Há 30
anos, em 15 de março de 1985, quem subiu a rampa do Palácio do
Planalto para receber a faixa presidencial, não foi quem devia ter
sido. Este, jamais a subiria. Como quase tudo no Brasil, nada parece
ser como devia ter sido. Os milhares de brasileiros que haviam
marchado Brasil afora clamando por Diretas Já, e perderam, também
invadiram às ruas em comemoração a eleição indireta de Tancredo
Neves. E esse não assumiu como o primeiro presidente civil, após longo jejum. Por mais de dois meses, Tancredo agonizaria em
prolongada enfermidade, sob orações e perplexidade diária de seu
povo. Em 21 de abril, o Brasil parou em comoção, pela morte de
Tancredo Neves. Milhares de brasileiros choraram a morte daquele que
foi seu presidente sem jamais ter sido de fato. E milhares de
brasileiros foram às ruas acompanhar o cortejo fúnebre. A
democracia, recém-nata, estava em risco, acreditavam muitos. Não
foi assim. A democracia havia sido semeada, pelo povo que se
manifestara nas ruas. A democracia se faria plena, cinco anos depois,
com as primeiras eleições diretas. Em um 15 de março, cinco anos
depois, assumiria um presidente eleito de forma direta. Dois anos
depois, esse mesmo presidente renunciaria, frente aos fortes
protestos populares que pediam seu impeachment, por indícios de
corrupção. A democracia havia fincado raízes em solo brasileiro. O
povo, nas ruas, mostrara e exigia isso.
Entre
percalços, infortúnios, desgovernos e corrupção: sobrevivemos
todos. Sobrevive a democracia. Em trinta anos, crescemos e
amadurecemos. Como povo e como país. Precisamos crescer e amadurecer
muito mais. Mas, o povo pacífico nas ruas é, e sempre será,
democracia.
“Há
que se cuidar do broto
Pra que
a vida nos dê flor
Flor, e
fruto.” Milton Nascimento, Coração de Estudante
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