Enfim,
terminara a turnê a Horário Eleitoral. Entre difamados e ofendidos,
salvaram-se todos, afinal. Vencera a democracia. Mas, no reino de
Poliana, dificilmente as coisas seriam como antes. Durante as últimas
semanas, a confusão tomara conta da sólida coligação que
suportava nossa rainha. Os súditos, pouco conhecedores dos submundos
da política, já não entendiam mais nada. Era um tal de corre de um
palanque, pula em outro palanque. Larga uma bandeira, abana outra
bandeira. Tinha gente que vestia uma camisa até as 18 horas, para
cuspir de ódio e asco na mesma camisa todo final de tarde e até a
manhã seguinte. Os bobos da corte, tradicionalmente apalermados, se
dividiam na difícil tarefa de bajular Poliana, para logo em seguida,
se juntar a velhos adversários de sua alteza. Um verdadeiro
disparate! Mas, em tempos de disputa por mais poder e muitos
carguinhos, tudo é permitido nessa terra. Da prostituição de
convicções à troca e venda de favores. Coisas que só quem é do
ramo entende. O povo, ignorante na arte, assistia a tudo perplexo.
Até
os servos de carreira do castelo de Poliana, aqueles que não estavam
alinhados ideologicamente com a rainha e seus aliados, acostumados a
sofrer por anos com as perseguições da corte, estavam empolgados
com essa democrática onda que tomara conta da corte e da rainha.
Acreditavam que nesse clima tão tolerante, de agora em diante, seria
permitido aos servos reais terem opinião própria também. Poderiam,
quem sabe, discordar, sem medo de perder a cabeça ou ser jogado aos
calabouços por anos. Quem sabe, aqueles que opinassem, discordassem
ou criticassem, fossem, daqui para frente, vistos apenas como
cidadãos com capacidade de raciocínio e posicionamentos, e não
asquerosos infiltrados de Oposição. Àqueles que nutrem essa
esperança, Poliana, seus bobos e a velha e boa política, ensinam:
Horário Eleitoral terminou, minha gente! Confronto de ideias,
opiniões e divergências, não serão mais tolerados. Quem, por
algum minuto, acreditou que isso seria possível, deve ter acreditado
em todas as mentira proferidas na televisão. Era só política em
tempos de pleito, meu povo! Não sejam estúpidos! Não há lugar
para sonhadores e crédulos nessa política e nesse reino. Aos
discordantes, como sempre fora, a guilhotina. E aos discordantes
dentro da própria corte da rainha? Bem, isso, o tempo dirá. Agora
era hora de comemorar a vitória. E, por estranho que pareça, justo
nossa monarca Poliana, alinhadíssima com a novamente entronada
Rainha Mãe, talvez tenha saído desse característico período da
história democrática do reino, como a maior perdedora entre os
ganhadores. Ganhar perdendo, deve ensinar uma nova lição a nossa
poderosa e carismática rainha. Esperamos todos, que a faça crescer
e amadurecer um pouco mais. Como amadurece, a cada dia, nossa
peculiar democracia
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