sábado, 5 de abril de 2014

As manobras radicais de Poliana e sua corte


A turma de Poliana tivera uma semana repleta de reuniões. Primeiro foram as dezenas de reuniõezinhas marcadas por Santo Jorge, motivo de piadinhas na corte. Até os companheiros mais fieis ao sindicalismo útil, já estavam fartos de tantas reuniões agendadas pelo bobo das obras. O homem estava sendo chamado pelo povo de Exu Tranca Rua. Nada mais andava na pasta. Tudo empacava em alguma encruzilhada. E absolutamente tudo tinha de ser decidido, é claro, em alguma reunião. Era uma reunião para cada buraco no asfalto a ser coberto de pó de brita. Outra reunião só para as bocas de lobo entupidas. Cada balanço avariado nas praças do reino demandava horas de discussões, e folhas e mais folhas de atas. O bobo das obras, sempre disposto a mostrar trabalho, agendava uma reunião a fim de marcar outra reunião, para definir a pauta da próxima reunião. Resumo da ópera: nada saia do seu gabinete a não ser papeis inúteis e conversas improdutivas. E os contribuintes queixavam-se da morosidade na execução de pequenos consertos corriqueiros. Pois até a cor das tão propaladas ciclovias fora motivo de polêmica nas tais reuniões participativas. No mundo todo as ciclofaixas eram vermelhas. Pois, apenas para polemizar, e em nome do debate democrático, participativo e inútil, Santo Jorge - o Exu Tranca Rua e distinto bobo das obras - teimava em pintar as faixas de verde. Foram necessárias mais de uma dúzia de reuniões, encontros com técnicos da área e ciclistas profissionais, para convencer sua entidade de que era conveniente obedecer o padrão internacional de cores das ciclovias. Santo Jorge - o daltônico - emburrou, reclamou, criticou, esperneou, mas vencidamente aceitou. Não sem antes marcar uma pequena reunião com Imprensa Livre para explicar sua decisão. Que maravilha um reinado assim tão democrático, onde se leva meses de debates inúteis para no fim se decidir o óbvio.
Já no novo ciclo de reuniões da Orquestra Partidária - OP - as coisas iam de vento em popa. Recorde histórico de público em uma das assembleias na região central do reino! Para desilusão da companheirada. Desilusão? Não é o sonho dos companheiros que o povo participe e se manifeste?! Claro que sim! - grita Poliana e sua corte nos outdoors e na mídia. Ocorre que mais de quatrocentas pessoas, das quinhentas que frequentaram esse espetáculo participativo, não tinham vínculo com seu clã e não almejavam as demandas pré-fabricadas da corte da rainha. Uma gentinha alienada, que não tem a menor compreensão do processo democrático de participação previamente estabelecido pela corte, se achou no direito de manifestar suas reivindicações. Gente ignorante que ousou votar por melhorias nas escolas públicas, mais vagas em creches e calçamento de ruas, quando a luta legítima da companheirada, que mama comodamente nas tetas públicas, era por pistas para os skatistas. Os alienados, ignorantes e elitistas, ganharam no voto demandas ridículas e estúpidas, como melhores escolas. Os companheiros engajados com as causas sociais, os skatistas, socialistas das tetas públicas, se lamuriavam nas redes sociais pela falta de compreensão dos alienados – provavelmente elitistas e burgueses reacionários, ou jovens tolos e manipulados - do verdadeiro papel desses espaços democráticos. Afinal, um povo sem skate é um povo sem futuro! Escola é adereço supérfluo da elite golpista! - gritam os companheiros socialistas, com as camisetas do Guevara meio rubras de vergonha.
E para terminar a maratona semanal de reuniões, uma reunião extraordinária convocada pela rainha. O objetivo era claro e límpido. Os novos e tão esperados posicionamentos de Justiça garantiam a rainha muitos meses de enrolação. Com isso, era fato: a companheirada não sairia mais do poder. Todos os fios estavam alinhavados e as propinas asseguradas. Agora era urgente restabelecer o Polianoduto, quase hibernante no último ano. Poliana dera a largada. Seus bobos podiam, novamente, se jogar como porcos no dinheiro público, sem medo de Oposição. Era preciso reativar antigas alianças. Refazer as falsas e lucrativas impressões. Qualquer cobrança ilícita de licença ou alvará estava autorizada, desde que a transação não fosse feita por conversas telefônicas, alertava a ressabiada rainha. Sua alteza, muito mais experiente e cautelosa, aconselhava seus companheiros: peguem apenas o que caiba nos bolsos, meias ou cuecas. Por favor! Nada de pedras, rochas ou o mastro da bandeira. O chafariz, então, nem pensar! Justiça, por hora, está do nosso lado, mas não é conveniente cutucar demais a velhota. De resto, aproveitem companheirada! A temporada da fartura está reaberta, anuncia Poliana, especialista em socializar com seus pares o dinheiro dos contribuintes.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Havendo dificuldades na postagem dos comentários, o campo URL poderá ser deixado em branco.