sábado, 14 de maio de 2011

Poliana, NBA em Gestão de Mentiras e Administração de Escândalos


Quieta e compenetrada Poliana ouvia atentamente a explanação do professor. Tendo em vista todas as escandalosas trapalhadas dos últimos tempos, o alto escalão de seu clã convocara as principais estrelas do reino para uma aula básica de estratégia de marketing. O curso estava sendo ministrado pelo respeitadíssimo assessor de imprensa, impressionismo, publicidade e ilusão de ótica de Poliana: Líquen, o amorfo. O tema principal era: como colocar, definitivamente, uma boa pá de brita sobre a sujeira.
Poliana se emocionava ao ver a plenária lotada. Todos os ilustres membros de seu clã reunidos para lhe dar apoio nesses tempos difíceis. Até Basco, o raivoso comparecera. De cara amarrada, como sempre, mas estava lá para lhe confortar. Poliana sempre soubera que frente a possibilidade de que a bela e robusta vaca morresse atolada na lama, ou soterrada por pedras, a companheirada se ergueria para salvar suas (as deles) turgidas tetas.
- A primeira e mais importante lição diz respeito ao momento crucial em que os companheiros forem confrontados com um fato comprometedor para o clã. Nesses casos, sempre devemos em primeiro lugar afirmar “não ter conhecimento do assunto”- escreve na lousa em letras garrafais enquanto fala. - Quando for absolutamente impossível negar o fato tentem, de todas as formas possíveis, fugir do assunto. Simulem um mal súbito se for preciso!
- Eu nunca sei de nada! – exclama Poliana.
- Muito bem Poliana, nossa rainha é muito boa nesse quesito. Parabéns!
Com o peito estufado de orgulho Poliana completa: E eu sempre me cago toda também!
Líquen, embaraçado, leva algum tempo para retomar a fala, acompanhado por um burburinho de risos e suspiros da até então concentrada audiência.
- Eu gostaria de chamar a atenção dos companheiros para questões básicas na hora de explicar o inexplicável. Existem algumas regras claras que devem ser seguidas. Um ótimo exemplo de boa conduta a ser seguida por vocês é a brilhante performance de nosso ilustre representante no parlamento, o companheiro Farofinha. Sempre, como ele, comecem uma desculpa esfarrapada falando de seu passado como homem honesto, defensor da honra, trabalhador exemplar, incansável... - Líquen interrompe seu discurso para dar a palavra a Poliana que erguia a mão.
- O companheiro Farofinha trabalhava no quê? Eu sempre achei que ele não sabia fazer nada! Sempre vi ele só com o pessoal do nosso clã, fazendo fuzarca, vadiando, abanando bandeiras e...
- Isso não está em pauta Poliana, interrompe rapidamente Líquen e prossegue sua aula. - Em seguida devemos sempre jogar a culpa em Oposição. Bater incansavelmente na tecla de que Oposição está nos perseguindo, nos criticando, tentando nos prejudicar...
- Mas o papel de Oposição não é justamente opor-se a nós? - questiona Poliana.
Líquen faz que não escuta, enquanto alguns dos presentes se remexem nas cadeiras.
- Precisamos repetir insistentemente que Oposição aumenta os fatos, cria factóides, faz estardalhaço para desestabilizar esse reinado democrático e grandioso, que tanto bem quer a seu povo.
- Quer dizer que a gente vai dizer que eles estão fazendo com a gente aquilo que a gente fazia com eles antigamente? - intervém novamente a questionadora Poliana.
- É mais ou menos isso Poliana, responde Líquen, já um pouco impaciente.
- Mas não é a mesma coisa né, gente? - insiste Poliana no tema. Vamos ser honestos. Oposição é muito amadora! Não fazem uma passeatinha! Não fecham rua, não tem bandeira, nem grito de guerra! São completamente desorganizados! Ficam só mandando emails com umas piadinhas sem graça, que eu particularmente nem entendo. O pessoal da CUT (Companheiros Unidos no Trambique) ou do SINDIPelego podiam dá umas aulinhas pra eles.
- Já chega Poliana, vamos voltar ao que interessa. - Líquen retoma o controle percebendo o murmúrio crescente de descontentamento dos presentes.
- Quando um companheiro nosso for flagrado em algum possível, mas jamais admitido, desvio ético é importante que...
- O que é desvio ético? – questiona a ingênua rainha, provocando bufadas sonoras de Basco, o raivoso e alguns palavrões do pessoal da CUT.
- É quando um de nossos companheiros pega para si algo do reino. - esclarece o mestre, um tanto constrangido.
- Roubar! – grita Poliana eufórica.
- Não! Claro que não, Poliana! Roubo é roubo, desvio ético é outra coisa.
- Mas quando Oposição fazia essas coisas, a gente chamava de roubo, eu me lembro muito bem! Nós saímos pras ruas com faixas e cartazes, gritando fora...
- Pelo amor de Deus! Alguém faz ela calar a boca! – interrompe rudemente a turminha do Movimento dos Sem Vontade. - Toma uma providência professor! Isso é uma imoralidade!
Líquen, cada vez mais desconfortável, tenta recobrar o controle da turma.
- Eu vou tentar explicar de forma mais didática para nossa magnânima rainha. Essas “coisinhas” Poliana, são públicas, entende? São de todos. De todo o povo. Ninguém vai se importar se nós pegarmos um pouquinho pra nós. Depois a gente divide entre todos os companheiros. É para um bem maior.
Após refletir por um tempo, Poliana ergue-se efusiva e grita: Entendi! Entendi!! E com o semblante cândido de criança que acabou de tomar água da privada, expõe orgulhosa a sua brilhante interpretação dos fatos expostos - Então quando somos nós que roubamos do povo é socialismo!
- Cala a boca Poliana!!! – gritam vários companheiros, indignados.
- Chega Poliana! Volta pra tua bolha! – se revolta uma velha matriarca do clã, se abanando com as saias.
- Eu disse que isso não ia dar certo! - resmunga Basco, roxo de ira.
A comoção no salão foi geral. Várias estrelas saíram como foguetes do recinto. A balburdia tomou conta do espaço.
- Já chega dessa ladainha! Vamos mudar de assunto! - se exaltam vários membros da distinta plenária. Basco, cada vez mais raivoso bufa e bate os cascos no chão, acompanhado por um atarracado membro do SINDIPelego, que andava de um lado a outro da sala.
Poliana, contrariada faz beicinho e se afunda na cadeira. “Que gente mais confusa. Cada vez mudam o discurso”, pensa contendo as lágrimas.
Depois de muita água com açúcar, a alguns malabarismos de Santo Jorge, o cada vez mais nervoso e sudorético professor dá continuidade a tumultuada palestra.
- Para finalizar, cabe lembrar algumas regrinhas básicas para a eterna permanência no poder. Quando formos cometer algum desvio ético, é importante que de agora em diante procuremos “pegar emprestado” apenas aquilo que couber em nossas cuecas, bolsos ou meias. Vamos tentar evitar objetos muito grandes que possam levar a publicidade desnecessária e acordar Oposição ou cair na boca sarcástica de Imprensa Livre. DISCRIÇÃO - escreve novamente na lousa - é o condimento que está faltando no nosso farto banquete. Todos compreenderam?
A constelação presente aplaude efusivamente a brilhante conclusão. Todos ignoram, propositadamente, a mão erguida da polêmica rainha, pedindo novamente a palavra. Com medo das conhecidas crises de pirraça de sua alteza quando ignorada, Líquen resolve, mesmo receoso, lhe dar novamente a palavra.- Nossa digníssima rainha gostaria de fazer uso da palavra.
- Hahahaaa não!!! – responde, em uníssono a democrática plenária.
Após algumas fungadas, e com a voz um pouco embargada, Poliana empina o queixo e fala de chofre: Sobre aquelas escavadeiras e aqueles buracos enormes que mandamos fazer na praça em frente ao castelo. Aquilo é pra nós escondermos tudo o que nós até agora já “pegamos emprestado” nos pequenos “desvios éticos” que “couberam nos nossos bolsos” socialistas? Porque se forem pra isso, eu já vou logo avisando que não vai dar nem pra saída! Pelos meus cálculos se for pra colocar tudo em um buraco nós vamos ter cavar até o pré-sal!!!
CALA A BOCA POLIANA!!! – grita Líquen, enquanto alguém segurava Basco que tentava alcançar o delicado pescoço real.
E assim terminou a primeira reunião ordinária para pós-graduação de ordinários. Sucesso absoluto de público e renda.

2 comentários:

  1. A RAPOZA TANTO VAI NO MOINHO, QUE UM DIA PERDE O FOCINHO. bando de larápios.

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