Em
Gigante Adormecido, as coisas, ao que pareciam, jamais seriam as
mesmas. Enquanto o mercado financeiro dava mostras de impaciência e
descrédito com os rumos da política econômica atual, nossa Rainha
Mãe adiava a hora de anunciar um nome para dirigir a economia do
reino. Contrariando os evidentes sinais de alerta do mercado, fora
visitar a terra dos cangurus e coalas. Quem sabe traria um
ornitorrinco para chefiar essa área vital, já que os jumentos que a
cercavam pareciam quase tão empacados na economia quanto nossa
matriarca.
E
se o meio econômico estava inseguro, o meio político estava em
polvorosa. Vários peixes graúdos haviam sido presos em processo de
investigação de corrupção na maior Estatal de Gigante Adormecido.
Tomara que peixes não tenham língua, torcem muitos agentes
públicos, pouco entendidos em biologia, mas experts em trambicagem e
colecionadores de propinas. Dos ductos dessa antiga potência do
petróleo, vazava a cada dia, mais sujeira e imundice. À polícia
cabia a difícil tarefa de identificar todas as mãos sujas de
corrupção. Pelo ritmo em que andavam as investigações, faltariam
algemas para tantas mãos. Aqueles que há poucas décadas bradavam
contra a privatização dessa importante estatal petroleira,
conseguiram, em uma só década, promover uma verdadeira piratização
dos cofres da empresa. O petróleo já não é mais nosso. A conta
das propinas e da corrupção continua sendo, é claro.
Os
próximos dias e semanas, prometiam ser de inquietude e aflição
para muita gente, incluindo nossos ilustres políticos. Os que nunca
dormiam de touca, de agora em diante precisariam dormir vestidos. Com
roupas confortáveis, e sem cintos ou cadarços (mocassins pareciam a
escolha mais acertada pelas normas da polícia). Afinal, nenhum deles
queria correr o risco de ser conduzido ao presídio, antes do
amanhecer, vestindo apenas cuecas. A preocupação com o decoro é
uma conhecida marca dessa gente. Cuecas! Ah, as cuecas! Que saudades
dos tempos em que cuecas recheadas de propinas eram o escândalo
maior a envergonhar essa Nação. Se não evoluímos na economia, evoluímos, e
muito, na corrupção. Não haveriam cuecas suficientes no mundo que
conseguissem albergar tanto dinheiro roubado nesse peculiar reino, de
corruptos tão ousados e de um povo tão convenientemente servil. Que
esperemos todos pelos próximos capítulos, não da novela - antigo
ópio do povo - mas das páginas de política, onde quem reinava eram
a polícia e os piratas vermelhos do dinheiro público.
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