segunda-feira, 12 de outubro de 2015

Cabeça-de-vento


 E Gigante Adormecido parecia cada dia mais um circo de dimensões continentais. No comando do espetáculo nossa Rainha Mãe esmerava-se em escorregar na casca de banana. Seu exército de patetas, convocados para tentar livrar sua alteza dos enroscos nas contas públicas, faziam o que estão acostumados a fazer, bobagens. E a monarca colecionava mais uma amarga derrota. Mais um fiasco de sua desarticulada equipe. Se derrotas e fiascos gerassem energia, nosso reino seria autosuficiente e polo exportador.
Mas, ainda pior que as trapalhadas de sua corte de vassalos, eram as aberrações filosóficas e científicas da rainha. Cada entrevista ou discurso fazia a festa das redes sociais. Uma fábrica de piadas. Cabeça-de-vento, diriam os mais antigos. Talvez fosse daí que a Rainha Mãe tirara a teoria do armazenamento de vento que tão professoralmente apresentara no exterior, para arrepio de seus súditos. Decerto, interpretara erroneamente a expressão vento encanado. Acreditava já ser possível movimentar o vento por tubulações. Um pouco ultrapassado, é verdade, entendia a rainha. Esperava que logo pudesse ser transferido por cabos de fibra ótica. Nossa monarca não sabia bem o que eram tais cabos, mas adorava mencioná-los em seus discursos, com ares de PHD no assunto. O mais difícil, concluía a magnânima, seria escolher qual dos quatro ventos armazenar. Talvez o mais leve deles. Ou, quem sabe, o de melhor sabor, para que pudesse também ser utilizado na culinária. Filé ao sabor do vento seria uma iguaria bastante requintada. Cabia aos cientistas essa decisão, não iria opinar. Pensara em plantar vento, mas mudara rapidamente de ideia pois, quem semeia vento colhe tempestade, isso até os idiotas sabem e nossa rainha doutora podia ser tudo, mas não era estúpida. Melhor capturá-lo já grandinho, pegando-o pelo pé. O local de captura já estava escolhido: onde o vento faz a curva, pois para fazer a curva ele precisava reduzir a velocidade ficando mais fácil segurá-lo. Evitava-se, assim, ser surpreendido por um golpe de vento. A fúria do vento era bastante comentada e temida, até pelos doutores. Devia ser por covardia que não haviam, ainda, tentado envasilhar furacões e tornados. Pelo formato, eles pareciam mais fáceis de engarrafar, achava a monarca. Essa, era outra questão que atormentava a Rainha Mãe: a forma de armazenamento. Containers ocupavam muito espaço. Barris pareciam um pouco arcaicos. Garrafas e latinhas facilitavam o transporte. Embalagens a vácuo iriam requerer tecnologia mais avançada. Eram muitas e complexas as dúvidas de nossa rainha.
Enquanto seu reinado parecia naufragar, suas teorias iam de vento em popa. Os pensamentos vagavam como brisa nos desconexos neurônios reais. Nem um sopro de senso crítico arejava suas ideias. Para vergonha de seus súditos e assombro da comunidade científica internacional. Ao povo de Gigante Adormecido, restava acrescentar mais uma piada ao estoque de asneiras de sua líder maior.

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