A
turma de Poliana tivera uma semana repleta de reuniões. Primeiro
foram as dezenas de reuniõezinhas marcadas por Santo Jorge, motivo
de piadinhas na corte. Até os companheiros mais fieis ao
sindicalismo útil, já estavam fartos de tantas reuniões agendadas
pelo bobo das obras. O homem estava sendo chamado pelo povo de Exu
Tranca Rua. Nada mais andava na pasta. Tudo empacava em alguma
encruzilhada. E absolutamente tudo tinha de ser decidido, é claro,
em alguma reunião. Era uma reunião para cada buraco no asfalto a
ser coberto de pó de brita. Outra reunião só para as bocas de lobo
entupidas. Cada balanço avariado nas praças do reino demandava
horas de discussões, e folhas e mais folhas de atas. O bobo das
obras, sempre disposto a mostrar trabalho, agendava uma reunião a
fim de marcar outra reunião, para definir a pauta da próxima
reunião. Resumo da ópera: nada saia do seu gabinete a não ser
papeis inúteis e conversas improdutivas. E os contribuintes
queixavam-se da morosidade na execução de pequenos consertos
corriqueiros. Pois até a cor das tão propaladas ciclovias fora
motivo de polêmica nas tais reuniões participativas. No mundo todo
as ciclofaixas eram vermelhas. Pois, apenas para polemizar, e em nome
do debate democrático, participativo e inútil, Santo Jorge - o Exu Tranca Rua e distinto bobo das obras - teimava em pintar as faixas de
verde. Foram necessárias mais de uma dúzia de reuniões, encontros
com técnicos da área e ciclistas profissionais, para convencer sua
entidade de que era conveniente obedecer o padrão internacional de
cores das ciclovias. Santo Jorge - o daltônico - emburrou, reclamou,
criticou, esperneou, mas vencidamente aceitou. Não sem antes marcar
uma pequena reunião com Imprensa Livre para explicar sua decisão.
Que maravilha um reinado assim tão democrático, onde se leva meses
de debates inúteis para no fim se decidir o óbvio.
Já
no novo ciclo de reuniões da Orquestra Partidária - OP - as coisas
iam de vento em popa. Recorde histórico de público em uma das
assembleias na região central do reino! Para desilusão da
companheirada. Desilusão? Não é o sonho dos companheiros que o
povo participe e se manifeste?! Claro que sim! - grita Poliana e sua
corte nos outdoors e na mídia. Ocorre que mais de quatrocentas
pessoas, das quinhentas que frequentaram esse espetáculo
participativo, não tinham vínculo com seu clã e não almejavam as
demandas pré-fabricadas da corte da rainha. Uma gentinha alienada,
que não tem a menor compreensão do processo democrático de
participação previamente estabelecido pela corte, se achou no
direito de manifestar suas reivindicações. Gente ignorante que
ousou votar por melhorias nas escolas públicas, mais vagas em
creches e calçamento de ruas, quando a luta legítima da
companheirada, que mama comodamente nas tetas públicas, era por
pistas para os skatistas. Os alienados, ignorantes e elitistas,
ganharam no voto demandas ridículas e estúpidas, como melhores
escolas. Os companheiros engajados com as causas sociais, os
skatistas, socialistas das tetas públicas, se lamuriavam nas redes
sociais pela falta de compreensão dos alienados – provavelmente
elitistas e burgueses reacionários, ou jovens tolos e manipulados -
do verdadeiro papel desses espaços democráticos. Afinal, um povo
sem skate é um povo sem futuro! Escola é adereço supérfluo da
elite golpista! - gritam os companheiros socialistas, com as
camisetas do Guevara meio rubras de vergonha.
E
para terminar a maratona semanal de reuniões, uma reunião
extraordinária convocada pela rainha. O objetivo era claro e
límpido. Os novos e tão esperados posicionamentos de Justiça
garantiam a rainha muitos meses de enrolação. Com isso, era fato: a
companheirada não sairia mais do poder. Todos os fios estavam
alinhavados e as propinas asseguradas. Agora era urgente restabelecer
o Polianoduto, quase hibernante no último ano. Poliana dera a
largada. Seus bobos podiam, novamente, se jogar como porcos no
dinheiro público, sem medo de Oposição. Era preciso reativar
antigas alianças. Refazer as falsas e lucrativas impressões.
Qualquer cobrança ilícita de licença ou alvará estava autorizada,
desde que a transação não fosse feita por conversas telefônicas,
alertava a ressabiada rainha. Sua alteza, muito mais experiente e
cautelosa, aconselhava seus companheiros: peguem apenas o que caiba
nos bolsos, meias ou cuecas. Por favor! Nada de pedras, rochas ou o
mastro da bandeira. O chafariz, então, nem pensar! Justiça, por hora, está do nosso lado, mas não
é conveniente cutucar demais a velhota. De resto, aproveitem
companheirada! A temporada da fartura está reaberta, anuncia
Poliana, especialista em socializar com seus pares o dinheiro dos
contribuintes.
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