Crise, crise, crise! Por todo lado em que andava, Poliana só ouvia
falar em crise. Nunca sentira tantas saudades de Horário Eleitoral.
Lá não havia crise. Tudo era resplandescente e promissor por
aquelas bandas. E Poliana, a crédula, acreditara. Agora, pega
desprevenida, a crise desabara sobre sua coroada cabeça como um
meteoro. Poliana, que até então desfilava soberana trazendo mundos
e fundos por conta de seu alinhamento interestelar, precisaria
caminhar com suas próprias pernas de hoje em diante. E haja pernas!
- reclama sua alteza, massageando os pezinhos cansados. Já estava
exausta de perambular pela sede do poder central, mendigando parcos
recursos públicos. Até seus companheiros lhe davam as costas, mais
preocupados com dinheiros indevidos do que com o dinheiro devido aos
contribuintes de seu reino.
E o seu povo, como sempre, só fazia reclamar! Queixavam-se da falta
de saúde. Das promessas requentadas e não cumpridas. Da falência
anunciada do nosocômio. Do estado lastimável do Castelo real. De
obras inacabadas ou mal acabadas. Dos malditos buracos no asfalto!
Que obsessão dessa gente com os tais buracos, meu Deus! - pensa a
injustiçada monarca. E dos impostos! O povo adorava reclamar dos
impostos prediais. Qualquer aumentinho básico de quase cem por
cento, já era motivo de choradeira dos seus súditos. Eta povinho
sem noção de economia. Não sabiam eles, os incautos, que em tempos
de crise econômica da realeza era preciso que o contribuinte
apertasse seus cintos para garantir as mordomias reais e dos
parasitas sustentados com dinheiro público? Poliana precisava ser
uma rainha criteriosa e coerente. Cortaria a carne dos súditos, para
não ter de cortar as cabeças vazias de seus bobos da corte e
pajens. O que seria de sua alteza sem seus bajuladores reais? Só
eles eram capazes de afagar o ego da rainha nesses momentos de crise.
O povo, ingrato, só sabia reclamar.
E como se não bastasse o mau humor dos pagadores de impostos,
Poliana também se queixava. Ela, logo ela, rainha tão apegada ao
dinheiro, precisaria meter a mão no bolso. Não no bolso dos
contribuintes, mas no seu próprio bolso! Um verdadeiro disparate.
Precisaria ressarcir aos cofres públicos uma considerável soma de
recursos gastos indevidamente. Uma gente despreparada avaliara seus
gastos, Poliana estava convicta. Ora, considerar indevidos gastos tão
importantes como publicidade e futebol! O que sobraria de seu reinado
se não fosse o marketing e o circo? - questiona-se a rainha, quase
em crise existencial. Sobraria doença, buracos e reclamações.
Maldita crise! - irrita-se sua alteza, calçando os sapatos e
apanhando o chapéu. Precisaria recorrer a companheirada para
levantar essa bolada. Afinal, seu estrelado clã devia ter uma
reserva técnica de petrocédulas para auxilio dos companheiros
enrascados nas prestações de contas. Para quitação de débitos
indevidos, dinheiro mal havido. Nada mais justo que o bolso a ser
assaltado seja sempre o mesmo bolso. O bolso sem fundo do povo
reclamão, conclui a monarca, sem crise de consciência.
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