sábado, 16 de julho de 2016

As boas e matemáticas escolhas de Poliana

          Poliana sentia-se exilada. Quase tanto quanto sentira-se no curto período em que, por perseguição de Justiça, fora injustamente afastada do trono. Felizmente, Justiça, aquela velha caquética, esquecera de Poliana e sua turma nos últimos tempos. Méritos da monarca e sua corte, que aprenderam com os diversos puxões de orelha e já não se atiravam feito porcos em lavagem em qualquer migalha de dinheiro público. Passaram a ser discretos, ao menos. Afinal, nem todos os feitos de sua alteza precisam chegar aos ouvidos de Imprensa Livre.
          Desta vez o isolamento de Poliana era de próprio arbítrio. A nova missão da rainha seria garantir a sucessão do trono para os seus. Tarefa que parecia fácil, agora. A maior preocupação de Poliana era que a companheirada não aceitasse o papel de estrelas de segunda grandeza. Temor que, por obra de seus companheiros, não se justificava mais. Atolado em escândalos de corrupção por toda vastidão de Gigante Adormecido, o clã estrelado contentava-se com qualquer naquinho de poder que ainda conseguisse manter. Para contentamento de Poliana, que inquietara-se com a possibilidade de ter de bancar, novamente, Golesminha para o trono. O passado de Golesminha como o conhecido radical da seita vermelha, Golesma Bonder, seria uma pedra no sapato da monarca em época de nacionalismo e moralismo exacerbados. Entupir fechaduras de empresas com supercola não era visto com bons olhos em tempos de crise e desemprego. Para sorte de Poliana a retórica cansativa de golpe não vingara por essas bandas, e a companheirada aceitara servil e interesseiramente apoiar uma representante da Irmandade do Fogo na disputa em Horário Eleitoral.
          A exemplo do messias do grande clã estrelado, o Ilusionista, duas vezes rei de Gigante Adormecido e que conseguira a façanha de emplacar um poste como sucessora, Poliana também fizera uma difícil escolha. Entre o maior ângulo entre duas retas concorrentes, optara, como seus conhecimentos de matemática exigiam, por ela: Obtusa - a virginal. Uma doce, meiga e carismática escolha, apesar de um tantinho limitada de raciocínio – reflete Poliana, com um meio sorriso de satisfação. A vaidade de Poliana não permitia que apoiasse alguém que pudesse lhe fazer sombra algum dia. Desta forma, Obtusa era a escolha perfeita. E com a ajuda inesperada de Oposição, que prometia dormir até o final da disputa, Poliana pretendia fazer facilmente sua sucessora. Mais fácil que isso, só roubar doces de crianças, ou arrecadar propinas de grandes empreiteiras, assim aprendera com seus companheiros. E para promover sua escolhida, Poliana optara por ocupar o plano de fundo. Todos os holofotes - e photoshop - estavam há meses focados em sua, de Poliana, criatura. Por enquanto, a estratégia estava dando certo. A virginal Obtusa posava muito bem para as fotos. Não tanto quanto a dinâmica e adorada Poliana, é claro! – retrucava a, ainda rainha, empinando o orgulhoso nariz com despeito. “Com photoshop até porongo tem conteúdo. Quero ver minha escolhida argumentando e debatendo em Horário Eleitoral!” – irrita-se a, já um tantinho rancorosa e enciumada, monarca. Tomara que a fala mansa e os discursos populistas e fantasiosos; abraçar velhinhos e beijar crianças mijadas continuem sendo a moeda preferida pelo povo. Pelo visto, ainda eram. Sorte de Poliana e de suas acertadas escolhas. Sorte ainda maior a de Oposição, que teria sempre as melhores justificativas para eternamente hibernar. A sorte cai sobre esse reino mais do que chuva e granizo. Só alguns poucos não conseguem enxergar tamanha ventura. Azar o deles, retruca Poliana - a rainha das boas e convenientes escolhas.

 

 

 

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