São
todos iguais. Sempre foram assim. Desde Cabral. Não há remédio.
Não há solução. Que estranha lógica rege esse país. Eles, todos
eles, são eleitos por nós. Devem satisfação de seus atos,
corretos ou fraudulentos, a nós, todos nós. E somos nós que
devemos exigir que eles, todos eles, sejam diferentes. Devemos fazer
isso através do voto. Podemos fazer isso manifestando publicamente
nosso repúdio e insatisfação, constrangendo-os por serem o que
são. Recursos perfeitamente aceitáveis em qualquer democracia.
Mas, no
Brasil de hoje, quem pretender sair às ruas em manifestações de
indignação com a corrupção e a imoralidade, é acusado de
golpista. Golpe? É golpe bradar contra o roubo do dinheiro dos
nossos impostos? É golpe demonstrar nossa revolta com a indecência
e promiscuidade de nossos representantes? É golpe se indignar com a
sangria da Petrobras? É golpe pressionar nossos governantes para que
honrem suas responsabilidades para com seu povo? É golpe que descontentes
com nossa presidente gritem por seu impeachment? É golpe exigirmos
que eles, os iguais, sejam diferentes? Não. Não é. É nosso
direito e, talvez, nosso dever. Nosso, dos diferentes deles.
Existem
resquícios e descontentamentos da recente campanha eleitoral?
Evidente que sim. Existem golpistas infiltrados, buscando surfar na
onda de indignação? Evidente que sim. Existem iguais, tentando
parecer diferentes? Evidente que sim. Mas é mais do que evidente, a
qualquer um que se proponha a enxergar, que a insatisfação e a
revolta são coletivas. Não tem cor. Não tem partido. Não tem
líder. Não tem classe social, como tentam imputar alguns. Tem
apenas indignação e inconformismo de uma parte significativa da
sociedade.
Àqueles
que alardeiam a ideia de que manifestações populares pedindo o
impeachment da presidente são tentativas de golpe, cabe algumas
singelas lembranças. Mesmo na remota hipótese de centenas de
milhares de brasileiros irem às ruas pedindo a saída da presidente,
nem mesmo assim, nossa presidente democraticamente eleita
despencaria, da noite para o dia, da rampa do Palácio do Planalto.
Não ocorreu assim no afastamento do ex-presidente Collor, também
democraticamente eleito. Fato histórico, que aliás, nunca foi visto
como golpe, e sim como exercício da democracia. Um impeachment é
um recurso legal, previsto na Constituição Federal, e que requer
critérios e trâmites plenamente democráticos e republicanos. Não
se dá na calada da noite. Se faz à luz da Constituição. Não é
golpe, portanto. Nem hoje, nem antes.
Aos que
apelam pela intervenção militar: deixem as Forças Armadas onde
estas devem ficar. Zelando por nosso território, nossa soberania e
nos protegendo de inimigos externos. Os inimigos internos, que nós
elegemos, são responsabilidade nossa. É assim que se faz um Estado
Democrático de Direito. E não podemos perder o Estado de Direito de
vista. Seria de uma indignidade e covardia extremada esperarmos que
outros limpem a sujeira que, de uma forma ou de outra, é de todos
nós brasileiros.
Quem
pariu os iguais, que os embalem. Quem não os pariu, e os
arrependidos, que os pressionem, de todas as formas legítimas, a
andar na linha reta traçada por nós. E no próximo pleito, que lhes
mostremos, todos nós, os diferentes, de um só golpe, a porta da
rua.
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