E, em Gigante Adormecido, estava
instalado o pânico. As filas nos luxuosos banheiros parlamentares quase se
igualavam as das emergências superlotadas do sistema público de saúde. O trânsito
intestinal dos congressistas trabalhava tão rápido como rápidas sempre foram as
boas intenções dessa gente ao se locupletarem com a coisa pública. O mau cheiro
impregnava o ambiente, mas ninguém notava, acostumados que estavam com o
próprio odor.
Pois não é que o homem fora
realmente preso. Não aquele, o chefe maior, este ainda roía as unhas em expectativa,
e dormia de sapatos sem cadarço. Quem baixara o cadeião fora outro, desta vez.
O antigo todo poderoso do parlamento. Algoz implacável da decapitada Rainha Mãe.
O queridinho dos coxinhas. Inimigo número um da companheirada. Os companheiros
o detestavam, com absoluta certeza. Não pela sua questionadíssima moral, ou por
seu fisiologismo torpe. Afinal, essas qualidades foram úteis ao grande clã
estrelado por mais de uma década, e apenas convenientemente esquecidas nos
últimos tempos. Ter rancorosamente mordido a corda e se voltado contra a, até
então, ofuscante estrela vermelha, era o maior pecado do sujeito.
E a esquerdalha sequer podia
comemorar com o merecido entusiasmo que o momento exigia. O homem caiu, e sua
queda prometia derrubar todo Parlamento. A companheirada, a exemplo de seu
messias, o Ilusionista, temia muito mais essa ruína do que a da perseguida
Rainha Mãe. Este, para infelicidade de muitos, sabia falar. E se decidir abrir
a boca, faltarão celas no gigantesco reino da corrupção e das jabuticabas. Melhor
mandar cercar o Parlamento, transformando-o em presídio de segurança máxima.
E Justiça?! Ah, Justiça, criatura
cruel e desumana! Aniquilara, de um só golpe, todo o discurso vitimista tão bem
elaborado pela companheirada. Justiça, que impiedosamente perseguia o virtuoso
e bem intencionado clã estrelado, resolvera colocar a corda no pescoço
justamente do carrasco mor dos
companheiros. Assim, não havia mimimi que se sustentasse. Maldita Justiça! –
continuam bradando os seguidores da estrela, cada vez mais apalermados,
mergulhados em contradições, como de hábito.
E assim, segue a vida no
pitoresco reino de Gigante Adormecido. Lugar onde a bandeira da moralidade e da
coerência é golpismo. E onde o roubo e a corrupção não têm cheiro, têm cor, e a
sem-vergonhice escarlate é mais doce e digna que qualquer outra. Quem não
concordar é golpista.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Havendo dificuldades na postagem dos comentários, o campo URL poderá ser deixado em branco.