Desde
bem cedinho a mãe lidava na cozinha, numa profusão de pratos,
panelas e vasilhames. A casa toda recendia a diversos e apetitosos
aromas das guloseimas que preparava para esse dia. No Dia das Mães,
uma velha mãe trabalhava mais que em qualquer outro dia. Afinal, sua
prole viria passar o domingo com ela. E como não podia deixar de
ser, na lógica clara de uma mãe, era o dia de preparar o prato
preferido de cada um dos filhos. Presente para mãe, era acarinhar a
seus filhos, mesmo no seu dia. Filhos com gênios, temperamentos,
convicções e gostos por vezes tão distintos, que nem pareciam
terem sido gerados na mesma barriga, pensa a mãe, ajeitando algumas
almofadas no sofá. A casa estava em ordem. Bem diferente dos tempos
em que eles eram crianças. Controlar o rebuliço e as
travessuras daquela escadinha de arteiros, quase a levara a loucura.
Por vezes, chegara a pensar em desistir. Mas ser mãe é para vida
inteira, e ainda além. Hoje tinha saudades do tempo em que eram
pequenos e bagunceiros, mas estavam todos por perto, ao alcance de
suas mãos - ou do seu chinelo! Nesse domingo das mães, sua
pequenina não viria, suspira. Um oceano inteiro as separava. Seria
uma ausência sentida na mesa do almoço, e um vazio enorme no seu
coração de mãe. A distância que separa pessoas, para uma mãe
chamava-se saudade. E saudade de mãe é permanente. Começa no dia
em que o filho sai de seu ventre. Continua quando ele começa a
caminhar e aprende, lentamente, a abandonar a proteção do seu colo.
E culmina quando ele, enfim, levanta voo e passa a ser dono de sua
vida, deixando na mãe a eterna saudade de quando o colo da mãe era
todo o mundo de sua criança. Ensinar um filho a caminhar e seguir
sozinho, às vezes para longe, seu caminho, era a tarefa mais difícil
e dolorida de uma mãe. E ser mãe é aprender a perder um pouquinho
de si cada vez que um filho cresce, amadurece e faz suas próprias
conquistas. As conquistas de um filho geram orgulho e também
saudades em uma mãe. Coisas que só mãe entende, reflete, remexendo
nas panelas.
Para
adoçar a vida das mães, havia os netos! Logo, logo, sua neta
chegaria, como um furacão de energia e alegria a adentrar pela casa.
Em pouco tempo colocaria fim na tediosa ordem das almofadas colocadas
no sofá. Com que expectativa essa avó esperava para ver a profusão
de brinquedos espalhados pelo chão. Depois dos sessenta, vejam só,
sentia-se alegre e satisfeita com a mesma bagunça de crianças que
antigamente a enlouqueciam! Coisa de avó, que só avó entende –
motivo de piadinhas de seus filhos adultos, diferentes em quase tudo,
mas todos igualmente debochados e sarcásticos. Em breve teria mais
uma netinha. Sua pequenina, lá do outro lado do mundo, em poucos
dias lhe daria outra neta. Gostaria de estar com ela no momento do
parto. Afagá-la em suas dores naturais. Consolá-la no seu primeiro
momento de saudade. Mas ser mãe, é estar presente, mesmo estando
distante. E saber que o afeto e os ensinamentos dados na infância e
inicio da juventude, são legados que ficam marcados para sempre no
caráter e no cerne de cada um de seus filhos. Essa é a única
herança de verdadeiro valor que uma mãe pode deixar aos filhos.
Coisa que só filho entende. E se todos nós, filhos, não dizemos ou
dissemos a nossas mães, estejam elas presentes ou já ausentes, de
sua importância e valor inquestionável em nossas vidas, saibam
todas que sabemos. Sempre soubemos. Se deixamos de falar ou
demonstrar, é, ou foi, por pura imaturidade, receio de nos expor, ou
mera covardia de sentir. Coisas que nenhuma mãe sente ou compreende.
Coisas, que com vergonha, nós, filhos, nos desculpamos. Obrigada
mãe! E desculpa toda a bagunça e confusão que fizemos ou ainda
fazemos. Parabéns pelo seu dia!
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