segunda-feira, 8 de agosto de 2016

Aberta a temporada de caça aos tolos

E Gigante Adormecido comemora o sucesso de sua festa de abertura dos jogos mundiais. Conseguimos, mais uma vez, provar ao mundo que em alegorias e fantasias somos imbatíveis. Tomara um dia cheguemos perto de entrar no ranking das nações seguras, organizadas e decentes. Enquanto títulos deste quilate tardam, que nos regozijemos com nossas ilusões para turista ver.
E Mesóclise, o rei tampão, alcançou o primeiro recorde do campeonato. Conseguira proferir as palavras da abertura oficial do evento em velocidade surpreendente. Tudo para escapar das vaias, conhecida arma do povo para demonstrar descontentamento. Falhara Mesóclise, apesar de sua agilidade ímpar. A saraivada de vaias o atingiram em cheio. Sua majestade conseguia a façanha de descontentar, simultaneamente, coxinhas e mortadelas. Essas duas vertentes rivais em uníssono vaiavam o rei, que segurava o microfone com a mesma vontade que agarrara-se ao poder ao longo de sua vida. Ufa! – suspira Mesóclise, terminada sua apresentação relâmpago. – Jamais contentá-lo-ei a todos. Ao menos contentá-lo-ia aos seus compadres. Era o que precisava em sua interinidade.
E, enquanto todo Gigante Adormecido assistia as disputas das várias modalidades olímpicas, no pequeno e pacato reino de Poliana um novo jogo ganhava as ruas, chamando a atenção de seu povo. Pessoas andavam pelo reino em uma caçada curiosa. Adentravam em igrejas e botecos. Invadiam os espaços públicos e festas de comunidades. Perturbavam missas, aniversários, casamentos e batizados. Sempre procurando por algo. Nem mesmo os velórios eram respeitados. Ah! O novo jogo virtual, verdadeira febre entre os jovens, chegara por aqui. O Pokémon Go! Sim, o aplicativo já baixara por essas bandas e fazia sucesso. Mas não eram jogadores perseguindo bichinhos virtuais o que mais se via pelo reino. Eram candidatos caçando eleitores. A dinâmica era a mesma de sempre: cada eleitor capturado valia um bônus, chamado voto. Para capturar eleitores os jogadores usavam armas de atração. Promessas vazias e pão com linguiça eram as mais atrativas iscas para pegar os mais bobos. Os eleitores mais criteriosos exigiam um pouco mais de destreza dos jogadores, como churrascadas com maionese e salada de repolho, e ofertas de uma boquinha no futuro. Ao final do jogo, que tinha prazo definido para terminar, os votos conquistados pelos jogadores seriam trocados por brindes. Maior o brinde, quanto maior o número de pontos alcançados: poder, cargos, carguinhos e, é claro, dinheiro público. Esse fantástico jogo estava apenas iniciando. Atingiria o ápice nas próximas semanas, com os jogadores cada vez mais vorazes em suas caçadas. O povo teria de se camuflar e rebolar para conseguir escapar da captura, e de se ver aprisionado pelos próximos quatro anos as mesmas mentiras e ilusões que são a alma desse jogo.
 

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