Finalmente
é Carnaval! A festa mais esperada pelo povo de Gigante Adormecido.
Samba, cor, praias lotadas, engarrafamentos e acidentes,
misturavam-se com a harmonia das escolas de samba nas televisões. O
povão saboreava o segundo maior espetáculo de ilusão e fantasia
desse reino. O primeiro, muito mais suntuoso e ricamente patrocinado
pelo contribuinte, era a mega produção em Horário Eleitoral.
Mas a
Rainha Mãe e seus companheiros não pareciam contagiados com a
alegria da festa popular. De cara amarrada, torciam o nariz para
tamanha empolgação. Compreensível. Afinal, para a companheirada,
todo dia era dia de folia. E orgia com dinheiro público, tem a doce
evolução da impunidade.
O que
preocupava os companheiros era o trágico desabamento na popularidade
da recém reentronada rainha. Seu novíssimo reinado mostrava-se um
fracasso em harmonia e arranjo. O enredo desagradava a plateia. A
comissão de frente e o mestre-sala, eram verdadeiros fiascos. A
bateria, descompassada, não acertava o ritmo. Até as fantasias,
aproveitadas de Horário Eleitoral, mostravam-se carcomidas e
despedaçadas aos olhos do povão. E a rainha, ah, a rainha, quanta
falta de desenvoltura! Sem qualquer ginga no pé, pisava o calo dos
seus aliados, e a total ausência de jogo de cintura, fazia a alegria
de Oposição. A Rainha Mãe conseguia a façanha inédita de ser
impopular mesmo entre os adestrados membros de seu clã estrelado.
Para espanto de todos, fazia até seus aliados, tradicionais e
eternos parasitas do poder, tronarem-se opositores aguerridos.
Irritara inclusive seu criador, que com sua conhecida coragem
invertebrada, escondia-se da crise e tentava se descolar de sua
própria criatura.
Mas,
companheiro é companheiro, e em nome do projeto de poder, todo sapo
é digerido. E essa turma precisava reverter rapidamente o
alarmante cenário. Como fazer isso? Nossa rainha, ao invés de se
esconder no castelo, encararia de frente seus súditos, de maneira
transparente e medianamente honesta? Mudaria a forma totalitária e
intransigente como tratava o parlamento? Assumiria os evidentes
problemas de seu reinado? Claro que não! A solução para o desastre
que era seu recém iniciado reinado, não era mais seriedade,
competência, planejamento e honestidade. Era, isso sim, mais
maquiagem e photoshop. No lugar de uma equipe competente na
gerência e articulação, um único marqueteiro resolveria a
questão. Era só ressuscitar no povo as ilusões vendidas em Horário
Eleitoral. Apagar da monarca cada respingo de petróleo que pudesse
maculá-la. Criar uma nova personagem, carismática, destemida e
intransigentemente combativa com a corrupção. Uma máscara
carnavalesca remodelada. Enfim, mais uma fantasia. Uma tática que,
de tão repetida, tinha tudo para dar certo. Afinal, é conhecido o
apreço pela fantasia e ilusão deste povo de Gigante Adormecido.
Nessa terra, em se plantando, só se colhe carnaval. Ou propinas.
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