O ambiente
das gravações estava enfumaçado pelos incensos, tornando o ar quase
irrespirável. No chão, sobre coloridas
almofadas, vestindo longas saias ciganas e lenço na cabeça, estava Poliana – a monarca
paz e amor.
-
Polianinha, querida, seus ouvintes gostariam de saber como é a Poliana pessoa?
- Eu sou
muito amável com meus súditos. Gosto muito das pessoas. Sempre procurei
trabalhar cercada de muita gente. Por isso tenho tantos bobos e pajens a minha
volta, sempre a me bajular. E eu amo as criançinhas também! Principalmente
aqui, em Horário Eleitoral, onde todas são tão comportadas e limpinhas. Não sou
de dar chutes na canela, como uns e outros por aí. – lastima Poliana, cruzando
os braços com pose de virgem ultrajada.
- Então é
por isso que você, amadinha, tem se empenhado tanto para transformar seu reino
num bom lugar para seus súditos!Que adorável de sua parte! – adula o
marqueteiro meloso - E quais foram as ações que você, alteza, mais se empenhou
com essa sua generosa mente de rainha?
- A minha
primeira ação como monarca foi a criação de empregos. Isso sempre foi uma
prioridade para mim. Por isso, criei o PROUCA – Programa Um Carguinho por
Apadrinhado. Com esse inovador programa de inclusão de velhos amigos em
confortáveis troninhos públicos, conseguimos a geração de dezenas de empregos.
E o melhor de tudo: tudo pago por nossos fieis contribuintes! – vangloria-se
Poliana, cruzando os braços com cara de soberana séria.
- E como se
deu a seleção para a harmoniosa distribuição desses carguinhos em seu império,
rainha?
- Foi um
complexo processo de seleção elaborado por experientes raposas de nossa aliança
integrada e integradora. Critérios muito rígidos foram seguidos para que se
fizesse o melhor uso dos empregos públicos. Atribuímos uma escala criteriosa de
valores para o currículo dos candidatos e apenas os melhores colocados foram
contemplados com esse benefício.
- Deve ter
sido muito penoso para a sensível rainha, deixar tanta gente de fora dos
desejados empreguinhos públicos. – acrescenta pesaroso o apresentador.
- Na
verdade foi muito fácil, fofinho. Não ficou nenhum aliado de fora. Todo
candidato a uma teta pública que abanou uma bandeirinha já conseguia nota oito.
Mesmo que fosse em GreNal. Sabe como é, nós adoramos um bom circo para agradar
o povão. Se tivesse freqüentado alguma churrascada ou pão com lingüiça na
periferia, era mais um ponto no currículo. E você sabe como são mortos de fome
a companheirada, né? E para finalizar a seleção, cada candidato preenchia um
termo de compromisso de que participaria assiduamente de todas as tediosas
reuniões da OP (Orquestra Partidária). Assim, conseguimos acomodar todos nossos
amigos nos carguinhos públicos. E nossos adoráveis contribuintes nem
reclamaram! Esse é o nosso jeito de governar! – conclui a benevolente Poliana,
cruzando os braços e piscando maliciosa para as câmeras.
- Nossa, eu
estou realmente impressionado alteza. Mas, mudando de assunto, como seu reinado
tem enfrentado a confusão do trânsito de nosso reino?
- Confusão
esta fazendo você, seu ignorante! - irrita-se a rainha, esquecendo o papel de riponga
sequelada - O tráfego em meu reinado é
rápido e fluído, como meu trânsito intestinal antes dos debates na TV! Só você,
Oposição, e os transeuntes é que não conseguem perceber isso! – indigna-se
Poliana, mostrando os já conhecidos sinais de destempero e cruzando os braços
emburrada.
- Mil
desculpas, alteza! Eu certamente não me expressei bem. Eu prometo seguir o
script daqui para frente. – acrescenta rapidamente o sudorético entrevistador -
Aqui diz que ao invés de confusão no trânsito eu devo usar as palavras: maravilhoso projeto de mobilidade urbana. Vou
reformular a pergunta: do que se trata esse maravilhoso projeto de mobilidade
urbana - salienta bem o marqueteiro oficial - implantado de forma tão competente
e tecnicamente sustentada por seu grandioso reinado de oportunidades, Poliana?
Como foi realizado o estudo técnico para implantação de todas essas melhorias
no trânsito?
- Foi tudo
muito simples. Eu juntei os primeiros quatro bobos da corte que cruzaram o meu
caminho e juntos definimos quais ações deveriam ser executadas. Nós fechamos
uma rua aqui, outra lá... bloqueamos um cruzamento acolá, jogamos uns vasos no
meio da rua para enfeitar a balburdia... Foi tudo muito divertido. Depois de
tudo pronto nós contratamos uma empresa especializada para concordar com nosso
projeto. Como os tais especialistas discordaram da minha idéia de trânsito seguro,
eu engavetei o projeto! Tudo com o patrocínio de nosso paciente contribuinte, é
claro. Essa sou eu! Magnânima! Esse é o meu jeito de governar. – acrescenta a
rainha, altiva e sorridente, cruzando os braços pra câmera.
- E quais
são as novas ousadas ações que a senhora pretende colocar em prática para a
trafegabilidade do reino?
- Nós já
estamos tomando medidas extremas, inovadoras e originais, nos cruzamentos mais perigosos do
reino. – continua Poliana, cruzando os braços com ar de séria e preocupada
monarca.
- Vão
tirar, finalmente, aqueles vasos do meio da rua? – pergunta entusiasmado o
marqueteiro.
- Claro que
não, seu bestalhão! Aqueles vasos são adorados pelos motoristas. Tornaram nosso
trânsito mais ecológico e bucólico. Nossas novas medidas são muito mais
drásticas. Estamos colocando semáforos! – exulta a rainha, cruzando os braços
com cara de espertalhona - Sim! Semáforos!
- Que bom
rainha! Com novos semáforos em locais de maior fluxo evitaremos acidentes! Brilhante
idéia, Poliana!
- Não é bem
isso. Nós estamos colocando semáforos onde já existiam semáforos. Ia ser muito
complexo colocá-los em locais novos e problemáticos. Colocamos sinaleiras mais
luminosas e brilhantes. Assim, a colonada de nosso reino fica tão fascinada com
aquelas luzinhas piscando, que nem presta atenção em todos aqueles buracos no
asfalto. Esse é o meu jeito de governar! – salienta Poliana, cruzando os braços e sorrindo deslumbrada para
as câmeras.
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