Saúde. Ah, a saúde. Mote fácil e batido das disputas em Horário
Eleitoral. Como era simples prometer mundos e fundos para a saúde,
reflete Poliana. Difícil era construir mundos quando faltavam
fundos, constata a rainha. Se fora justamente a saúde que fizera com
que Poliana conquistasse a coroa, poderia ser a falta dela que lhe
faria tropeçar como rainha. O povo já andava cansado de suas
desculpas. Depois de tantos anos enrolando seus súditos com o pronto
atendimento de doentes, uma hora o humor dos crédulos iria se
agravar e o povo começaria a cobrar pelo serviço prometido. Os
bobos da corte sempre disseram a sua alteza que era só botar
Vontade Política – a varinha de condão de Poliana – para
funcionar, que tudo daria certo no final. E a monarca, como sempre,
acreditara. Nunca fora muito boa em matemática ou economia, e seus
bobos lhe garantiram que mesmo que os recursos vindos do poder
central fossem insuficientes, quando chegasse a hora, Vontade
Política e o alinhamento fisiológico colocariam o tão prometido
serviço de saúde em funcionamento. Pois eis que a hora chegara! E
não havia jeito de Vontade Política funcionar, desespera-se a
rainha. Poliana já estava com os braços dormentes de tanto abanar
a maldita varinha de condão, e nada de dinheiro cair do céu ou
brotar nos buracos do asfalto. Poliana abanava, sacudia, girava,
batia com Vontade Política nas cabeças de seus bobos, e o resultado
era sempre o mesmo: a desgraçada não funcionava! Por mais que
Poliana se esforçasse Vontade Política parecia não ser suficiente
para garantir a prometida saúde a seu povo. Era preciso dinheiro.
Muito dinheiro. E dinheiro não dá em cerca como chuchus ou jorra
dos cofres públicos como em Horário Eleitoral, descobre tardiamente
a rainha. E como desgraça nunca vem sozinha, até mesmo o
alinhamento interestelar dera de falhar. Seus companheiros não
pareciam nem um pouco dispostos a socorrer Poliana. Pior! Não
pretendiam cumprir com a palavra dada e os repasses de recursos que
haviam prometido. Alegavam, ora vejam, a falta de dinheiro. Ao que
parecia, Vontade Política também dava problemas pelas bandas de lá.
E pensar que em Horário Eleitoral dinheiro não era problema. Nem
saúde. Quem mandara acreditar nas fantasias coloridas de Horário
Eleitoral, censura-se a rainha, desanimada. Agora só restava à
Poliana enrolar o povão, sabe-se lá por quanto tempo mais. E rezar!
Rezar muito, para que tudo entrasse nos eixos e dinheiro começasse a
chover em seu reino, antes, muito antes da próxima turnê ao
fictício e paradisíaco mundo de Horário Eleitoral, onde saúde
voltaria a ser o mote perfeito para coroar seu sucessor.
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