No Dia Mundial dos Trabalhadores, nossa Rainha Mãe abdicou dos
tradicionais discursos em rede nacional para falar mais de perto com
os trabalhadores. Bem longe dos olhos e das panelas da elite do
reino, que obviamente não trabalha. Falaria só para eles, os
legítimos proletários. Reunidos com sua alteza, uma imparcial
categoria auxilia e prestigia a monarca em seu democrático tuitaço
de primeiro de maio. Na plateia, os operários da rainha e seu clã:
CUT (Companheiros Unidos no Trambique), MSTT (Movimento Só Tramoia e
Trago), SindiPelego e os Black Bostas. Todos juntos não conseguiam
somar 44 horas de trabalho em uma vida inteirinha. Mas esses eram os
modelos de trabalhadores da Rainha Mãe e seu clã. Não estavam
presentes, por triste circunstância e perseguição de Justiça, os
operadores da máquina criminosa de desvios em estatais, é claro.
- Ué! Só vocês? - estranha a Rainha Mãe ao adentrar na sala e dar
de cara com o pequeno grupo de companheiros. - Não vai vir ninguém
que trabalhe, para posar ao meu lado nas fotos?
- Nós não conseguimos convencer ninguém rainha.- lastima um
companheiro.
- Mas então, chamem uma serviçal do Palácio Real! Preciso de
trabalhadores autênticos para aparecer ao meu lado, não um bando
de mamadores das tetas públicas como vocês!
- Nós já tentamos os serviçais do palácio, alteza. Mas uma delas
está como o olho roxo depois que a senhora lhe acertou com um
cabide. Outra ainda não lhe
perdoou por ter jogado os ovos mexidos do café da manhã na cabeça
dela.- informa o assessor.
- São umas rancorosas, metidas a burguesas. Deviam agradecer a mim
por terem chegado a classe média ganhando um salário mínimo,
isso sim! - rosna a Rainha Mãe.
- E os outros preferem ver a senhora pelas costas, sabe-se lá por
que cargas d'água.
- Uns ingratos, é o que são! Não sabem valorizar todos os ganhos que
meu reinado propiciou a essa gente.
- Nós valorizamos, companheira! E muito! Nós sabemos agradecer todo
apoio que nos foi dado nesses anos todos! - discursa efusivamente o
líder do MSTT, com uma resplandecente medalha adornando o peito,
ao lado da desbotada estampa de Che Guevara na camiseta.
- Bonita medalha, companheiro! De que propriedade invadida você
afanou essa relíquia cívica?
- Essa medalha eu conquistei, rainha. Por meus próprios méritos e
glórias!
- Méritos, é? Entrou para o Guinness Book como o desocupado que a
mais tempo levanta a bandeira dos trabalhadores?
- Não, esse título é de seu antecessor, alteza, o Ilusionista. Eu
ganhei essa medalha pelo meu importante papel na luta contra as
famigeradas forças imperialistas que ameaçam nosso reino!
- A Coca-Cola?
- Não! Forças ainda mais malignas e mortíferas à agricultura
sustentável desse reino! A coca, planta, eu acho muito ecológica
e benéfica a nossa causa. Nossos parceiros das FARC concordam.
Pretendemos, um dia, ver todo Gigante Adormecido coberto dessa
planta tão latino-americana.
- Mas, que diabos de adversários você combateu para ganhar essa
medalha, homem?!
- Mudas de eucalipto!
- Mudas, é? - pergunta a rainha, torcendo o nariz com pouco caso. -
De que tamanho?
- Enormes! Quase vinte centímetros cada! E eram milhares!
- Impressionante... E elas resistiram?
- Não tiveram tempo para isso. Nosso exército chegou na calada da
noite, com os rostos cobertos, e aniquilamos as malditas antes que
se dessem conta do que estava ocorrendo. Sou ótimo estrategista!
- Nossa! Que enorme feito. Deve ter sido uma batalha sangrenta. -
comenta a rainha, um tanto irônica. - E esses mascarados aí?
Trabalham no quê? No teatro dos horrores?
- Nossa luta é a desconstrução do capitalismo e do acúmulo de
bens de consumo! - responde um dos Black Bostas.
- Traduza isso em dialeto civilizado, seu maconheiro fedorento. -
solicita a monarca, com sua tradicional objetividade e falta de
melindre.
- Nós destruímos patrimônio público e privado. Somos o novo braço
de seu clã, rainha, para momentos de cansativas manifestações
pacíficas do proletariado golpista.
- Estou impressionada! Realmente temos evoluído na área da
delinquência incentivada pela companheirada. E vocês do CUT? O
que fazem aqui no dia do trabalhador?
- Abdicamos de nosso dia de folga para prestigiar sua alteza. -
responde um companheiro com o peito estufado de orgulho e a barriga
dilatada de ócio pago com dinheiro dos trabalhadores.
- Folga, é? Pra vocês, meus queridos, todo dia é dia de folga.
Trabalhar, para os membros do CUT, significa subir em palanque e
abanar bandeirinhas em época de campanha. Como é que vocês, meus
assessores de marketing, acreditam que posso aparecer bem na foto
como rainha dos trabalhadores, cercada apenas de desocupados,
imprestáveis e baderneiros mascarados?! - irrita-se sua alteza.
- Não vai haver fotos, nem vídeos majestade! Essa é a nossa nova
fórmula. Serão só palavras vazias nas redes sociais. Estamos na
era virtual.
- Redes sociais, é? Sem plateia?
- Isso mesmo!
- Sem panelaço?
- Nada de panelas ou vaias.
- Nem aplausos?
- Trocamos os aplausos, que estão em desabastecimento crônico,
por curtidas.
- Mas se vocês, os únicos energúmenos capazes de me curtir, estão
aqui, seus imprestáveis! Quem está em frente aos computadores
para curtir a Rainha Mãe dos trabalhadores?!
- Os robôs, rainha.
- Robôs?
- Sim, eles são os únicos programados para aguentar o seu gênio
irascível, sua fala desprovida de sentido e seu discurso
inconsistente.
- Gostei desses robôs! Vocês podiam contratar alguns para trabalhar
no Palácio Real. As camareiras andam cada vez mais impertinentes!
Já me faltam cabides para colocar na linha essa categoria.
- Mas não faltarão cabides públicos para nossa companheirada, nem
para nossos aliados, os neodefensores do proletariado, não é
alteza?
- Cabides de emprego para acomodar parasitas são nossa
especialidade, companheiros. Nosso maior problema na atualidade, é
apaziguar os verdadeiros trabalhadores do reino quando a crise
chegar aos seus bolsos. Um levante do proletariado poderá tomar as
ruas. - preocupa-se a monarca, abatida.
- Não se preocupe rainha! Nós resolveremos isso quando chegar a
hora. Somos especialistas em manipular operários e nos infiltrar
em movimentos legítimos. Semear a desordem é nosso verdadeiro
ofício. Nosso lema socialista, adaptado de Guevara, é: Lutam
melhor os que defendem uma boquinha. - conclui um companheiro
do SindiPelego, especialista na articulação de badernas.
MARAVILHA DE TEXTO!!! AMEEIII
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