domingo, 31 de julho de 2011

A Espera da Escuridão


Poliana estava apreensiva. Corria a boca pequena de seus invejosos críticos, boatos de que dias piores viriam a assombrar a rainha. Falava-se de um tal “agosto negro”. Que coisa grotesca e assustadora poderia se esconder nessa profecia? Poliana esperava que a incessante e monótona chuva que voltara a cair sobre o reino lavasse de vez a imagem de seu reinado democrático e popular. Nada poderia ser mais negro que o chorume que escorria impunemente em seu transparente império. Poliana, a destemida, já passara por todos os apuros possíveis e imagináveis nesse curto período de soberania. Estava convicta que munida de sua invejável coragem e cara-de-pau conseguira colocar não uma, mas centenas de pedras sobre a carniça. Trocara pardais e furões por um meio mais barato e auto-sustentável de controle de tráfego. Agora seus súditos se obrigavam a reduzir a marcha para desviar dos fartos buracos que revestiam as ruas. Projeto é claro, idealizado pela mente engenhosa de sua alteza. Já pensava até em oferecer consultoria para o caro e seleto grupo de engenheiros que os contribuintes estavam pagando para solucionar os problemas que a rainha e sua fiel corte haviam criado no trânsito desse incrível reino. O seu reino! O reino da fantasia. Um pequeno campo repleto de oportunidades para oportunistas com muita lábia e pouca vergonha. Nesse reino, nada de negro poderia turvar a visão míope de seus súditos. Para cada escura nuvem de denúncias que cobrisse seu reinado, Poliana lançava migalhas de recursos públicos, com muita purpurina e lantejoula, nas festivas apresentações de sua domesticada Orquestra Partidária (OP). No inacreditável reino de Poliana, o negro e fétido lixo sempre poderia ser varrido, a altos custos, para baixo dos escarlates tapetes reais. Não! Poliana estava convicta. Nada de negro poderia infestar e encobrir seu cristalino reinado no mês do cachorro louco. Poliana não temeria as lúgubres e funestas profecias vazias. A incandescente rainha venceria qualquer escuridão. Só mesmo o austero breu da toga de Justiça ainda causava calafrios em Poliana. Mas Justiça, até os tolos sabiam, tinha um manto escuro a lhe vendar os olhos, por isso sua alteza poderia dormir tranqüila, sem temer as sombras que povoam os sonhos de seu povo.

sexta-feira, 22 de julho de 2011

Semeando Buracos e Cultivando Tolices


Uma encharcada Poliana observava desolada a chuva que caía do lado de fora do castelo. Nem sua reforçada redoma de vidro fumê fora capaz de resistir ao aguaceiro que castigava o reino. Goteiras romperam a blindagem e lavaram o eterno otimismo da jovem e destemida rainha. Poliana não entendia o que poderia ter feito para desagradar dessa forma a São Pedro. Justo ela que mesmo contrariando os membros mais ortodoxos de seu clã, sempre fora tão devota. Está certo que nos últimos tempos andava se bandeando para entidades terrenas que muito pouco conheciam dos ensinamentos bíblicos. Talvez São Pedro tenha se ofendido com a devoção da rainha aos santos pagãos: Santo Jorge, o showman e São Antônio, o Alquimista. O fato é que enquanto a água rolava, uma praga nascia no maravilhoso reino de Poliana: buracos no asfalto. Uma quantidade imensa deles brotava democraticamente em todos os cantos e centros. Já havia mais buracos do que bobos na corte de Poliana! Um fenômeno surpreendente. Poliana precisava pensar, e logo, em uma forma de encobrir o problema antes que a temível Imprensa Livre começasse a enlamear seu límpido reinado. Sempre haveria, nesse mundo injusto, algum membro da elite alienada que tentaria culpar a pobre e sofredora soberana de todos os pequenos e imprevisíveis problemas do reino. Faltavam recursos para solucionar o atoleiro em que se encontrava. Poliana pulverizara todo o dinheiro de seus contribuintes nos grandiosos e imprescindíveis espetáculos da OP (Orquestra Partidária). Seus súditos adoravam uma festa, por isso quando podiam optavam por um bom e velho circo. Assim o democrático e inovador reinado de Poliana e sua trupe, dera ao povo apenas o que ele queria: churrasqueiras e canchas de bocha! Não era culpa de sua alteza se seus súditos não gostavam de asfaltamento ou saneamento básico. Poliana, a rainha dos excluídos, dava ao povo apenas e tão somente o que ele pedia. Tudo muito lógico e coerente. Só os tolos não conseguem entender.
Mas não adiantava se lamentar com a visão mesquinha e distorcida de Imprensa Livre e os eternos descontentes, era preciso criar soluções. Enquanto aguardava que algum de seus dedicados bobos conseguisse uma forma prática de transformar lixo e chorume em asfalto, era preciso improvisar. Poliana já matutava algumas de suas engenhosas criações. Pensava em implantar novos projetos integrados, integradores e participativos. Organizaria a campanha: adote um buraco. Assim seu adorável e solidário povo seria incluído democrática e participativamente na gestão dos problemas, tornando-se de fato, sujeitos atuantes num autêntico processo de resgate da cidadania. Uma brilhante idéia de uma resplandecente estrela! Para coroar definitivamente seu inusitado reinado lançaria também o inovador programa: Um Buraco no Asfalto por Morador. Um projeto de inclusão onde cada cidadão teria garantido o pleno direito da posse de seu buraco no asfalto. Nunca antes na história desse reino alguém havia realmente lutado para garantir a seus súditos um verdadeiro lugar ao solo. Poliana já vislumbrava os coloridos cartazzes e outdoors com pessoas sorridentes e satisfeitas e os dizeres: Meu buraco minha vida! Seria um estrondo, digno de mais um prêmio de gestão. “Como é que ninguém, nem mesmo o campeão do descaramento - o Ilusionista - havia pensado nisso antes?” – pergunta-se Poliana, a deslumbrada.

sábado, 16 de julho de 2011

Atentando Poliana



- Booombaaa! Corre Poliana, tem uma bomba no palácio!
- Mais uma! Tava durando muito o meu sossego. Em qual emissora estourou a bomba dessa vez? – pergunta a já ressabiada Poliana, enquanto retoca a maquiagem.
- Não! É sério majestade, tem uma bomba no castelo! Temos que evacuar a área!
- Evacuar?! Ai meu Deus, então a repercussão é nacional? Outro tsunami midiático?! Já estou sentindo as cólicas intestinais. – choraminga Poliana, um pouco pálida e sudorética e levando as mãos a barriga. – Ninguém vai evacuar no banheiro real! Vocês Bobos dirijam-se a outras latrinas!
- Presta atenção Poliana, recebemos uma ligação anônima dizendo que colocaram uma bomba no castelo.
- Ligação anônima?
- Isso mesmo, alguém ligou e disse que tem uma bomba aqui! Temos que sair imediatamente!
- Eu não acredito que vocês, seus molóides, quase me matam de susto por causa de uma bobagem dessas! Eu quase me desarranjo todinha por uma besteira. Justo hoje que coloquei meu traje verde água! Que disparate!
- Mas majestade, a situação é preocupante! Precisamos garantir nossa segurança!
Poliana, senhora da situação, senta-se calmamente em seu trono e mantendo a altivez própria de seu cargo, encara seus aflitos bobos da corte.
- Meus adoráveis Bobos da Corte. – começa seu discurso de soberana absoluta – Vocês parecem mais bobos do que meus súditos! Analisem os fatos, seus inúteis! Ligação anônima é estratégia utilizada por nós para ameaçar quem nos contraria! Então, vocês deviam saber muito bem que são sempre ameaças vazias. Feitas para intimidar e semear o medo nos covardes. Nada, além disso! Nesse caso em especial, deve ter sido trote de alguma criança mimada.
- Mas uma bomba rainha...
- Bomba! Nosso reinado é um campo minado delas. Qualquer passo errado e vai tudo pelos ares! Qualquer súdito com um pouco de cérebro e censo crítico, até mesmo uma criança mimada, é capaz de ver isso!
- E se o castelo ruir Poliana?
- O castelo já está ruindo seu estúpido! Qualquer um pode ver. Está caindo aos pedaços! Não precisa nem de um rojão pra desmoronar de vez! Para nós ia ser uma benção se uma bomba de verdade implodisse tudo, assim eu não teria que explicar, no próximo ano, como deixei a situação chegar a esse ponto de calamidade.
- E se explodir mesmo?
- Se explodir vai ser lixo e chorume pra todo lado! – irrita-se Poliana, dona de todas as certezas.
- Eu também acho que essa história de bomba é trote, mas temos que evacuar o castelo para as autoridades averiguarem - intervém Líquen, o mestre de cerimônias de Poliana e assessor para assuntos de calamidade real – E precisamos pensar em como utilizar esse fato a nosso favor.
- Isso mesmo, meu caro Líquen! Precisamos usar essa brincadeirinha de criança para nos promover! Já posso até ver as manchetes com minha foto de benevolente rainha oprimida e perseguida. Vai ser o máximo! Tem certeza que nenhum de vocês encomendou essa bomba? De todas as bombas que vocês já me arrumaram essa foi a única que pode me render uma boa imagem. Está certo que as outras me renderam boas propinas, mas causaram alguns dissabores e desarranjos também. – reflete a rainha das jogatinas.
- Temos que reverter esse fato em um bom marketing para nosso reinado – continua o marqueteiro oficial da rainha – Devemos jogar a culpa desse atentado terrorista sobre as pessoas antidemocráticas que se opõe ao maravilhoso e desprendido reinado de nossa rainha. Podemos insinuar que tudo não passa de conluio de Oposição!
- Não força a barra Líquen! Quem vai acreditar que Oposição ia ter imaginação suficiente para uma estratégia tão elaborada? Eles ainda nem aprenderam a abanar bandeirinhas! – questiona um dos discípulos do clã em tom de deboche.
- Tem razão companheiro, aquela velharada reacionária não deve nem saber usar o telefone.
- Podemos por a culpa na Elite, que não suporta ver uma rainha popular e socialista.
- Isso só funciona em Horário Eleitoral, aqui não vai dar certo. Todo mundo sabe que a tal Elite está muito ocupada trabalhando e sustendo nossas farrinhas e as migalhas que distribuímos a plebe para ter tempo de ficar passando trote. – reflete Poilana, a socialite socialista. – Temos que arrumar uma desculpa esfarrapada mais convincente.
- Vamos pensar nisso mais tarde. Agora temos que deixar o palácio. Poliana precisa ensaiar sua cara de mártir mais convincente. Nós devemos fazer cara de preocupação e zelo com o patrimônio público.
- Vocês acham que devo trocar o traje por um mais sombrio e fúnebre?
- Eu acho que uma cor mais escura ficaria melhor Poliana. Talvez um certo ar de desarranjo, não intestinal, mas de quem foi pega de surpresa em meio ao árduo trabalho de luta pelos fracos e oprimidos, faça uma agradável imagem para fotos. Digna de uma rainha popular e populista.
- Devo chorar? – pergunta a articulada rainha.
- Não. Nada de lágrimas. Apenas o semblante de preocupação teatral com seus subordinados e a postura de soberana corajosa e destemida, pronta a vencer todas as adversidades em nome de seu povo e da democracia no reino.
- Nossa, que romântico! Parece texto de discurso do Fidel! Digo, música do Gardel! E eu devo discursar?
- Não! Melhor ficar calada. O silêncio é a sabedoria do apedeuta*.
- De quem?! – questiona Poliana, confusa.
- Do soberano, Poliana. De quem detém o poder. – traduz convenientemente o estrategista de Poliana, a rainha do ilusionismo e da ilusão autossustentável.
*apedeuta: o mesmo que ignorante, boçal, desconhecedor, estúpido.

sábado, 9 de julho de 2011


Neste mês esse blog comemora um ano em atividade. As mais de mil pessoas que nos visitaram neste período nosso obrigado. Foi a participação persistente de vocês que manteve esse espaço aberto por um ano. Esperamos continuar contando com suas visitas, críticas e sugestões.
Hoje estaremos fugindo do formato usual do blog. Não faremos graça e as caricaturas usuais. Falaremos de assuntos reais, sérios e pertinentes. Cabe refletirmos. Espero que vocês gostem e continuem participando desse blog que é de vocês. Aqui não há censura. Participem com seus comentários e críticas. Obrigada a todos. Divirtam-se!

FALA SÉRIO



Ontem, os meios de comunicação noticiaram que nossa Presidente da República ofereceu a Hugo Chaves tratamento médico oncológico em nosso país. Muito nobre de nossa governante, digno de uma grande estadista que almeja cadeira na ONU. Revoltante para nós brasileiros que vemos dia a dia pessoas agonizarem em cadeiras e macas das centenas de emergência superlotadas desse país de governos insensíveis e imorais. O tratamento e acomodações dignas, que nossa presidente oferece ao aprendiz de ditador venezuelano que persegue jornalistas e opositores em seu país, é diariamente negado aos brasileiros honestos, que sustentam as tolices, imbecilidades e mordomias de políticos de moral duvidosa e de mãos sujas por propinas e mensalões. Os trabalhadores brasileiros íntegros precisam mendigar por meses a espera de exames básicos para o diagnóstico de doenças graves. Peregrinam nas emergências em busca de atendimento. Profissionais sobrecarregados e mal remunerados sucumbem diante da falência e desestrutura do sistema público de saúde, enquanto nossos governantes se locupletam escandalosamente com os recursos que faltam ao SUS. Nossa presidente, tão preocupada com a saúde do megalomaníaco Hugo Chaves, articula com seus líderes e apoiadores no congresso para que a Emenda Constitucional 29, que aumentaria substancialmente as verbas para o SUS, permaneça engavetada por mais uma década. Não demonstra por seu povo, que democrática e legitimamente a elegeu como sua representante, nem um décimo da humanidade e compaixão que esbanja pelo presidente do país visinho.
A mesma Dilma estadista se recusou a receber a Prêmio Nobel da Paz, Shirin Ebadi, modelo de luta pelos direitos humanos e contra a tirania do ditador iraniano Mahmoud Ahmadinejad. Não quis desagradar outro de seus amigos que promovem a tortura e pregam o anti-semitismo. A defesa de torturadores e bandidos, nossa democrática e abnegada presidente, deve ter herdado de seu antecessor, o já candidato em campanha Luis Inácio. O ex-presidente, que apesar do discurso em prol da democracia também foi incansável na defesa de governos ditatoriais que perseguem a liberdade de opinião, e de terroristas. Também um estadista, que coroado de covardia, no apagar das luzes de seu último dia de governo assinou documento impedindo que o assassino terrorista Cesare Batisti, julgado e condenado na reconhecida democracia italiana pelo assassinato de quatro pessoas, fosse extraditado e entregue a justiça de seu país. Vergonhosa decisão avalizada por um Supremo Tribunal de Justiça eternamente conivente com a imoralidade e a corrupção. De um sistema judiciário preguiçoso e servil, que se esconde atrás de subterfúgios jurídicos para justificar sua inércia frente às iniqüidades de nosso país não se esperava atitude mais digna. Decência e retidão provaram nossos pomposos e arrogantes magistrados, não se aprende ou se compra, em bancos escolares. Moral, caráter e ética, provam nossos digníssimos representantes, não se adquire nas urnas. Nas urnas, ao que tudo indica, se conquista o direito de trocar a dignidade de um povo por poder e libertinagem.
A nós brasileiros resta esperar. Não por dignidade na hora da doença. Não por uma saúde de qualidade, universal e gratuita como prevê nossa Constituição Cidadã, escrita por nossos indignos parlamentares. Não por justiça, aplicada por magistrados sonolentos e descompromissados. Esperamos nós, os brasileiros, por uma inesquecível e dispendiosa Copa do Mundo de Futebol! Que no campo das ilusões possamos ser um gigante de oportunidades e glórias e esquecer o descaso e o deboche perene de nossos fieis e desprezíveis representantes.