sábado, 4 de maio de 2013

Descurtindo o Facebook


Poliana estava injuriada. Que semaninha desagradável tivera de suportar. Não bastasse a impertinência crônica de Imprensa Livre, que pelo menos parecia já um tanto domesticada nos últimos tempos, agora precisava se preocupar com as repulsivas redes sociais. Quanta gente desocupada nesse reino. E quanto acesso fácil à internet. Maldita inclusão digital! Quando Poliana ousara na compra de um computador por aluno e educador, pensara na inclusão de dígitos na sua popularidade e como bônus, se possível, alguns dígitos superfaturados nas contas de seu clã. Não contava com o efeito colateral dos acessos fáceis a informação não controlada. Poliana se indignara com tantas homenagens aos mais de noventa anos de seu reino. Com tanta informação maciça, seu arrebanhado povo, acabaria se dando conta de que o reino não começara com chegada de Poliana ao poder, e isso era inadmissível. A rainha e sua trupe gastaram mais de quatro anos, muitos recursos públicos e milhares de propagandas, vendendo a fantasiosa ideia de que antes de Poliana só existia o desesperado e desolador deserto, a tristeza, a miséria e a doença. Sua alteza, a salvadora dos desesperados, emergira do lixo como esfinge para trazer o progresso e a salvação a esse povo abandonado e esquecido por Deus. Mas as fotos antigas, cansativamente expostas no odioso facebook, contrariavam Poliana. Que desgraça, não existia photoshop há mais de meio século! As imagens eram claras, havia ruas no reino há noventa anos! Algumas menos esburacadas que as atuais. Nem os buracos nas avenidas foram obras de meu reinado, pensa Poliana contrariada. O Castelo também já estava lá. No que depender da rainha, não estaria por muito tempo, já que seu projeto inovador de tombamento previa que o mesmo ruísse antes do término de seu progressista reinado. Poliana odiava velharias. Era uma socialista moderna. Idolatrava, como todo socialista que se preze, as obras do bom e velho Niemeyer. Mas, justiça seja feita, não havia paralelas naquela época. Apenas perpendiculares. As paralelas, essas sim, eram obra de Poliana. Paralelas um tanto tortas e cheias de intersecções, mas obras de sua majestade e de seu clã, com certeza. Se existiam praças no passado, não havia sequer uma academia ao ar livre. Havia flores também, nas malditas fotos. Mas eram florzinhas mequetrefes. E todas em preto e branco. Nada do maravilhoso e colorido projeto de revitalização permanente de seu reino com a inclusão de gerânios no lugar de esgoto, asfalto e remédios.
O fato é que essa exposição pública do passado de seu reino nas redes sociais prejudicava a imagem da salvadora e criadora absoluta, Poliana. A rainha e sua vasta corte precisavam tomar providências para o próximo aniversário. Talvez um projeto de controle das redes sociais também. Uma campanha maciça e popular. Nada de fotos antigas no facebook. Apenas fotos de comida. Não se deve cultuar o passado. Poliana, a visionária, preferia seu povo olhando apenas seus magníficos banners. A realidade virtual era muito mais elegante e prazerosa, se fosse bem controlada.  Cabrestear convicções e amordaçar rebeldias eram a nova ordem e ideologia de Poliana e sua trupe. Tudo em favor da neodemocracia socialista. Só restava aos internautas entenderem e curtirem essa lógica.

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