Nossa prestimosa Poliana pode
tardar, mas jamais falha. Nos últimos suspiros de seu reinado decidira, vejam
só, atender as principais promessas feitas em sua primeira turnê a Horário
Eleitoral. Finalmente, Vontade Política, sua varinha de condão, resolvera
funcionar após tantos anos em permanente manutenção. O frio deveria ser a
explicação! O inverno mais intenso das últimas décadas deve ter acordado
Vontade Política. Pura coincidência esse milagre ocorrer tão próximo de um nova
viagem ao mundo encantado e colorido de Horário Eleitoral. Neste ano, para
desespero de Poliana e sua trupe, Horário Eleitoral não seria mais tão bonito e
enfeitado como antes. A maquiagem e o photoshop estariam limitados por lá. Por
isso, nossa rainha precisava fazer agora o que adiara por anos.
E, enfim, as consultas médicas
nasceriam do chão, feito inço no verão. Nada mais de filas na espera por pronto
atendimento. A super safra de médicos, tão alardeada e prometida, finalmente
dera o ar da graça. E os atendimentos de saúde floresceriam como os Ipês. Pelo
menos até o final da primavera. O velho mantra de seu tempo de pedra, trocar
agendamento por respeito, resolvera acordar Poliana nos seus últimos tempos de
vidraça. Seria uma temeridade que sua alteza fosse lembrada por Oposição de sua
incompetência em cumprir uma surrada promessa. Sorte de Poliana a memória de
seus súditos ser mais curta que resfriado. Se em Horário Eleitoral nossa
monarca e seus aliados tinham todos os diagnósticos e terapêuticas, aqui em
Mundo Real a saúde era merecedora apenas de medidas paliativas. E, pelo menos
pelas próximas semanas, era preciso manter seus súditos em boa forma, afinal,
saúde sempre fora uma boa moeda de troca nas competições quadrienais de Horário
Eleitoral.
Segurança! Outro mantra de nossa
alteza tão negligenciado em seu reinado. Era para serem apenas palavras ao
vento que ninguém lembraria decorridos alguns meses, mas a insegurança do povo
podia fazê-lo lembrar de suas - as de Poliana - promessas vazias do passado. Para tranquilizar
seus súditos, Poliana prometia transformar seu reino em um gigantesco Big
Brother. Câmeras de videomonitoramento já estavam brotando nos postes, como
musgo. Se funcionavam, ainda ninguém sabia, mas que chamavam a atenção, isso
chamavam. Que essas novas máquinas consigam intimidar os bandidos mais do que
as anteriores, que Poliana preguiçosamente deixou enferrujar até virarem
sucata, para contentamento dos meliantes locais.
Poliana, inequivocamente, era
excelente nos diagnósticos precisos das mazelas de seu povo, mas exageradamente
lentinha em colocar as soluções em prática. O que motivava a monarca e sua
vasta corte, não eram as necessidades diárias do povo, e sim suas próprias
necessidades de votos. Uma pena que as competições em Horário Eleitoral só
ocorram a cada quatro anos. Muito tempo para quem precisa de saúde e segurança.
Tempo suficiente para Poliana enrolar, cozinhar em banho-maria, e ao final do
segundo tempo de jogo, marcar um gol de mão. Sua alteza merecia a medalha
olímpica em descaramento. E a conquistaria. Com o apoio do povo, que por anos
aguardou por atendimento em saúde e sofreu com o abandono e a insegurança. O
sofrido povo desse reino se alimenta de sonhos e ilusões, e contentava-se com remendos
e remédios de última hora. Um povo que aceita apenas medidas paliativas, merece
uma rainha placebo, muito mais farinha que conteúdo.
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