Encerrada em sua redoma Poliana observava a chuva que não
dava tréguas aos seus súditos. A rainha andava nostálgica nos últimos tempos. A
chuva sempre causava este estranho efeito em sua alteza. Depois da tormenta,
surgem os buracos no asfalto. Como se não bastassem as centenas que já havia,
pensa Poliana.
Quanta saudade sentia de Horário Eleitoral! Aquilo sim era lugar
bom de viver. Não tinha tempo ruim ou buracos no asfalto que uma boa edição não
resolvesse. Reinar era muito mais fácil, colorido e perfumado em Horário
Eleitoral. Sem Imprensa Livre ou a famigerada Justiça para lhe infernizar. Se
soubesse antes as agruras que iria enfrentar talvez tivesse escolhido outro caminho,
bem menos pedregoso e esburacado.
Pelo menos nesses seus últimos meses de reinado parecia estar
conseguindo contornar as trapalhadas crônicas de seus bobos e evitar os freqüentes
e repetitivos escândalos midiáticos. Melhor nem pensar muito alto, preocupa-se
Poliana, pois seus bobos são mestres em cometer deslizes éticos e podiam
acordar a qualquer hora.
Até Imprensa Livre andava dando trégua a rainha ultimamente.
Nada como algumas inserções publicitárias e alguns carguinhos bem distribuídos
para conseguir um pouco de paz de espírito. Sorte de Poliana ser tão astuta.
Só lhe restava acomodar Justiça definitivamente também, para
sua paz continuar perene. Para essa, no
entanto, de nada adiantava oferecer carguinhos. Tomara que no fim, bem no fim
das contas, sempre pudesse lhe sobrar alguma infringência caridosa de Justiça,
pensa a sonhadora Poliana já fazendo
planos para o futuro.
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