E no entardecer do reinado de
Poliana e sua trupe, tudo seguia como sempre fora. A preocupação maior de nossa
monarca continuava a ser propaganda e marketing. Mesmo a apenas poucas semanas
de deixar o trono e entregar a coroa, Poliana tentava emplacar mais alguns
milhões de recursos públicos para propagandear os seus feitos. Tudo
repetitivamente cansativo e fora de prumo. Poliana, a rainha popstar, não
conseguira aprender durante todo o seu espetaculoso reinado que seus súditos
demonstravam claro e progressivo desinteresse pela pirotecnia de seus
comerciais. Houvesse sua alteza investido mais em obras concretas e menos em
banners e mídia ilusória talvez tivesse ela e seu povo mais motivos para
comemorar.
E se era verdade que a maior
praga que nossa rainha rogara sobre o reino por tantos anos, os famigerados buracos
no asfalto, haviam rapidamente minguado nos últimos meses, também eram verdadeiras
piadas os métodos adotados nas operações tapa-buracos. A mistura farelenta
usada para preencher as crateras lembrava muito esterco de vaca. Mas o carro-chefe
era a compactação do material, com os serviçais do palácio ziguezagueando pelas
ruas na tentativa de acertar os pneus nos buracos recém cobertos. Hilariante. Os
operários designados para essa inglória tarefa deveriam receber adicional por
exposição pública ao ridículo. Mais uma invencionice da criativa corte real de
Poliana.
Para não fugir da mesmice, as
audiências públicas de sua alteza, feitas para trazer ao conhecimento público
assuntos de relevância para o reino, como sempre eram cercadas de profundo mistério.
Só não aconteciam na calada da noite, pois a noite era possível que o quórum fosse
maior. E nesses democráticos eventos, sempre tão representativos, bastava um só
questionamento para encerrar a reunião. Melhor adiar a audiência para outra
data e horário, e certificar-se de que ninguém com um pouco de cérebro compareça.
Participação popular em reinados socialistas só funcionam quando a plateia é
adestrada. Assim nos ensinou Poliana.
Uma lástima que nossa rainha e sua
vastíssima corte demonstrem tão pouco apreço pelo claro e o concreto. O gosto
pelo duvidoso sempre sombreara seu reinado. Questão de paladar, provavelmente.
Pois, nem mesmo o velho projeto de um novo distrito para as indústrias locais, insistentemente
alardeado pelo time de Poliana na última disputa em Horário Eleitoral,
conseguirá sair limpo do papel. Na ânsia de entregar a área, mais prometida que
terra santa, antes do término de seu reinado, sua alteza abrira mão de tudo.
Até da vergonha. Pretendia oferecer aos empresários o imenso terreno. E apenas
isso. Nada de água, eletricidade ou esgoto. Afinal, quem precisa dessas perfumarias?
O que realmente importa é a belíssima propaganda que isso tudo vai gerar. O
photoshop conserta tudo, e propaganda não tem cheiro. E Poliana não tem olfato.
O odor ocre das questionáveis e putrefatas decisões tomadas por nossa monarca
ao longo de seu reinado devem ter lhe arruinado o aparelho olfativo. Questão de
sobrevivência, sem dúvida. Seria uma temeridade ter de conviver por toda a vida
com o próprio cheiro.
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