sexta-feira, 22 de abril de 2016

FALA SÉRIO! O Não do palhaço


“Senhor presidente, pelo meu país, meu voto é sim!”.  Desta forma, sorridente, proferiu seu voto, o deputado Tiririca, sob aplausos efusivos dos colegas parlamentares. Voto bastante comemorado por ser esta a primeira vez, em seis anos, que o parlamentar fazia uso do microfone na plenária da câmara.
A maioria dos brasileiros que acompanhava a transmissão pela televisão, tenho certeza, sorriu ao assistir o deputado votar. Tiririca é dessas pessoas que faz a gente sorrir, mesmo quando não está em seu papel de palhaço. Tiririca é a representação de boa parte do povo brasileiro. Simples, origem humilde, pouco estudo, nordestino. É carismático. Tanto que conseguiu ser votado por milhões de eleitores. Voto de protesto ou não, Tiririca é o espelho de nossa representação na câmara. A votação, acompanhada ao vivo por surpreendente audiência, colocara pela primeira vez os brasileiros frente a frente com seus representantes. E, para muitos, fora um choque de realidade vê-los assim, em seu habitat, tão reais e tão medíocres. Se era sabido que a integridade moral de nossos parlamentares era duvidosa, agora, sabe-se também que seu  nível intelectual é sofrível. E o nível de nossos representantes reflete o nível de nossas escolhas. O nosso nível, portanto.
Em poucos segundos, proferindo seus votos, foi possível perceber a qualidade, no máximo mediana, de grande parte de nossa câmara. E, gostemos ou não, restou evidente o que levou um homem como Eduardo Cunha a ocupar o cargo máximo da casa do povo: sua superioridade frente aos seus pares. Inteligente. Conhecedor e estudioso dedicado das regras da casa. Ironia fina. Sarcasmo comedido. Frieza quase irritante. Sem sombra de dúvidas, um parlamentar acima da média do nosso parlamento. E atolado em escândalos de corrupção e em desvios de milhões, também. Como tantos outros naquela casa.
Não há como exigir mais de nossos políticos, quando a preocupação maior de boa parte do povo que os escolhe é meramente sobreviver. Um povo que se contenta com reles afagos ou pequenas esmolas em período eleitoral não elegerá grandes estadistas e brilhantes pensadores, salvo por algum improvável acidente de percurso.
Temos Renan Calheiros e Fernando Collor. Temos Eduardo Cunha e Paulo Maluf. E temos Tiririca. Dentre nossos conhecidos corruptos contumazes e reincidentes, Tiririca, o palhaço, fora a mais dura traição à Luiz Inácio Lula da Silva. O “não” do homem simples e humilde, retrato de um povo, ao ex-presidente, ilustra a derrocada final de Lula, o retirante nordestino, proletário e pai dos pobres. O mito Lula, hoje, não ilude, compra ou convence mais nem Tiririca, o palhaço.  Tiririca, o palhaço, disse não à Lula, e “pelo seu povo, disse sim.” Não é, ainda, o fim de Lula, mas este nunca esteve tão próximo do fim. Triste e nostálgico fim de um mito. Triste realidade de um país, representado por corruptos contumazes, míticos embusteiros e carismáticos palhaços. Um país de palhaços, é o que somos. O país dos embustes populistas, dos corruptos de sempre, e dos Tiriricas.




segunda-feira, 11 de abril de 2016

Os fins e os meios

“Quem quer dinheiro?! Quem quer dinheiro?!”, é o que se ouve na sede do poder central. Reprises de algum antigo programa de auditório? Infelizmente, não. É o feirão da Rainha Mãe de Gigante Adormecido. Verdadeira queima de estoque de carguinhos e boquinhas. E o responsável pela mega liquidação, era justamente ele, a alma mais honesta do mundo, o Ilusionista. Se antes nossa monarca era um reles avatar de seu antecessor, nas últimas semanas, cada vez mais acuada, parecia um patético robô, programado para bradar a palavra golpe a cada duas orações. Enquanto a rainha permanecia exilada no palácio real, recebendo apenas as tradicionais plateias adestradas para aplaudir seus confusos e desconexos discursos, seu grande mestre distribuía recursos públicos em negociatas nada republicanas. “Ah, mas sempre se trocou cargos por apoio, por estas bandas!” – argumentam os defensores da rainha, na falta de argumentos mais sólidos ou menos insólitos.

A Rainha Mãe, cujas dificuldades e competências na administração do reino, por muitos eram sabidas há tempos, e por todos já são sentidas agora, inova mais uma vez. Terceirizara seu governo definitivamente ao Ilusionista, que sequer fazia parte de sua corte oficial. Um novo sistema de governo estava posto. Mais uma jabuticaba local. Uma luxuosa suíte de hotel é a nova sede do poder do reino, onde membros do parlamento sorrateiramente entram para se vender, e o maior baluarte da moralidade, a todos está disposto a comprar. Quarto de hotel... troca de favores por dinheiro... O poder em Gigante Adormecido nunca esteve tão declaradamente perto do que sempre fora: uma verdadeira casa de tolerância. E o grande, e inquestionável Ilusionista, prometia a seus seguidores não decepcionar como cafetão. Era o que dele esperava sua constelação de estrelas, para quem a cafetinagem com dinheiro público é só um meio de atingir os seus fins. E os seus fins, eles garantem, são mais limpos e dignos que os de qualquer outros. Quem discordar é golpista, com absoluta certeza.

E, em poucos dias, o futuro de nossa monarca estaria selado. O povo de Gigante Adormecido aguardava ansioso para, finalmente, saber quem são as messalinas e michês da casa de tolerância da Rainha Mãe. O administrador do local, já é bastante conhecido. A quem ainda não se vendeu, restam poucos cargos e ministérios e alguns milhões de dinheiro do povo. E o tempo é curto! Corram enquanto há tempo! Não vai ter golpe, vai ter propina! – gritam os defensores da imoralidade institucionalizada, sem um sopro de vergonha. Eles estão certos.

domingo, 3 de abril de 2016

Naufrágio da imoralidade

Quando os ratos abandonam o barco é sinal que o naufrágio é eminente. E, em se tratando da rataiada em questão, eternamente presentes nos porões do poder, a situação era alarmante para nossa rainha, a essas alturas com a água batendo no pescoço. Para tentar se manter no poder, a Rainha Mãe e seu clã estrelado usam velhas e batidas táticas, as mesmas que em outros tempos condenavam: compravam apoio. Era o feirão dos desesperados. Milhares de carguinhos e milhões de recursos públicos eram oferecidos aos nanicos no balcão socialista da companheirada. Os peixes mais graúdos se vendiam por vultuosas somas.  Já os lambaris, aceitavam um pacote de mariolas e um par de Havaianas só para sofrerem uma indisposição intestinal no dia da votação. Afinal, nas atuais circunstâncias, era preciso coragem pra mostrar a cara em defesa de sua alteza.
           Mas, felizmente para Rainha Mãe, sempre haviam pessoas idôneas e bem intencionadas dispostas a empunhar a espada da ética em sua defesa. No abre alas, com seu collorido estandarte da moralidade, o velho caçador de marajás, outro pobre injustiçado vítima do golpe do impeachment. Criatura tão compreensiva e abnegada que sequer guardara rancor da patrulha vermelha da moralidade que, em outros tempos, lotaram as ruas pedindo sua coroada cabeça. Outro antigo desafeto da companheirada, que por anos gozara do título de maior corrupto de Gigante Adormecido, Paulo Salim, também se empenhava em defender a rainha. A essas alturas, tantos escândalos de corrupção depois, seu “rouba mas faz” tornara-se irrisório e sem importância. Não havia mágoa que não pudesse ser apagada por favores e propinas. Sorte da Rainha Mãe e sua militância estrelada contar com gente desse gabarito para defender seu irretocável projeto de poder.
           Mas, a magnânima e sua trupe estavam mesmo alarmados com a violência dos grupos populares contrários a seu reinado. Um pessoal agressivo e raivoso que ameaçava a ordem e a paz social. Uma gente golpista e que usava armas letais: e-mails, postagens em redes sociais, faixas, cartazes, passeatas e vaias!  Não bastasse a evidente intenção antidemocrática dessas criaturas, ainda idolatravam Justiça, aquela fedelha mal intencionada que perseguia corruptos e praticava maldades contra o povo. Uma temeridade terroristas deste porte ainda estarem a solta! E, contra o ódio e pela paz no reino, nossa soberana pacifista discursa, nas dependências do Palácio Real, para seu fiel grupo de estrelas, conclamando seu exército vermelho a resistir aos ataques dos terroristas antidemocráticos. “Nós não defendemos a violência, eles sim! Eles exercem a violência, nós não!” – brada a rainha para sua seleta plateia. Um grupo paz e amor que promete combater o ódio sangrento dos golpistas com invasões de terra, obstrução de estradas, incêndios, ocupação do Parlamento, de prédios públicos e propriedades privadas de parlamentares contrários. “Pela democracia e contra o golpe! Morte a Justiça! Cala boca Imprensa Livre!”, urravam os democráticos pacifistas, sob olhares embevecidos da soberana de Gigante Adormecido. A rainha que, mesmo desprezada por muitos, ainda era de todos, e pelo todo devia governar e prezar.
          As ratazanas, por anos aliadas da realeza, abandonaram o barco naufragante. É o que se espera dos ratos. A rainha agonizante, na iminência da decapitação, abdica do papel de rainha de todos, incentiva a reação irracional dos que se mantém ao seu lado, e joga povo contra povo. Seriam todos o seu povo, fosse sua alteza algo mais que um ser invertebrado.
          Caberá ao povo, imenso e pacífico povo de Gigante Adormecido, mostrar que é maior, muito maior e melhor, que os ratos e vermes que o governam. Ao invés de luta; debates, discordâncias e discussões civilizadas. Não haverá golpe. Prevalecerá a boa e velha democracia. Apesar de vocês: ratos e vermes.