domingo, 10 de maio de 2015

Poliana, a estrela em crise


Crise, crise, crise! Por todo lado em que andava, Poliana só ouvia falar em crise. Nunca sentira tantas saudades de Horário Eleitoral. Lá não havia crise. Tudo era resplandescente e promissor por aquelas bandas. E Poliana, a crédula, acreditara. Agora, pega desprevenida, a crise desabara sobre sua coroada cabeça como um meteoro. Poliana, que até então desfilava soberana trazendo mundos e fundos por conta de seu alinhamento interestelar, precisaria caminhar com suas próprias pernas de hoje em diante. E haja pernas! - reclama sua alteza, massageando os pezinhos cansados. Já estava exausta de perambular pela sede do poder central, mendigando parcos recursos públicos. Até seus companheiros lhe davam as costas, mais preocupados com dinheiros indevidos do que com o dinheiro devido aos contribuintes de seu reino.
E o seu povo, como sempre, só fazia reclamar! Queixavam-se da falta de saúde. Das promessas requentadas e não cumpridas. Da falência anunciada do nosocômio. Do estado lastimável do Castelo real. De obras inacabadas ou mal acabadas. Dos malditos buracos no asfalto! Que obsessão dessa gente com os tais buracos, meu Deus! - pensa a injustiçada monarca. E dos impostos! O povo adorava reclamar dos impostos prediais. Qualquer aumentinho básico de quase cem por cento, já era motivo de choradeira dos seus súditos. Eta povinho sem noção de economia. Não sabiam eles, os incautos, que em tempos de crise econômica da realeza era preciso que o contribuinte apertasse seus cintos para garantir as mordomias reais e dos parasitas sustentados com dinheiro público? Poliana precisava ser uma rainha criteriosa e coerente. Cortaria a carne dos súditos, para não ter de cortar as cabeças vazias de seus bobos da corte e pajens. O que seria de sua alteza sem seus bajuladores reais? Só eles eram capazes de afagar o ego da rainha nesses momentos de crise. O povo, ingrato, só sabia reclamar.
E como se não bastasse o mau humor dos pagadores de impostos, Poliana também se queixava. Ela, logo ela, rainha tão apegada ao dinheiro, precisaria meter a mão no bolso. Não no bolso dos contribuintes, mas no seu próprio bolso! Um verdadeiro disparate. Precisaria ressarcir aos cofres públicos uma considerável soma de recursos gastos indevidamente. Uma gente despreparada avaliara seus gastos, Poliana estava convicta. Ora, considerar indevidos gastos tão importantes como publicidade e futebol! O que sobraria de seu reinado se não fosse o marketing e o circo? - questiona-se a rainha, quase em crise existencial. Sobraria doença, buracos e reclamações. Maldita crise! - irrita-se sua alteza, calçando os sapatos e apanhando o chapéu. Precisaria recorrer a companheirada para levantar essa bolada. Afinal, seu estrelado clã devia ter uma reserva técnica de petrocédulas para auxilio dos companheiros enrascados nas prestações de contas. Para quitação de débitos indevidos, dinheiro mal havido. Nada mais justo que o bolso a ser assaltado seja sempre o mesmo bolso. O bolso sem fundo do povo reclamão, conclui a monarca, sem crise de consciência.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Havendo dificuldades na postagem dos comentários, o campo URL poderá ser deixado em branco.