Democracia.
Liberdade de opinião. Confronto de ideias ou o tal “contraditório”.
Conceitos tão bonitos e românticos. Deveriam ficar restritos aos
dicionários, aos sonhadores movimentos estudantis ou ao fantasioso
mundo do facebook. Como se tornavam desagradáveis quando abandonavam
o seguro campo das ilusões e desabavam em cheio no campo das
opiniões e reivindicações da gente comum. Gente comum não deveria
se manifestar. Gente comum não deveria opinar. Só os engajados, com
cor e cartilha, tinham o monopólio da indignação coletiva e da
razão. Apenas eles. Mais ninguém.
No reino
de Poliana, onde a participação popular é bandeira vendida e
alardeada com muito marketing pago com polpudos recursos públicos,
toda opinião contrária será democraticamente tratada como rege a
cartilha da rainha e sua corte: desprezada, arrancada e jogada ao
lixo. Tudo rápido, ágil e na surdina, como os tradicionais aumentos
de IPTU. Se um pequeno e pacato grupo de defensores da ecologia
resolve se rebelar contra a intervenção do palácio em uma
histórica área de preservação ambiental, a turma da rainha reage
- não com a tradicional lerdeza na hora de podar árvores
ornamentais em vias públicas - mas com a rapidez dos
petro-assaltantes ao verem suas propinas ameaçadas. Cartazes e
faixas de protestos, pacificamente afixados em grades e muros, eram
rapidamente consumidos. Afinal, nossa democrática rainha, ativista
em defesa da fauna e flora, não poderia permitir que a poluição
visual, proporcionada pelos oposicionistas, perturbasse o
ecossistema. Precisamos garantir a paz no mato! - grita, bem alto,
Poliana, tentando suplantar o som das motosseras e tratores que
limpavam a área para as edificações que seriam construídas ali,
em nome da democrática educação ambiental.
As
dezenas de árvores arrancadas, não eram nativas, bem argumentam os
membros da corte da rainha. Os aniquilados ninhos dos pássaros que
ali se criavam há décadas, talvez fossem, retrucam os
ambientalistas de oposição. As árvores derrubadas eram invasoras,
gritam, com respaldo técnico, os defensores do reino. A destruição
e o barulho causado pelas máquinas, que importuna e indigna humanos,
destrói a flora e apavora a fauna, rebatem os eco defensores. É
preciso revitalizar e entregar o mato ao povo, respondem outros. É
preciso que se faça isso com preservação e consciência ambiental,
argumentam os demais.
Confronto
de ideias, de opiniões e de ideologias. A boa prática da defesa do
contraditório. Ideal de democracia. De soberania. De maturidade
intelectual. Que vença a opinião da maioria. Sem censuras ou
coerções de qualquer natureza. Esperemos que a maioria esteja
certa. Se assim for, que colhamos todos nós os méritos e os louros.
E se, por desgraçada ventura não for, que lamentemos,
irremediavelmente, pela natureza perdida. Mas que seja discutida,
debatida, acirrada e aguerrida essa briga. Pois, se assim não for,
será sempre uma história mal contada ou uma lástima a ser,
perenemente, chorada. As opiniões, contrárias ou favoráveis, por
favor, não se calem, se manifestem! Assim se faz uma democracia.
Queiram os que têm mando, ou aqueles que ainda têm voz. Em uma
democracia plena, a culpa ou o dolo é de todos. Engajados,
governistas, ambientalistas, omissos ou coniventes. Cada um com sua
parte, cada qual com sua consciência.
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