segunda-feira, 16 de março de 2015

Eu quero falar de uma coisa: de 15 de março


          Há 30 anos, em 15 de março de 1985, quem subiu a rampa do Palácio do Planalto para receber a faixa presidencial, não foi quem devia ter sido. Este, jamais a subiria. Como quase tudo no Brasil, nada parece ser como devia ter sido. Os milhares de brasileiros que haviam marchado Brasil afora clamando por Diretas Já, e perderam, também invadiram às ruas em comemoração a eleição indireta de Tancredo Neves. E esse não assumiu como o primeiro presidente civil, após longo jejum. Por mais de dois meses, Tancredo agonizaria em prolongada enfermidade, sob orações e perplexidade diária de seu povo. Em 21 de abril, o Brasil parou em comoção, pela morte de Tancredo Neves. Milhares de brasileiros choraram a morte daquele que foi seu presidente sem jamais ter sido de fato. E milhares de brasileiros foram às ruas acompanhar o cortejo fúnebre. A democracia, recém-nata, estava em risco, acreditavam muitos. Não foi assim. A democracia havia sido semeada, pelo povo que se manifestara nas ruas. A democracia se faria plena, cinco anos depois, com as primeiras eleições diretas. Em um 15 de março, cinco anos depois, assumiria um presidente eleito de forma direta. Dois anos depois, esse mesmo presidente renunciaria, frente aos fortes protestos populares que pediam seu impeachment, por indícios de corrupção. A democracia havia fincado raízes em solo brasileiro. O povo, nas ruas, mostrara e exigia isso.
          Entre percalços, infortúnios, desgovernos e corrupção: sobrevivemos todos. Sobrevive a democracia. Em trinta anos, crescemos e amadurecemos. Como povo e como país. Precisamos crescer e amadurecer muito mais. Mas, o povo pacífico nas ruas é, e sempre será, democracia.
“Há que se cuidar do broto
Pra que a vida nos dê flor
Flor, e fruto.” Milton Nascimento, Coração de Estudante

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