Em Gigante Adormecido um novo
reinado se iniciara. Outro capitulo. Uma nova história. Discursos e posturas
diferentes. Ideologias também. Alguns personagens pareciam repetidos. Algumas
condutas também. Saem ilustres membros enrolados com Justiça e entram outros
igualmente atolados em seu lugar. Ao que parece, instituíra-se cotas para
acusados de corrupção na alta corte real. Um gabinete de notáveis investigados
não era bem o que esperava a população que fora às ruas exigindo moralidade,
mas os representantes do povo não compreendem o dialeto de sua gente. Curiosidades
dessa excêntrica terra.
Pois agora é oficial: Gigante
Adormecido está em crise. Seus governantes confessam. Coisa há muito sentida
pelos milhões de desempregados. Por todos os acuados pela violência. Pelos
doentes que se amontoam aguardando os leitos hospitalares que desparecem a cada
dia. Pelos profissionais de saúde que improvisam máscaras de oxigênio para
recém-nascidos com descartáveis garrafas plásticas, já que descartáveis parecem
ser as vidas desses pequenos.
E enquanto o povo, atingido pela
crise, preocupa-se em sobreviver e aguarda com expectativa por um sinal de que
dias mais auspiciosos virão, a grande repercussão desse início de reinado era a
ausência feminina na nova corte. Um governo formado por homens brancos
certamente tirava o sono de mulheres negras muito mais que o desemprego, a insegurança
e o caos na saúde. É o que dizem as cabeças pensantes do alto de suas
mediocridades, mostrando que a cota de cretinos formadores de opinião estava
bem preenchida na terra da jabuticaba, onde até as crises são ideológicas.
E se a maioria da população -
composta de minorias - permanece indiferente à luta apaixonada pela
representatividade das tais minorias pelos intelectualóides de plantão,
uma minoria de artistas luta bravamente para não perder seu quinhão de recursos
públicos. A defesa da cultura é sempre uma bela bandeira a ser empunhada,
ninguém discute. A cultura popular não pode ser descartada, revoltam-se
renomados atores a suas seletas plateias. E a capacidade de mobilização da
elite cultural se mostrou impressionante. Digna de aplausos. Conseguiram garantir
seu espaço ocupando espaços públicos. O medo dos holofotes e de uma saraivada
de cuspes - conhecida arma ideológica da classe artística – devolveu a cultura
ao povo. Felizmente. As mulheres negras da periferia já podem dormir
tranquilas. Nossos bebês descartáveis também.
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