domingo, 1 de maio de 2011

A Participação Popular no Reino de Poliana


Poliana já andava impaciente com essa tal democracia. Poucas coisas conseguiam ser tão cansativas e pouco produtivas quanto a famosa e largamente difundida participação popular – ou participação cidadã, como consta nos alfarrábios de seu clã. As coisas corriam a contento quando os participantes desses eventos coletivos eram sempre seus velhos e bem adestrados companheiros de clã. Eternos representantes de coisa alguma, fiéis aos mesmos discursos, jargões e palavras de ordem. Sempre prontos a colocar os interesses do clã acima de qualquer valor moral ou ético. No entanto, o caldo entornava quando gente normal, sem cabresto ideológico, resolvia aparecer nesses tais espaços democráticos. Aí as coisas mudavam de cor e de figura. Pois eis que era justo o que andara acontecendo no doce e pacato reino de Poliana. E isso estava gerando transtorno a nossa carismática rainha. Seus fieis aliados estavam preocupados e já lhe alertaram sobre a necessidade de acomodar melhor a situação.
- Eu já te disse mil vezes Poliana: participação popular é estratégia de marketing. Serve para aparecer em vinhetas, jingles, propagandas e cartazzes. Não é pra ser levada ao pé da letra, aconselha seu assessor de propaganda e publicidade ostensiva.
- É isso mesmo Poliana, reforça o representante da CUT (Companheiros Unidos no Trambique). Já pensou se cada assunto de grande interesse coletivo for discutido com a população! Isso vai virar uma balburdia. Vai ser o povo no poder! Não vai dar certo nunca!
- Olha só esse negócio de audiência pública. Qualquer um pede a palavra e vai se manifestando, dando idéia, questionando como se isso aqui fosse uma democraciazinha qualquer! Onde é que isso vai parar! -profetiza um dos caciques de seu clã.
- E os trabalhador tudo lá, dando opinião ao invés de estar nas fábrica trabalhando! Desse jeito é que o país não vai pra frente mesmo! Se eles começarem a se achar no direito de falar com suas próprias vozes vão precisar da gente pra que? Nós temos família pra sustentar! Tu como companheira tem que acabar com essa trairagem, Poliana - exclama, exaltado o representante do SINDIPelego.
- Será que vocês não enxergam a gravidade que essa coisa toda pode assumir?! – ergue a voz, bastante alterado, o representante do MSTT (Movimento Só Tramóia e Trago). E se o povo que trabalha começar a usar de fato a tal cidadania? E se começarem a participar e a questionar? Se começarem a pensar e perceber que são realmente explorados, que trabalham e sustentam com seu suor nossas mordomias, os mensalões, dinheiros nas meias, cuecas, propinas, furões e pardais?E se resolverem se revoltar?! Já pensaram nisso? Vai ser o caos social. Vai ser a elite tomando o poder! É o fim do nosso ideal de sociedade justa e igualitária para nós.
- E depois tem outra, essa gente não tem o menor traquejo. Não sabem se portar nesse tipo de evento. Não usam as palavras corretas, chamam os companheiros de senhor e senhora, pedem licença para falar ao invés de pedir questão de ordem, usam uns termos completamente fora das cartilhas de nosso clã. São completamente alienados, despreparados, não fazem parte da fina flor dos movimentos sociais. Não deviam nunca ter direito a voz em um espaço desses – indigna-se um ilustre representante das minorias excluídas.
- Eu continuo achando que devemos manter a participação popular restrita aos festivais anuais de Pirotecnia e Ilusionismo da OP (Orquetra Partidária), se manifesta santo Jorge, padroeiro das causas inconsistentes. Não é pra me gabar, mas meus números de contorcionismo tem sido muito elogiados, e com o auxilio da boa e velha mídia temos conseguidos convencer até a nós mesmos que as decisões tomadas por meia dúzia de fantoches representam a vontade de toda a população.
- Eu concordo com Santo Jorge, vamos nos limitar ao teatro da Orquestra Partidária e largar de mão essa palhaçada de assembléias e audiências públicas. Só se forem para público fechado e escolhido a dedo, como sempre fora. Nada de qualquer um vir entrando e se manifestando.
Após dezenas de apartes e questões de ordem ficou decidido por unanimidade dos presentes que desse dia em diante a participação popular no democrático reino de Poliana ficaria plenamente garantida em todos os banners, folders, jingles, cartazzes e outdoors que os fartos recursos públicos conseguissem fomentar.
“Quanta saudade eu sinto de Horário Eleitoral! Participação Popular era tão romântica e milagrosa. Aqui em Mundo Real só me deu dor de cabeça!”, pensa a democrática Poliana.

2 comentários:

  1. Vc viu na televisão, (25Jul) casa cheia....
    Vc no local, grande movimentação, embretando nos onibus URBANO transportando as ovelhas nos currais eleitoreiros das vilas e bairros, uma vergonha está exploração populista. Os CCs e cabideiros, reclamando do engate da última hora, tinha até estudantes, sentados bem na frente resmungando que foram convidados/motivados/pressionados a estarem no comício da frente popuylar erechinense. Uma vergonha estes professores pelegos agirem desta maneira (e se acham os democratas). Falnado em transporte das ovelhas do cural eletoral pela URBANO, estou curioso quanto a lecitação para o transporte público em Erechim, já que está irregular e ilegal (será que este transporte é um favorzinho jeitoso). É bom a empresa publicar o recibo deste serviço prestado, senão vai ficar feio depois da licitação.

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  2. É minha gente...a chapa tá esquentando....

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