As manifestações populares em nosso país, nos estados de São
Paulo, Rio de Janeiro, Rio grande do Sul e Brasília, e que ganharam repercussão
nacional e mundial nos últimos dias, merecem as devidas reflexões e
considerações. Deixemos, por hora, de lado as ideologias, hipocrisias, utopias,
cores partidárias e credos. Precisamos repensar nosso Estado, nossa sociedade e
nossa Nação. Não nos parece sensato presumir que um movimento de tamanho
contingente de pessoas e participantes e com tal estrutura e mobilização tenha
sido motivado tão e unicamente pelo aumento da tarifas de transporte coletivo
nessas capitais. Seria cômodo e pueril
resumir os fatos ocorridos a um mote tão pequeno e corriqueiro nesse país. As
manifestações ocorridas nos últimos dias demonstram claros sintomas de que a
sociedade brasileira encontra-se farta e sobrecarregada de tarifas, impostos e
ineficiência estatal. A indignação de muitos brasileiros com a
corrupção desenfreada, o descaso com a saúde e a educação, os desvios
corriqueiros e imorais de verbas, os gastos estrambólicos de recursos públicos
com estádios de futebol e outras perfumarias de pouco, ou nenhum valor para os
contribuintes brasileiros, que ainda esperam de sua pátria o mínimo de
dignidade que sua Carta Magna proclama, parecem estar mais ao centro das
indignações coletivas. Indignações estas, valorosas, corretas e merecedoras de
todo e qualquer apoio e elogio. A luta contra a corrupção, o desmando e o
descaso aos interesses coletivos devem estar sempre no cerne de qualquer ideal
que seja justo e criterioso em suas doutrinas.
No entanto, é preciso que sejamos coerentes e imparciais em nossas análises dos fatos. Qualquer um que tenha participado de
movimentos coletivos sabe que dentre uma maioria comprometida e ordeira, existe
uma minoria de baderneiros, descompromissados e arruaceiros. E existem aqueles que buscam se apropriar de uma causa coletiva em prol de interesses partidários. E que essa minoria
desprezível, pode arruinar todo um processo de luta democrática e legítima, conquistada pelo exercício pleno da cidadania. Para isso basta uma pedrada em uma vidraça.
Duas ou mais ofensas a um policial. Uma cuspida bem acertada. Um soco, certeiro
como um tiro de fuzil. No calor da batalha, nem todo mundo é santo e todo vira latas
vira Pit Bull, quando em matilha. Essa é a verdade nas gangs, nos guetos e nos
dignos movimentos das causas sociais. Esse é a realidade em qualquer movimentação popular de qualquer país do mundo. Só quem nunca
participou, ou é demasiado hipócrita, acha que pode ser diferente.
Quando um grupo de pessoas, por mais bem intencionadas que
estejam, por mais justas e legítimas que sejam suas causas, obstruem avenidas,
impedem a passagem de outros, impossibilitam que trabalhadores cheguem a suas residências ou seus locais de trabalho, esse grupo impede o
direito de ir e vir de outros cidadãos. Cidadãos também brasileiros. Sujeitos
as leis, aos impostos, as tarifas e as mazelas desse país. E esses cidadãos, mesmo
que simpatizantes da louvável e inquestionável causa de um país mais sério e
digno para seu povo, têm o direito constitucional e inviolável de ir e vir. E
esse direito magno, como o direito a saúde e a educação, deve ser respeitado.
Por todos. Quando esse direito é violado, o Estado precisa intervir. Quando alguns manifestantes, mesmo que a minoria, depreda patrimônio público e privado e coloca em risco a integridade de outros, torna-se preciso,
justo e urgente que o Estado intervenha. É o que rege nossa Constituição. É o
que esperamos, todos nós brasileiros. Aqui,
entra o papel da polícia. Brigada Militar, no estado do Rio Grande do Sul.
Respeitosa, valorosa e reconhecida Brigada Militar dos gaúchos. Trabalhadores
como nós. Não esperam, tenho certeza, os brigadianos, nem querem, ter de bater,
agredir ou jogar bombas de gás lacrimogêneo em seu povo. São, eles, povo como
nós, assalariados. Pagam impostos. Agonizam com seus familiares em emergências
lotadas de hospitais públicos. Lastimam pela abundância de estádios de futebol
e pela escassez de leitos e médicos em hospitais. Assim como nós lastimamos.
Mas, quando a lei e a ordem estão ameaçadas, precisam intervir. Essa é a função
da polícia militar. Intervir, quando necessário, e garantir a ordem e o
respeito ao direito da maioria da população. Pelo bem do todo, pela manutenção da ordem e pelo respeito
às leis e a Constituição Federal. Triste sina de sua profissão. Mas alguém tem
de fazer. E eles fazem. E por salários irrisórios. Fazem, por
que é seu dever profissional. Não esperam
reconhecimento. São pagos para isso. São, acima de tudo e de qualquer
julgamento, profissionais. Mas, são pessoas, contribuintes, e seres humanos
também.
Se houve excessos, e é mais do que provável que tenha havido, de ambos os
lados (só os sonhadores, os hipócritas
e pseudo-intelectuais alienados, podem acreditar que em manifestações com
centenas de participantes tudo será um mar de perfumadas rosas brancas) devem
ser apurados e severamente punidos. Manifestantes desordeiros devem ser presos
e condenados. Policiais que abusaram da força devem ser severamente punidos.
A nós, sociedade desorganizada, mas revoltada e questionadora, deve ficar a
semente de que a luta pelo certo e justo é sempre o melhor, por mais árduo que
seja, caminho a seguir. O que precisamos, como sociedade, é aprender a lutar pelo que é
certo e justo sem desrespeitar o direito dos outros. E sem nos permitir manipular por interesses de uma minoria que não representa nossas justas indignações. Esse é o mais
exaustivo exercício de democracia. Exercício cansativo, e na maioria das vezes
infrutífero, mas que precisa ser cultivado, adubado e regado, para que
conflitos sangrentos não tenham mais vez nesse estado e nesse país. Para que um
policial não tenha de lutar contra um dos seus, pois nada é mais nocivo à
democracia do que iguais se digladiando como inimigos. Causas justas devem ser
de todos. E todos, devemos respeitar as leis. Se as leis não são justas,
lutemos para mudá-las. Enquanto isso, e apesar de tudo, são leis. Feitas para
serem respeitadas. Respeitemo-las, em
prol da democracia e da ordem social. Lutemos todos os brasileiros por um país
que não seja da Copa do Mundo ou das Confederações, mas que seja um país sério,
decente e íntegro para seu povo. Busquemos o que é correto e ético, sem jamais
perder de vista o que é legal. Esse é nosso dever de casa. Exercício pleno e
contínuo de cidadania.
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