E no reino de Poliana, um não é
sempre visto como talvez. Pelo menos em se tratando da disputa pelo trono. Agora
era definitivo, Zangão, o tetra campeão, batera o martelo e dissera NÃO! Estava aposentado. Aposentadoria, aliás, já
exaustivamente anunciada há vários anos. Desde que entregara a coroa à Poliana.
Mas Oposição ainda sonhava em ver o velho Zangão calçando seus kichute, vestindo
seu abrigo Adidas azul marinho com listas na lateral, e se aquecendo para
entrar em campo e encarar o adversário. Certas coisas nunca mudam por essas
bandas. O velho, era sempre a grande esperança de Oposição. Senão a única. Pois,
o velho Zangão, optara por calçar pantufas, vestir um confortável chambre e
dedicar-se as palavras cruzadas. O campeonato em Horário Eleitoral não era mais
como fora em seus gloriosos tempos, alegara incontáveis vezes. E o populismo
palanqueiro não era, definitivamente, o seu perfil. Justa e merecida
aposentadoria, isso até mesmo seus desafetos concordavam.
E o não de Zangão obrigava
Oposição a sair irremediavelmente do bolorento armário onde hibernava há anos. Quem
há vários meses anunciava mais de uma dúzia de pré-candidatos à disputa, corria
o risco de não conseguir um único atleta que se dispusesse a jogar nesse time
de pernas de pau. Todos querem a coroa, mas poucos têm a coragem de encarar o
jogo, suar a camisa, dar a cara a tapa e talvez fracassar. O medo da derrota
engessava Oposição. Zangão tinha razão, as coisas não eram mais como dantes. Algo
faltava aos jogadores desse time. Coragem. Vontade. Hombridade. Faltava cerne. Uma
geração de mimados, incapazes de competir por temerem o fracasso. Como se o
fracasso não fizesse parte do jogo e da vida. Mas os mimadinhos de hoje queriam os prêmios sem o desgaste da disputa. Esperavam que a coroa caísse do
céu sobre suas iluminadas cabeças. Não sabiam, os pobres, que do céu só cai
chuva, raio e merda de pombo. Todo o resto se conquista
E enquanto Poliana já terceirizara
o reinado e os holofotes para a sua escolhida à sucessão ao trono, e Oposição
choramingava como criança ranhenta, Zangão tricotava. Dedicar-se as artes
manuais era o destino dos aposentados, o velho aprendera. Entre um resmungo e
outro – e resmungos eram a marca de Zangão, o sisudo – já confeccionara dezenas
de toucas. Nenhuma para a campanha do agasalho. Todas para Oposição, que
preferia dormir de touca. Fazer o quê? – pensa o aposentado. Quando os jovens
não têm vontade, aos velhos resta o tricô, o crochê e o bordado. E as
lembranças de outros tempos e posturas. De outros modelos e convicções. As
disputas são para os fortes. Aos fracos, dessa geração de mimados, resta apenas
a covardia – lamenta o velho, entre um ponto e outro de tricô.
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