terça-feira, 26 de maio de 2015

A tesoura socialista no império das tetas públicas

Cortar. Cortar. Cortar. Por todo o imenso território de Gigante Adormecido só se ouvia essa palavra. Era preciso cortar gastos. A crise chegara ao reino. Crise internacional, alegavam os defensores da Rainha Mãe. Crise de competência administrativa, rebatiam os críticos de sua alteza. Era só uma marolinha, queria crer a monarca. Para sair dessa enrascada, a Rainha Mãe decidira economizar, deixando seus companheiros e aliados apreensivos.
- Meus bobos, é preciso que se tome medidas urgentes e se corte drasticamente os gastos públicos. - anuncia a rainha.
- Drasticamente, alteza? - apavora-se um dos Bobos da Corte.
- Sim. - responde a monarca, abatida. - Teremos de cortar na carne.
- Na carne?! Isso quer dizer que reduziremos as pastas e nossos adorados carguinhos?! - choraminga um companheiro.
- Claro que não, seu estúpido! - exaspera-se a Rainha Mãe. - Cortaremos a carne do povo, é lógico.
- Aff! Que susto, companheira! - suspiram os aliados, em bloco.
- Vai haver corte de verbas pro PAC, alteza? - questiona outro, ainda desconfiado.
- De jeito nenhum! O PAC é o que me mantém viva! Sem o Programa de Acomodação da Companheirada nosso projeto de Troca-troca de carguinhos por apoio iria pro brejo.
- E vamos cortar o quê?
- Cortaremos apenas o supérfluo. O que não fará falta. Nada de cortes em áreas essenciais.
- Então reduziremos a gastança na propaganda oficial?
- Não! Isso é essencial, seu molóide!Propaganda enganosa é a alma de nosso clã. Se tirarmos a propaganda não vai sobrar nada, só a triste realidade.
- Diminuiremos nossas mordomias?
- Não. Precisamos de um mínimo de conforto nesses momentos de crise. - reponde sua alteza, pedalando sua novíssima bicicleta ergométrica.
- Cortaremos os sigilosos empréstimos bilionários à ditaduras amigas?
- Pelo amor de Fidel Castro! É obvio que não! Se o estado de nossas finanças é ruim, o de nossos irmãos siameses é catastrófico. Não podemos abandonar os amigos em momentos de crise.
- Reduziremos o nosso percentual de propinas em obras públicas?
- Impossível! Sem as propininhas estatais nosso clã iria a pique.
- Onde serão os cortes afinal, rainha?
- Na saúde, educação, infraestrutura e benefícios trabalhistas. Coisinhas assim. - responde a Rainha Mãe, enquanto admirava sua nova silhueta no espelho.
- E o povo não vai chiar?
- O povão chia por qualquer coisinha. São eternamente insatisfeitos, vocês sabem.
- E as viúvas? Os desempregados? Como ficarão?
- Que vão trabalhar, ora bolas! Não se consegue nada sem suar a camisa. - argumenta a monarca, pedalando com ainda mais vigor.
- E sua popularidade, alteza, não vai ficar abalada?
- Pior do que está, vai ser difícil ficar. O momento é agora. A opinião do povo só tem valor a cada quatro anos. Até lá, podem chiar a vontade. E que tratem de suar a camisa. Não sejam vagabundos em um reino de miseráveis! - sentencia a Rainha Mãe, sob aplausos efusivos de seus companheiros socialistas.

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