segunda-feira, 6 de junho de 2016

Traição de raposas e as raposas traídas

Suave música ambiente e troca de sussurros. Homens brancos, ricos e velhos vestindo apenas cuecas e meias. Não era uma sauna. Nem algum tipo de suruba. Suruba por essas bandas, só com dinheiro do povo. Trata-se de reunião ministerial. Com a nova onda de gravações clandestinas atingindo velhos caciques do poder, o negócio era prevenir. Nem as velhas raposas eram confiáveis. E onde todos devem, todos temem. Uma desgraça para Mesóclise, o rei interino, que não conseguia manter o mesmo gabinete por duas semanas seguidas.
 
A cada gravação divulgada, mais e mais aliados se atolavam em ilícitos. E o lema do rei era: se precisar cortar cabeças, cortá-lo-ei. Nesse ritmo, acabaria cortando o próprio pescoço. Era o preço a pagar por uma vida inteira entre más companhias. Será possível que não haja uma viva alma relativamente honesta entre seus velhos aliados? Alguém que pudesse assumir uma pasta sem que esteja enredado nas teias de Justiça? E afinal de contas, nenhum dos seus escolhidos poderia ter tido a decência de lhe informar antes de aceitar o posto de seus enrolos nada republicanos? Pelo visto, constata Mesóclise, articular e confabular no parlamento parecia ser bem menos complexo que governar. E em poucas semanas de seu reinado já aprendera essa dura lição. Fatiar governo e leiloar carguinhos para atender interesses, e permanecer próximo de investigados por corrupção era uma boa forma de fracassar. Sua antecessora já provara isso.
Precisava mudar o rumo. Era imperioso que mostrasse a que veio. O povo exigia serviço. E moralidade. E o rei interino sabia que seu tempo era curto. O povo nas ruas não tardaria a acordar novamente exigindo a sua, por enquanto, coroada cabeça. E para atender as expectativas do povo de Gigante Adormecido precisava cercar-se de homens – e mulheres! Outra de suas dores de cabeça. – que representassem seriedade e honestidade. Quando foi que honestidade e seriedade passaram a ser valores tão em desuso no meio político? – questiona-se Mesóclise, reflexivo. Em meio tão degradado e degradante, precisaria de muita sorte nas próximas escolhas. E o tempo se esvaía. Ou acerto de vez o rumo, ou degolar-me-ei com as entranhas de meu próprio partido. Acertá-lo-ei! – promete o rei Mesóclise, com o queixo erguido, tentando manter a dignidade, vestindo apenas samba-canção e meias sociais.
Era uma nova fase de Gigante Adormecido, onde quase tudo parecia deprimentemente igual a antes.

 

 

 

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Havendo dificuldades na postagem dos comentários, o campo URL poderá ser deixado em branco.