Poliana
estava preocupada com os últimos acontecimentos que atingiam em
cheio um de seus amigos e companheiro de clã. Mesmo sem grande
alarido de Imprensa Livre sobre o assunto, o fato é que uma decisão
de Justiça dessa natureza, podia trazer sérios problemas a rainha.
Se já fora constrangedor à Poliana ter de afastar seu bobo das
obras na época, tê-lo agora condenado por falsidade ideológica lhe
daria bem mais do que desgaste na imagem. Poderia causar sérios
desgastes em seu orçamento pessoal. E quem conhece sua alteza, bem
sabe de sua ideologia socialista: melhor ter uma imagem repleta de
escândalos de desvios éticos, mas as contas pessoais abarrotadas de
dinheiro duvidoso, do que um mínimo de decência no uso da coisa
pública com rentabilidade pífia em suas finanças. E um companheiro
com a espada de Justiça no pescoço sempre podia resolver soltar
mais a língua do que o combinado. Dormir na cadeia, mesmo com muitos
privilégios, fazia até o mais descarado mensaleiro se abater. Que
dirá um reles companheiro de menor quilate, estagiário na arte das
maracutaias, peça pequena do singelo e iniciante esquema de
Polianoduto.
A
preocupação da rainha era ter de dispor, ainda mais, de seu suado
dinheiro para acomodar um companheiro condenado, descontente e que
sabia demais. Que dilema para nossa monarca! Nos últimos tempos já
tivera de usar seu prestígio, influência e suporte financeiro para
silenciar as línguas rancorosas dos companheiros e antigos parceiros
nas falsas impressões de seu reinado, os irmãos Grafite. Se
minguaram os magníficos cartazzes patrocinados com recursos
públicos, alguém tivera de bancar os amigos para evitar que mais
lama do que tinta fosse jogada em suas dispendiosas propagandas
apontadas pela intransigente Justiça. Acomodar aos Grafite e evitar
que estes se confessassem à Justiça, fora troco pequeno à Poliana
e seu clã. Custo maior, parecia, seria fazer que seu antigo bobo das
obras mantivesse a mesma serenidade e silêncio, ao se ver demasiado
próximo das grades. Talvez, nem mesmo dinheiro transposto de
guindaste pudesse pagar essa conta, preocupava-se a rainha. Só
restava a sempre casta e límpida Poliana, esperar que, a fidelidade
do companheiro condenado aos ideais de seu clã, de eterna
perpetuação no poder, fosse maior que o pequeno dissabor de
algumas noites atrás das grades. Afinal, quem joga no time da
monarca, deixa, já no aquecimento, toda a vergonha de lado. Com isso
contava a rainha. Por isso pagavam os fiéis, inocentes e honrados
contribuintes.
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