de participação coletiva e cidadã na inclusão de novos glúteos em velhas poltronas. Tudo muito divertido! Seus aliados adoraram a brincadeira, batiam palmas e cantavam alegremente. Ninguém podia deixar a poltrona esquentar. Ao menor sinal de calor todos corriam saltitantes e fagueiros até a poltrona mais próxima. Se alguém importante ficava de fora, Poliana - astuta como só ela - prontamente resolvia: comprava novas poltronas ou mandava queimar alguém na fogueira das vaidades. Tudo para divertir seus asseclas. Alguns plebeus, com sempre, não acharam graça em tal jogo. Fazer o quê? Senso de humor não é para todos.

POLIANA - A ESTRATEGISTA


Poliana sente-se pressionada. Quanta insegurança! Lembra-se vagamente de palavras vazias jogadas ao vento em Horário Eleitoral. Promessas apenas. Feitas para serem, como sempre, esquecidas após algum tempo. Ela mesma já nem lembrava mais. Dissera apenas o que o povo queria ouvir. Está certo que seus maquiadores e bobos da corte tornaram suas promessas maiores e mais bonitas do que seria possível em Mundo Real. Mas o povo adora colecionar ilusões. Que mal pode haver em dar-lhes um pouco de fantasia? Agora todos clamam por segurança. Poliana muito tem feito pela segurança em seu reino. Só quem enxerga não consegue ver. Todos os seus amigos estão se sentindo muito mais seguros de sua amizade. Seus bobos da corte sentem-se seguros de que suas tolices são as mais sábias e seus trejeitos os mais engraçados. Seus aliados estão cada dia mais seguros em suas poltronas. Para provar sua preocupação com a segurança ambiental mandara que as árvores de uma recém inaugurada e inútil via pública fossem fortemente pavimentadas e asfaltadas, num inovador processo de inclusão asfáltica da mata nativa. Mas nada disso parece suficiente. O povo ingrato quer mais! A aflição chega a dar certa insegurança em seus esfíncteres. Se não tomar providências as coisa poderão cheirar mal.
Poliana sabe que nem mesmo as macaquices habituais de seus bobos e magos nos espetáculos da OP (Orquestra Partidária) conseguirão contentar aos insatisfeitos. Precisaria de reforços espirituais. Decidiu apelar a Santo Jorge, o padroeiro das causas mal definidas, obscuras, inconsistentes e inconstitucionais. Entidade espiritual que andava incorporando em outros terreiros. Com a pajelança de Santo Jorge e os rituais de ilusionismo da Orquestra Partidária, Poliana tinha fé de que conseguiria acalmar seus súditos. Seria tarefa árdua. Necessitaria de muita magia, música, luzes e pirotecnia. Palavras bonitas e vazias. Devia falar muito sem nunca dizer nada. Mais do que antes era preciso fazer com que o povo visse serventia no que é inútil e fundamento na inconsistência. Precisariam sentir-se sujeitos atuantes na construção de um projeto que mesmo alicerçado na lama seria sólido como as promessas de Horário Eleitoral. Era preciso fazê-los crer que em solo árido e de árvores estéreis é que se colhem os mais doces frutos. O povo precisaria acreditar que necessita do que não lhe faz falta. Desejar e aceitar o que para ele não teria qualquer proveito e ainda sentir-se seguro na insegurança. Poliana - a crédula - sabe que com toda sua fé e devoção, conseguirá superar as agruras e obstáculos em seu caminho. Como diz o ditado: “A servidão dos tolos é a serventia dos espertos”. Poliana, agora, poderia dormir tranqüila.

POLIANA EM DEFESA DE SEU CLÃ


O sol voltou a brilhar em Mundo Real, mas nem isso trouxe alegria à Poliana. As coisas andam difíceis por aqui. Não bastasse Imprensa Livre a lhe tirar o sono, agora uma bruxa má deu de lhe contrariar. Poliana não entende de onde surgiu essa velha, feia e gorda, que joga palavras ácidas sobre seu reinado. Pessoa assim, tão mal intencionada deve ser membro do seu clã rival: Oposição. Tanto em Mundo real como em Horário Eleitoral, não é admissível que alguém tenha opiniões sem pertencer a algum clã. Deve haver qualquer interesse escuso, Poliana tem certeza. O que lhe causa estranheza é que até Oposição parece não gostar muito dessa bruxa agourenta, deformada e sem estirpe. Estranho, muito estranho.
Dinheiro, dinheiro, dinheiro! Imprensa Livre, Oposição, Bruxa Má, todos só pensam em orçamento, gastos, recursos. Povinho avarento, miudeiro, sem visão. Não sabem eles que dinheiro abunda em seu reino? De que vale ter tanto se não se pode ajudar os amigos, gastar em futilidades e alegorias? Coisa de gente de alma pobre! Falam eles - os ingratos - em transparência, ética, moralidade... famosas retóricas de Horário Eleitoral, puro blá-blá-blá. Está nas velhas escrituras que regem as normas de conduta de seu mundo: quem dá aos seus, sustenta o clã e colhe poder e carguinhos (espécie de moeda virtual, muito difundida em seu reino). Que mal pode haver em se distribuir pequenos mimos aos companheiros que sempre lhe apoiaram e adularam? Àqueles que lhe massagearam o ego em momentos difíceis. Que falavam apenas o que Poliana queria ouvir. Se não for dar aos seus a quem daria?! Ao povo, certa feita, não haveria de ser. Este só deve receber agrados em doses homeopáticas, administradas a cada quatro anos, em épocas de festividades, quando só então poderão retribuir e valorizar todo o desprendimento e compaixão de Poliana, a caridosa.
Poliana precisava arrumar uma forma de agradar aos seus e ludibriar Imprensa Livre. Para auxiliá-la, convocou o ilustre Comitê de Estudos e Estratégias em Politicagem Ostensiva (CEEPO), importante grupo de conselheiros de seu clã. Velhas e sábias raposas, estrelas de primeira grandeza, capazes das mais brilhantes idéias, donas de todas as certezas. Após dezenas de reuniões, assembléias, pautas, convocações, atas, convenções, pré-convenções, consultas as bases, apartes e questões de ordem os grandes mestres chegaram a solução para o problema. A grande estratégia consistia em um conjunto de ações complexas e apuradas. Poliana deveria limpar o que já estava limpo, arrumar o que estava em ordem, persistir sempre nos mesmos erros, concluir o já acabado, inaugurar e reinaugurar repetidamente as mesmas obras, trocar nada por coisa alguma e principalmente dar novos e pomposos nomes para tudo que até então já existia. E a lição mais sábia e profunda proferida pelo oráculo: não importa a relevância do ato o que importa é o número de cartazes, faixas, propagandas, folders e banners que ele pode render. Tudo para o clã, com o clã e em nome do clã. Poliana, extasiada, suspira aliviada. Agora sim seu reinado estaria seguro, ninguém em Mundo Real seria capaz de identificar tão elaborada operação estratégica, pensa Poliana - a ardilosa.

A FÁBULA DE POLIANA


Poliana anda triste, desanimada, nostálgica até. Sente saudades de Horário Eleitoral. Este sim era lugar bom de se viver. As pessoas eram alegres e festivas. O céu era sempre azul, nunca chovia. Sem, chuva também não havia barro ou buracos no asfalto. Crianças limpinhas e perfumadas corriam saltitantes para seu colo. Não havia ranho, remela, meleca ou piolhos. Os velhos não pareciam tão velhos, e os doentes esbanjavam saúde. Se tropeçava nas palavras, era só editar. Se a imagem não lhe agradava: photoshop. Todos, absolutamente todos os problemas eram resolvidos com um simples aceno de Vontade Política, sua varinha de condão.
Aqui em Mundo Real, tudo é diferente. Vontade Política teima em não funcionar. Pessoas fazem cobranças, críticas, denúncias, queixas. Não é possível editar. Existe a tal Imprensa Livre, sempre a se manifestar. Quem diabos libertou essa fulana?! Certamente algum crédulo sonhador que não compreende que Imprensa Livre e Democracia são personagens das fábulas de Horário Eleitoral. Servem para entretenimento apenas. Não devem ser levadas a sério. Imprensa Livre anda passando dos limites. Tripudia até de sua magnífica obra de engenharia, capaz de ludibriar até as leis da física ligando Nada a Lugar Nenhum. Não entendem, os tolos, a importância histórica de tal feito.
No Mundo Real, até mesmo a mais notável produção de seu reinado, a fundação da Escola de Ensino Superior Poliana, não foi um ato de sua Vontade Política. Com sorte, após dezenas de festas de inauguração, discursos e comemorações seus súditos acabem acreditando que sua varinha de condão materializou sozinha este antigo sonho. Sonhos e ilusões alimentam o povo tanto em Horário Eleitoral quanto em Mundo Real.
Em Horário Eleitoral havia tanta saúde. Os doentes não precisavam nem sair de casa, curandeiros desabavam em suas cabeças, solícitos e atenciosos, trazendo maravilhosas poções milagrosas de pura vitalidade. Poliana não entende! Em Mundo real, não sobram curandeiros! Eles não nascem do chão como musgo ou ervas daninhas! Seus bobos da corte sempre diziam que haveria curandeiros em número suficiente, e que eles trabalhariam de graça, apenas por pão e circo. Poliana nunca fora boa em matemática, por isso acreditou. A culpa deve ser da chuva que teima em cair em Mundo Real. Deve ter afogado os curandeiros que já estavam brotando dando lugar apenas a buracos no asfalto. Em breve, Imprensa Livre reclamará também dos buracos. Que mundo cão!
O que tranqüiliza Poliana é a chegada dos Jogos Mundiais. Nessas épocas de festividades, Imprensa Livre deve voltar os olhos para outros reinados, deixando Poliana descansar. Poliana adora os jogos. São tantas os rostos alegres e as coloridas bandeiras tremulando, igualzinho em Horário Eleitoral. Enquanto os jogos não começam, Poliana se distrai nos espetáculos da OP (Orquestra Partidária). Nesses eventos seus bobos da corte e magos regem de forma primorosa sua orquestra. Conseguem com muita aptidão e magia convencer os espectadores presentes a querer o que nunca almejaram e alcançar o que jamais precisaram, no mais fantástico festival pirotécnico e de ilusionismo já existente. Poliana vai ao delírio! É pura catarse.