Nosso
digno líder há muito decidira cruzar os pagos de helicóptero para
fugir dos pedágios e das péssimas condições de suas estradas. E
só pousava em locais cercados por sua militância. Aprendera nesses
anos que devia evitar, ao máximo, aglomerações populares de gente
sem vínculo com seu clã. As vaias e xingamentos do povo o
perseguiam, onde quer que estivesse, como praga de professora. Em seu
próximo reinado lançaria um projeto de controle ideológico nas
escolas. Essas professoras deviam estar fazendo alguma lavagem
cerebral em nossas pobres criancinhas, só podia ser essa a
explicação para a rejeição que o atingia nas ruas.
Rejeição
que começava a preocupar a corte de Poliana que se entreolhava
constrangida com a escassez de militantes e bandeirinhas no comício
do Herdeiro da Pampa Pobre. Meia duzia de gatos pingados, e mal
pingados, se espalhavam no local tentando fazer volume. Nem mesmo as
centenas de mamadores das tetas do reino de Poliana estavam presentes
no evento. E o povo, ah, o povo, esse passava bem longe para não ser
visto em más companhias. Lição que se aprende em casa e, nas
escolas. Malditas professoras! Que turminha mais rancorosa e
vingativa. Não eram capazes de perdoar pequenas mentirinhas, típicas
de Horário Eleitoral. E, ao que parece, o povo também não. Era
preciso reverter esse cinzento cenário rapidamente, ou o endeusado
alinhamento fisiológico ia pro atoleiro. Para isso, só restava a
velha e infalível fórmula: mais mentiras coloridas em Horário
Eleitoral. Precisavam colar em nosso líder a imagem de ter sido o
único com a coragem histórica de retirar nossas rodovias das mãos
capitalistas das empresas privadas, para afundá-las nas crateras da
incompetência e inércia pública. Era preciso convencer o povão
de que o pobre e sofredor Herdeiro recebera o reino no buraco e, com
muito dinamismo, trabalho e habilidade, conseguira colocá-lo em um
buraco melhor. Mais enfeitado, ao menos. Tomara que a fantasia e a
ilusão, consigam, novamente, seduzir seu crédulo e sonhador povo.
Pois, ao pobre Herdeiro, não restava mais nem um fio de bigode ou
ideologia a rifar.
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