Assim, os companheiros lançavam
mão do Manual de conduta socialista em
época de alianças espúrias. E era preciso ensaiar para não errar no figurino
ou tropeçar no roteiro. A palavra golpe, e todas as suas derivações, estavam
terminantemente proibidas. O que já emudeceria boa parte da militância bitolada
que só conhecia esse termo. O vermelho teria de ser abolido definitivamente.
Nem camisetas de time de futebol seriam toleradas. A companheirada agora
vestiria branco, a cor da paz, e o rosa. De preferência rosa bebê. Tudo muito
angelical. Che Guevara, então, nem pensar! Nade de gravuras de barbudos, sequer
Raul Seixas ou Bob Marley. E as estrelas? Ah, as estrelas! Precisariam ficar
escondidas. O companheiro mais ortodoxo que optasse por manter a estrela rente ao
corpo, deveria usá-la nas cuecas onde não pudesse ser vista. Os seguidores da
velha e boa estrela precisariam arrumar outro símbolo de seus ideais para
pendurar no peito ou estampar nas bandeiras. Um nabo parecia ser a escolha mais
substanciosa, uma síntese de suas convicções e do conteúdo de seus escolhidos
para essa próxima disputa. E, os outrora destemidos e esperneantes companheiros,
aceitavam as novas regras como cordeirinhos.
A festa de lançamento de seus
candidatos ao trono teve muito mais que pão, linguicinha e asa de frango torrada.
Mais que uma Poliana esganiçante e lacrimosa nos discursos. Mais que cargos de
confiança da rainha obrigados a participar da confraternização para garantir a
boquinha. Foi pura emoção! Os companheiros, agora paz e amor, empunhavam com os
olhos úmidos, suas novas bandeiras brancas com sutis traços de lilás. Alguns
vestiam camisetas com a foto de Justin Bieber. Trocaram os chavões de Guevara
por frases de padre Marcelo. E, sob uma
chuva de purpurina, todos, companheiros do clã estrelado e membros da irmandade
do fogo, de mãos dadas, cantavam – não mais Vandré ou Chico – mas, o Rei. Olhos
nos olhos, entoavam: “Você meu amigo de fé, meu irmão camarada. Amigo de tantos
caminhos e tantas jornadas... “. Um momento sublime. Digno de registro para
posteridade.
Em tempos onde as certezas do
povo são expostas com lava jato, os picaretas continuam irmanados em nome do
poder, e uma estrofe melodiosa, cantada em uníssono, resume essa longeva aliança
entre hipócritas e patifes: “Amigo, você é o mais certo das horas incertas.”
Parece que ouço o cântico...Vitoriaaaa, tu reinarás...canto de igreja, na voz dos anjos, vestidos de branco, azul bebê e rooooosa...sepultaram o vermelho...claro, momentaneamente...kkkkkkkkkkkk
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