domingo, 22 de fevereiro de 2015

A democrática consciência ambiental do reino de Poliana


Democracia. Liberdade de opinião. Confronto de ideias ou o tal “contraditório”. Conceitos tão bonitos e românticos. Deveriam ficar restritos aos dicionários, aos sonhadores movimentos estudantis ou ao fantasioso mundo do facebook. Como se tornavam desagradáveis quando abandonavam o seguro campo das ilusões e desabavam em cheio no campo das opiniões e reivindicações da gente comum. Gente comum não deveria se manifestar. Gente comum não deveria opinar. Só os engajados, com cor e cartilha, tinham o monopólio da indignação coletiva e da razão. Apenas eles. Mais ninguém.
No reino de Poliana, onde a participação popular é bandeira vendida e alardeada com muito marketing pago com polpudos recursos públicos, toda opinião contrária será democraticamente tratada como rege a cartilha da rainha e sua corte: desprezada, arrancada e jogada ao lixo. Tudo rápido, ágil e na surdina, como os tradicionais aumentos de IPTU. Se um pequeno e pacato grupo de defensores da ecologia resolve se rebelar contra a intervenção do palácio em uma histórica área de preservação ambiental, a turma da rainha reage - não com a tradicional lerdeza na hora de podar árvores ornamentais em vias públicas - mas com a rapidez dos petro-assaltantes ao verem suas propinas ameaçadas. Cartazes e faixas de protestos, pacificamente afixados em grades e muros, eram rapidamente consumidos. Afinal, nossa democrática rainha, ativista em defesa da fauna e flora, não poderia permitir que a poluição visual, proporcionada pelos oposicionistas, perturbasse o ecossistema. Precisamos garantir a paz no mato! - grita, bem alto, Poliana, tentando suplantar o som das motosseras e tratores que limpavam a área para as edificações que seriam construídas ali, em nome da democrática educação ambiental.
As dezenas de árvores arrancadas, não eram nativas, bem argumentam os membros da corte da rainha. Os aniquilados ninhos dos pássaros que ali se criavam há décadas, talvez fossem, retrucam os ambientalistas de oposição. As árvores derrubadas eram invasoras, gritam, com respaldo técnico, os defensores do reino. A destruição e o barulho causado pelas máquinas, que importuna e indigna humanos, destrói a flora e apavora a fauna, rebatem os eco defensores. É preciso revitalizar e entregar o mato ao povo, respondem outros. É preciso que se faça isso com preservação e consciência ambiental, argumentam os demais.
Confronto de ideias, de opiniões e de ideologias. A boa prática da defesa do contraditório. Ideal de democracia. De soberania. De maturidade intelectual. Que vença a opinião da maioria. Sem censuras ou coerções de qualquer natureza. Esperemos que a maioria esteja certa. Se assim for, que colhamos todos nós os méritos e os louros. E se, por desgraçada ventura não for, que lamentemos, irremediavelmente, pela natureza perdida. Mas que seja discutida, debatida, acirrada e aguerrida essa briga. Pois, se assim não for, será sempre uma história mal contada ou uma lástima a ser, perenemente, chorada. As opiniões, contrárias ou favoráveis, por favor, não se calem, se manifestem! Assim se faz uma democracia. Queiram os que têm mando, ou aqueles que ainda têm voz. Em uma democracia plena, a culpa ou o dolo é de todos. Engajados, governistas, ambientalistas, omissos ou coniventes. Cada um com sua parte, cada qual com sua consciência.

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