Em Gigante Adormecido, a Rainha Mãe encontrava-se esgotada. Tivera
de suar a camisa nos últimos dias. Não em suas pedaladas matinais
para manter a silhueta enxuta. Nem mesmo em suas engenhosas pedaladas
nas contas públicas, que prometiam lhe render mais do que dor de
cabeça. Nossa monarca, apesar da bem sucedida dieta que lhe livrara
dos desagradáveis quilinhos extras, precisava com urgência ganhar
algumas gordurinhas políticas para conseguir manter por mais algum
tempo seu moribundo reinado. E nesse jogo político, todos sabem, as
transações não são regidas pelo mercado financeiro. As moedas
oficiais eram apoio político e carguinhos, o legítimo e velho
conhecido escambo do poder.
E se já fora difícil acomodar tantos egos e interesses nos tempos
de popularidade em alta, agora, com o descontentamento correndo
solto, o troca-troca tornara-se um verdadeiro suplício. Era um tal
de tira um bobo daqui, joga pra acolá. Pega de lá, devolve pra cá.
Troca nada por coisa alguma. Avisa o Bobo da Educação, que mal
desfizera as malas, que vá procurar sua turma, pois na Pátria
Educadora, compra-se apoio por atacado e vende-se coerência a
varejo. Extingue um cargão, cria mais três carguinhos e uma dúzia
de penduricalhos. E era reunião que não acabava mais! Reunião para
afagar. Reunião para confabular. Reunião para convidar. Reunião
para desconvidar. Reunião para admitir. Reunião para demitir. E na
falta de agenda para mais uma reunião, telefona e manda sair.
Ufa! A Rainha Mãe afinara ainda mais a cintura de tanto rebolar.
Chegara a perder o apetite pelo excesso de sapos engolidos. E o sapo
mais indigesto era o velho sapo barbudo, que, ao que parece, voltara
a dar as cartas nesse jogo. Fazer o que, suspira a Rainha Mãe,
abatida. Para não perder a cabeça na guilhotina política, melhor
perder as rédeas do reinado para seu criador. Nossa rainha prometia
desempenhar nos próximos anos o ilustre papel de boneco de
ventríloquo. Uma rainha figurante, coadjuvante em seu próprio
reinado. Se soubesse antes o quanto eram complexos os meandres da
jogatina política, teria ficado com sua lojinha de 1,99, suspira a
monarca. Apesar, reflete sua alteza, que com o dólar no patamar que
está, teria ido a falência. Pensando bem, recorda-se a Rainha Mãe,
fora à falência em tempos de dólar baixinho e economia bombando.
Talvez lhe faltasse certa aptidão para gerência e administração,
conclui num impressionante e inusitado lapso de senso crítico. “Mas,
quando tudo isso finalmente terminar, poderei seguir o exemplo dos
monarcas que me antecederam e viajar o mundo proferindo palestras. O
poder da retórica, esse sim, todos concordam, é o meu dom mais
precioso!” - vangloria-se a rainha, com a autoimagem distorcida por
seus circuitados neurônios reais.
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