- Meus bobos, é preciso que se tome medidas urgentes e se corte
drasticamente os gastos públicos. - anuncia a rainha.
- Drasticamente, alteza? - apavora-se um dos Bobos da Corte.
- Sim. - responde a monarca, abatida. - Teremos de cortar na carne.
- Na carne?! Isso quer dizer que reduziremos as pastas e nossos
adorados carguinhos?! - choraminga um companheiro.
- Claro que não, seu estúpido! - exaspera-se a Rainha Mãe. -
Cortaremos a carne do povo, é lógico.
- Aff! Que susto, companheira! - suspiram os aliados, em bloco.
- Vai haver corte de verbas pro PAC, alteza? - questiona outro, ainda
desconfiado.
- De jeito nenhum! O PAC é o que me mantém viva! Sem o Programa de
Acomodação da Companheirada nosso projeto de Troca-troca de
carguinhos por apoio iria pro brejo.
- E vamos cortar o quê?
- Cortaremos apenas o supérfluo. O que não fará falta. Nada de
cortes em áreas essenciais.
- Então reduziremos a gastança na propaganda oficial?
- Não! Isso é essencial, seu molóide!Propaganda enganosa é a alma
de nosso clã. Se tirarmos a propaganda não vai sobrar nada, só a
triste realidade.
- Diminuiremos nossas mordomias?
- Não. Precisamos de um mínimo de conforto nesses momentos de
crise. - reponde sua alteza, pedalando sua novíssima bicicleta
ergométrica.
- Cortaremos os sigilosos empréstimos bilionários à ditaduras
amigas?
- Pelo amor de Fidel Castro! É obvio que não! Se o estado de nossas
finanças é ruim, o de nossos irmãos siameses é catastrófico.
Não podemos abandonar os amigos em momentos de crise.
- Reduziremos o nosso percentual de propinas em obras públicas?
- Impossível! Sem as propininhas estatais nosso clã iria a pique.
- Onde serão os cortes afinal, rainha?
- Na saúde, educação, infraestrutura e benefícios trabalhistas.
Coisinhas assim. - responde a Rainha Mãe, enquanto admirava sua
nova silhueta no espelho.
- E o povo não vai chiar?
- O povão chia por qualquer coisinha. São eternamente
insatisfeitos, vocês sabem.
- E as viúvas? Os desempregados? Como ficarão?
- Que vão trabalhar, ora bolas! Não se consegue nada sem suar a
camisa. - argumenta a monarca, pedalando com ainda mais vigor.
- E sua popularidade, alteza, não vai ficar abalada?
- Pior do que está, vai ser difícil ficar. O momento é agora. A
opinião do povo só tem valor a cada quatro anos. Até lá, podem
chiar a vontade. E que tratem de suar a camisa. Não sejam
vagabundos em um reino de miseráveis! - sentencia a Rainha Mãe,
sob aplausos efusivos de seus companheiros socialistas.
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