domingo, 6 de novembro de 2016

Poliana, igual do começo ao fim

E no entardecer do reinado de Poliana e sua trupe, tudo seguia como sempre fora. A preocupação maior de nossa monarca continuava a ser propaganda e marketing. Mesmo a apenas poucas semanas de deixar o trono e entregar a coroa, Poliana tentava emplacar mais alguns milhões de recursos públicos para propagandear os seus feitos. Tudo repetitivamente cansativo e fora de prumo. Poliana, a rainha popstar, não conseguira aprender durante todo o seu espetaculoso reinado que seus súditos demonstravam claro e progressivo desinteresse pela pirotecnia de seus comerciais. Houvesse sua alteza investido mais em obras concretas e menos em banners e mídia ilusória talvez tivesse ela e seu povo mais motivos para comemorar.

E se era verdade que a maior praga que nossa rainha rogara sobre o reino por tantos anos, os famigerados buracos no asfalto, haviam rapidamente minguado nos últimos meses, também eram verdadeiras piadas os métodos adotados nas operações tapa-buracos. A mistura farelenta usada para preencher as crateras lembrava muito esterco de vaca. Mas o carro-chefe era a compactação do material, com os serviçais do palácio ziguezagueando pelas ruas na tentativa de acertar os pneus nos buracos recém cobertos. Hilariante. Os operários designados para essa inglória tarefa deveriam receber adicional por exposição pública ao ridículo. Mais uma invencionice da criativa corte real de Poliana.

Para não fugir da mesmice, as audiências públicas de sua alteza, feitas para trazer ao conhecimento público assuntos de relevância para o reino, como sempre eram cercadas de profundo mistério. Só não aconteciam na calada da noite, pois a noite era possível que o quórum fosse maior. E nesses democráticos eventos, sempre tão representativos, bastava um só questionamento para encerrar a reunião. Melhor adiar a audiência para outra data e horário, e certificar-se de que ninguém com um pouco de cérebro compareça. Participação popular em reinados socialistas só funcionam quando a plateia é adestrada. Assim nos ensinou Poliana.

Uma lástima que nossa rainha e sua vastíssima corte demonstrem tão pouco apreço pelo claro e o concreto. O gosto pelo duvidoso sempre sombreara seu reinado. Questão de paladar, provavelmente. Pois, nem mesmo o velho projeto de um novo distrito para as indústrias locais, insistentemente alardeado pelo time de Poliana na última disputa em Horário Eleitoral, conseguirá sair limpo do papel. Na ânsia de entregar a área, mais prometida que terra santa, antes do término de seu reinado, sua alteza abrira mão de tudo. Até da vergonha. Pretendia oferecer aos empresários o imenso terreno. E apenas isso. Nada de água, eletricidade ou esgoto. Afinal, quem precisa dessas perfumarias? O que realmente importa é a belíssima propaganda que isso tudo vai gerar. O photoshop conserta tudo, e propaganda não tem cheiro. E Poliana não tem olfato. O odor ocre das questionáveis e putrefatas decisões tomadas por nossa monarca ao longo de seu reinado devem ter lhe arruinado o aparelho olfativo. Questão de sobrevivência, sem dúvida. Seria uma temeridade ter de conviver por toda a vida com o próprio cheiro.

 

 

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