domingo, 15 de fevereiro de 2015

O samba de um desastre só


Finalmente é Carnaval! A festa mais esperada pelo povo de Gigante Adormecido. Samba, cor, praias lotadas, engarrafamentos e acidentes, misturavam-se com a harmonia das escolas de samba nas televisões. O povão saboreava o segundo maior espetáculo de ilusão e fantasia desse reino. O primeiro, muito mais suntuoso e ricamente patrocinado pelo contribuinte, era a mega produção em Horário Eleitoral.
Mas a Rainha Mãe e seus companheiros não pareciam contagiados com a alegria da festa popular. De cara amarrada, torciam o nariz para tamanha empolgação. Compreensível. Afinal, para a companheirada, todo dia era dia de folia. E orgia com dinheiro público, tem a doce evolução da impunidade.
O que preocupava os companheiros era o trágico desabamento na popularidade da recém reentronada rainha. Seu novíssimo reinado mostrava-se um fracasso em harmonia e arranjo. O enredo desagradava a plateia. A comissão de frente e o mestre-sala, eram verdadeiros fiascos. A bateria, descompassada, não acertava o ritmo. Até as fantasias, aproveitadas de Horário Eleitoral, mostravam-se carcomidas e despedaçadas aos olhos do povão. E a rainha, ah, a rainha, quanta falta de desenvoltura! Sem qualquer ginga no pé, pisava o calo dos seus aliados, e a total ausência de jogo de cintura, fazia a alegria de Oposição. A Rainha Mãe conseguia a façanha inédita de ser impopular mesmo entre os adestrados membros de seu clã estrelado. Para espanto de todos, fazia até seus aliados, tradicionais e eternos parasitas do poder, tronarem-se opositores aguerridos. Irritara inclusive seu criador, que com sua conhecida coragem invertebrada, escondia-se da crise e tentava se descolar de sua própria criatura.
Mas, companheiro é companheiro, e em nome do projeto de poder, todo sapo é digerido. E essa turma precisava reverter rapidamente o alarmante cenário. Como fazer isso? Nossa rainha, ao invés de se esconder no castelo, encararia de frente seus súditos, de maneira transparente e medianamente honesta? Mudaria a forma totalitária e intransigente como tratava o parlamento? Assumiria os evidentes problemas de seu reinado? Claro que não! A solução para o desastre que era seu recém iniciado reinado, não era mais seriedade, competência, planejamento e honestidade. Era, isso sim, mais maquiagem e photoshop. No lugar de uma equipe competente na gerência e articulação, um único marqueteiro resolveria a questão. Era só ressuscitar no povo as ilusões vendidas em Horário Eleitoral. Apagar da monarca cada respingo de petróleo que pudesse maculá-la. Criar uma nova personagem, carismática, destemida e intransigentemente combativa com a corrupção. Uma máscara carnavalesca remodelada. Enfim, mais uma fantasia. Uma tática que, de tão repetida, tinha tudo para dar certo. Afinal, é conhecido o apreço pela fantasia e ilusão deste povo de Gigante Adormecido. Nessa terra, em se plantando, só se colhe carnaval. Ou propinas.

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