sábado, 20 de agosto de 2016

Amizade cor de rosa

E foi finalmente aberto o festival pirotécnico de Horário Eleitoral. Era hora de afinar os discursos e deixar a coerência de lado, novamente. No curioso reino de Poliana golpistas e golpeados andavam, mais uma vez, de mãos dadas, como irmãos. Feitos do mesmo barro, alimentados nas mesmas tetas, sustentados pelas mesmas propinas. A ladainha de golpe e traição estaria abolida por essas bandas. Pelo menos nas próximas semanas. Para tanto, a companheirada fizera uma nova interpretação dos ensinamentos de Marx. Mais valia o poder nas mãos, e os bolsos cheios de propinas, que uma ideologia vazia.

Assim, os companheiros lançavam mão do Manual de conduta socialista em época de alianças espúrias. E era preciso ensaiar para não errar no figurino ou tropeçar no roteiro. A palavra golpe, e todas as suas derivações, estavam terminantemente proibidas. O que já emudeceria boa parte da militância bitolada que só conhecia esse termo. O vermelho teria de ser abolido definitivamente. Nem camisetas de time de futebol seriam toleradas. A companheirada agora vestiria branco, a cor da paz, e o rosa. De preferência rosa bebê. Tudo muito angelical. Che Guevara, então, nem pensar! Nade de gravuras de barbudos, sequer Raul Seixas ou Bob Marley. E as estrelas? Ah, as estrelas! Precisariam ficar escondidas. O companheiro mais ortodoxo que optasse por manter a estrela rente ao corpo, deveria usá-la nas cuecas onde não pudesse ser vista. Os seguidores da velha e boa estrela precisariam arrumar outro símbolo de seus ideais para pendurar no peito ou estampar nas bandeiras. Um nabo parecia ser a escolha mais substanciosa, uma síntese de suas convicções e do conteúdo de seus escolhidos para essa próxima disputa. E, os outrora destemidos e esperneantes companheiros, aceitavam as novas regras como cordeirinhos.

A festa de lançamento de seus candidatos ao trono teve muito mais que pão, linguicinha e asa de frango torrada. Mais que uma Poliana esganiçante e lacrimosa nos discursos. Mais que cargos de confiança da rainha obrigados a participar da confraternização para garantir a boquinha. Foi pura emoção! Os companheiros, agora paz e amor, empunhavam com os olhos úmidos, suas novas bandeiras brancas com sutis traços de lilás. Alguns vestiam camisetas com a foto de Justin Bieber. Trocaram os chavões de Guevara por frases de padre Marcelo.  E, sob uma chuva de purpurina, todos, companheiros do clã estrelado e membros da irmandade do fogo, de mãos dadas, cantavam – não mais Vandré ou Chico – mas, o Rei. Olhos nos olhos, entoavam: “Você meu amigo de fé, meu irmão camarada. Amigo de tantos caminhos e tantas jornadas... “. Um momento sublime. Digno de registro para posteridade.

Em tempos onde as certezas do povo são expostas com lava jato, os picaretas continuam irmanados em nome do poder, e uma estrofe melodiosa, cantada em uníssono, resume essa longeva aliança entre hipócritas e patifes: “Amigo, você é o mais certo das horas incertas.”

Um comentário:

  1. Parece que ouço o cântico...Vitoriaaaa, tu reinarás...canto de igreja, na voz dos anjos, vestidos de branco, azul bebê e rooooosa...sepultaram o vermelho...claro, momentaneamente...kkkkkkkkkkkk

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