Poliana se preparava,
eufórica, para a chegada de mais uma grande e inédita conquista de seu reinado.
O reino estava em polvorosa com esse grande feito de sua monarca. Ruas eram
asfaltadas e pintadas em tempo recorde. Flores coloriam as avenidas quase tanto
quanto os belos banners promocionais. Até o tapume de um histórico – e
permanentemente em reformas - prédio local, fora revestido de alegorias. Só o
velho castelo da rainha continuava a desabar impunemente. Não era possível, nem
mesmo à Poliana, maquiar a negligência com a velha e degradada estrutura.
Adesivar aquele aglomerado de rachaduras e rebocos despedaçantes sairia muito
caro. E Poliana era criteriosa com o dinheiro do contribuinte. Em tempos de
crise era imperativo priorizar. E as prioridades de sua alteza vinham ao
encontro dos anseios de seus súditos.
Nessas épocas pouco
alvissareiras, de grandes empresas locais fechando e desemprego alarmante
batendo a porta do povo e onde até o feijão virara comida de elite, era preciso
agir. E nossa monarca era conhecida por seus inflamados e esganiçantes
discursos em defesa de seu povo. Pelo povo doaria seu próprio sangue, caso o
banco de sangue local não estivesse há meio ano fechado, é claro. Mas não era
hora de perder tempo com miudezas. Sua alteza pensava grande. Era para alegrar
um pouco a vida dos súditos que sua corte se empenhava nesse importante
empreendimento: a tocha olímpica! Nunca antes na história do reino o fogo grego
passara por essas bandas. Poliana seria reconhecida para sempre por esse
notável feito. O povo aguardava ansioso, tinha certeza, por este momento. Já
vislumbrava a multidão a se acotovelar para ter o prazer de acompanhar a tocha
em seu trajeto. Para garantir uma forte presença já convocara todos os seu
bobos para correrem ao lado da tocha. Todos foram aconselhados a não exagerarem
nos exercícios, afinal, boa parte dos bobos da rainha mal e porcamente trabalhavam
e somente a cada quatro anos gastavam algumas calorias abanando bandeirinhas. E nossa magnânima não podia se dar ao luxo de
perder seus cabos eleitorais, vitimados por infarto, a poucos meses de Horário
Eleitoral.
Em seus planos, Poliana pensara
em desfilar em um carro alegórico puxando o cortejo, mas fora desaconselhada já
que tratava-se de um evento esportivo. Teria de se contentar em seguir a tocha
no solo, sem muita pompa, infelizmente, lastima a monarca. Precisava caprichar no
visual, para aparecer bem nas fotos. Imagem é tudo. Esse era quase um mantra de
seu reinado. Tudo aquilo que falta ou não funciona, o que foi prometido e
pedalado, é sempre acobertado por uma bela propaganda E muito, muito photoshop.
Seu povo era crédulo, e adorava uma boa mídia e um pouco de circo. E o circo de
Poliana já se armara com a bem-vinda tocha das olímpiadas.
Precisava preocupar-se, isso sim,
com a segurança do evento. Em outros locais desastres aconteceram como onças
atacando o povo. Por aqui o risco era outro e muito mais grave. Atentados
terroristas preocupavam a rainha. Seus serviços de monitoramento do facebook já
identificaram grupos extremistas prontos a um atentado. E a facilidade de
acesso dessa gente a armas letais era assustadora. Essa gente desalmada e
alienada pensava em atacar a tocha com baldes d'agua e cuspe. Mas a imbatível Poliana
defenderia o fogo olímpico com o próprio corpo. Seu povo carecia da tocha, mais
que de remédios, segurança, transfusões e leitos de UTI. E Poliana, a rainha do
supérfluo e das perfumarias, faria um evento memorável a seus súditos, e seria ovacionada,
como sempre. Assim é o todos esperamos. E aguardamos.
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